Mikhail Gorbachev foi o último líder da União Soviética e governou como Secretário-Geral do Partido Comunista de 1985 a 1991. O político faleceu ontem (30), aos 91 anos, e deixou como legado um conjunto de reformas que culminaram no fim da URSS e na transição dos países para o regime capitalista, embora essa não fosse a intenção inicial do socialista.
“É muito importante destacar que Gorbachev não tinha a intenção de fazer a transição da economia da URSS. O que ele queria era fomentar o desenvolvimento do regime nos padrões anteriores. A União Soviética chegou a crescer 12% ao ano, mas reduziu gradualmente o avanço ao ponto de chegar a 3% nos anos 1980”, diz Carlos Albuquerque, pesquisador da USP.
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Gorbachev ficou conhecido por suas duas políticas principais, a Perestroika (reconstrução do modelo econômico) e a Glasnost (liberação e transparência das comunicações). “Com suas reformas, ele tentou transformar a União Soviética em uma economia mais aberta e tolerante”, afirma Carlos Honorato, economista e professor da FIA Business School.
No entanto, o legado do político russo pode ser visto como contraditório. O professor explica que, enquanto o Ocidente o considera como um agente libertador da União Soviética, os russos muitas vezes o vêem como um líder fraco que permitiu que o regime soviético se desmanchasse.
“O próprio [Vladimir] Putin diz que a queda da União Soviética foi um dos maiores desastres do século 20, porque ela desestruturou todo aquele modelo que, apesar de se mostrar ineficiente, segurava a Rússia na posição de segunda maior potência do mundo”, diz Honorato.
Quando Mikhail Gorbachev estava no poder, as repúblicas socialistas estavam atrasadas em relação aos países do Ocidente em termos de tecnologia e modernização de produtos e serviços. A ineficiência operacional dificultava a competição internacional e impunha dificuldades à URSS, segundo o professor da FIA.
Abaixo, veja as cinco principais reformas de Mikhail Gorbachev:
1. Abertura da economia
Segundo Albuquerque, o modelo político e econômico soviético era excessivamente burocrático por concentrar todas as decisões nos líderes do partido socialista. Isso causava ineficiência e atraso nas decisões cotidianas. “Desde decisões sobre a extração agrícola até a produção e comercialização dos produtos finais dependiam do Estado”.
Gorbachev então deu autonomia para os agentes econômicos e começou a liberar setores de mercados para negociações internacionais. O objetivo não era chegar a um livre mercado, como o das economias ocidentais — onde trocas comerciais podiam acontecer sem a interferência do Estado — mas resultou em um mercado regulado [que obedece a regras criadas pelo Estado] com o passar do tempo.
2. Renovação da liderança e eleições independentes
As alas mais conservadoras do regime socialista não gostaram do processo de abertura gradual, o que gerou crises internas. Albuquerque explica que foi necessário então que Gorbachev começasse a mudar as lideranças para nomes que apoiassem suas reformas. A tensão interna se tornou mais urgente que as tensões internacionais.
“A partir de 1987, começa um processo de radicalização da reforma política e o Estado passa a incentivar a participação popular em organizações de comitês regionais. Passam a acontecer eleições independentes em setores específicos”, conta o professor da USP. No futuro, esse movimento culmina no fim do monopólio do Partido Socialista.
3. Abertura da imprensa e fim da censura
Com as tensões internas causadas pelas reformas, o governo de Gorbachev também buscou a aprovação popular para suas mudanças. Para isso, ele retirou a censura da imprensa e de produções culturais.
“A principal intenção naquele momento era conseguir apoio popular e promover a ideia de que as mudanças eram em busca do bem-estar da população”, diz Albuquerque.
4. Acordo para fim de testes nucleares
Mikhail Gorbachev conheceu grande parte dos países da URSS, assim como os países ocidentais. O pesquisador da USP conta que isso era um diferencial porque ele entendia que a União Soviética não era perfeita como pregava o Partido Socialista, assim como os países capitalistas não eram um terror.
“Além de ter essa visão externa mais ampla, existia um interesse pragmático em encerrar as disputas da Guerra Fria. A corrida armamentista comprometia 20% do orçamento público e dificultava a liberação de recursos para os esforços que Gorbachev queria promover na economia”, diz Albuquerque.
Para iniciar um processo gradual e não incitar a ala conservadora do partido, o primeiro acordo importante com o Ocidente foi o assinado com os Estados Unidos para encerrar os testes com armas nucleares e promover um controle de mísseis.
5. Não interferir na dissolução do bloco
Quando Gorbachev assumiu a liderança da URSS, ela era formada por 15 repúblicas da Europa e da Ásia, e se estendia desde a Ucrânia até a Letônia e o Tajiquistão.
“O movimento mais radical de Gorbachev foi o de não intervir nos processos de dissolução dos regimes socialistas de países do Leste Europeu. Existia uma grande preocupação desses países e do Ocidente de que a URSS iria impedir a transição com o avanço de tanques e repressão. Mas Gorbachev optou por não interferir”, conta o pesquisador da USP.
Em 1989, começou o movimento de liberação do Leste Europeu que culminou na queda do Muro de Berlim em 1991.
Nobel da Paz
Em 1990, Mikhail Gorbachev foi laureado com o Nobel da Paz pelo protagonismo nas iniciativas que levaram ao fim da Guerra Fria. Para Albuquerque, o prêmio foi resultado de todas as iniciativas iniciadas em 1985 com a abertura econômica até a tolerância com a dissolução dos regimes socialistas.
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