Mikhail Gorbachev foi lembrado no Ocidente hoje (31) como um estadista imponente que ajudou a acabar com a Guerra Fria, mas sua morte recebeu uma resposta fria na Rússia, envolvida em uma guerra com a Ucrânia para recuperar parte do poder que perdeu com o colapso da União Soviética.
Gorbachev, o último líder soviético, morreu aos 91 anos em um hospital de Moscou ontem (30), após dois anos de doença grave.
Em seis anos inebriantes entre 1985 e 1991, ele firmou acordos de redução de armas com os Estados Unidos e parcerias com potências ocidentais para remover a Cortina de Ferro que dividia a Europa desde a Segunda Guerra Mundial e promover a reunificação da Alemanha.
Mas suas reformas internas, combinando liberalização econômica e política, ajudaram a enfraquecer a União Soviética (URSS) a ponto de desmoronar – um acontecimento que o presidente Vladimir Putin certa vez chamou de “maior catástrofe geopolítica” do século 20.
O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou Gorbachev de “um homem de visão notável” e, como outros líderes ocidentais, enfatizou as liberdades que ele introduziu, as quais Putin vem acabando constantemente.
“Como líder da URSS, ele trabalhou com o presidente (Ronald) Reagan para reduzir os arsenais nucleares de nossos dois países… Após décadas de repressão política brutal, ele abraçou as reformas democráticas”, disse Biden. “O resultado foi um mundo mais seguro e maior liberdade para milhões de pessoas.”
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Putin levou mais de 15 horas para publicar texto de um telegrama de condolências no qual ele afirmou que Gorbachev teve um “enorme impacto no curso da história mundial” e “compreendeu profundamente que as reformas eram necessárias” para enfrentar os problemas da União Soviética nos anos 1980.
O presidente francês, Emmanuel Macron, chamou Gorbachev de “um homem de paz cujas escolhas abriram um caminho de liberdade para os russos”.
A ex-chanceler alemã Angela Merkel, que cresceu na Alemanha Oriental governada pelos comunistas, disse que temia que a Moscou de Gorbachev esmagasse um levante contra o regime comunista em 1989, como havia feito em outras partes da Europa Oriental nas décadas anteriores. “Mas… não houve nenhum tanque, nenhum tiro foi disparado.”
Em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia, o sucessor de Merkel como chanceler, Olaf Scholz, abandonou décadas de calmas para tornar a postura externa e de defesa da Alemanha muito mais ousada.
Enquanto os meios de comunicação ocidentais publicaram longas reportagens, a mídia russa estava muito menos interessada na morte de Gorbachev.
O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, disse em um fórum educacional que o “romantismo” de Gorbachev sobre a reaproximação com o Ocidente foi mal colocado. “A sede de sangue de nossos oponentes se mostrou”, disse ele.
Segundo a agência de notícias Interfax, o Kremlin afirmou que não foi decidido se Gorbachev receberia um funeral de Estado.
NOBEL DA PAZ
Após décadas de tensão e confrontos da Guerra Fria, Gorbachev aproximou a União Soviética do Ocidente mais do que em qualquer momento desde a Segunda Guerra Mundial.
Mas ele viu esse legado naufragar nos últimos meses de sua vida, quando a invasão da Ucrânia provocou sanções ocidentais contra Moscou, e políticos na Rússia e no Ocidente começaram a falar de uma nova Guerra Fria.
“Gorbachev morreu de forma simbólica quando o trabalho de sua vida, a liberdade, foi efetivamente destruído por Putin”, disse Andrei Kolesnikov, membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace.
Gorbachev ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1990.
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