A estreia da Multilaser (MLAS3), agora Multi, na Bolsa de Valores foi bem vista pelo mercado a princípio. Com ação precificada a R$ 11,10 no IPO, a empresa registrou forte alta (+16,65%) no primeiro dia de negociações, em 22 de julho de 2021.
No entanto, o cenário mudou e os papéis acumulam queda de 55,24% desde a abertura de capital. Eles eram negociados a R$ 4,98 no fechamento do pregão de ontem (16).
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Em entrevista à Forbes Brasil, o CEO da Multi, Alexandre Ostrowiecki, explica que essa queda foi reflexo de um período desafiador para o varejo, mas que as expectativas a curto e médio prazo são de crescimento.
O executivo, inclusive, menciona que a companhia, que começou em 1987 vendendo cartuchos, agora aposta em veículos elétricos, provedores de internet e drones para impulsionar esse movimento.
“O IPO foi, sem dúvidas, um importante passo para a nossa trajetória. Olhando para este ano, passamos por um semestre conturbado para as varejistas, mas acredito em uma retomada gradual do setor”, diz Ostrowiecki, que ressalta que, apesar das quedas dos papéis, a Multi cumpriu as metas de vendas e lucros, mas foi inevitável que a renda variável fosse pressionadas pela alta dos juros.
“Não veremos um ‘boom’ de compras, mas certamente será um período melhor para as nossas vendas. Vamos continuar crescendo nossa base com novos produtos, o que é mais um ponto positivo para o nosso crescimento”, complementa o CEO.
Visando essa expansão, a Multi investiu R$ 10,5 milhões no começo do ano para adquirir a Watts, startup fundada em 2018 com a proposta de “inovar o conceito de mobilidade” por meio de produtos sustentáveis livres de emissões de carbono.
A ideia, segundo o executivo, é fazer com que a empresa, que já vinha investindo há anos em uma linha de bicicletas e patinetes elétricos, tenha uma posição privilegiada no setor de mobilidade elétrica no Brasil.
“Essa nova aquisição trará grandes novidades para nós. No final de outubro, vamos lançar uma moto elétrica, que será uma das primeiras no Brasil. Estamos super animados com esse mercado que, inclusive, vem avançando em todo o mundo. Certamente será importante para os nossos futuros resultados”, complementa o CEO.
Agora, Multilaser é apenas Multi
Em julho, a companhia anunciou seu rebranding (reestruturação de marca) e, desde então, passou a se apresentar ao mercado como “Multi”.
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Para isso, a companhia investiu R$ 100 milhões na construção de uma nova logomarca e campanhas exclusivas, além de estratégias de marketing focadas em suas redes sociais e influenciadores digitais.
Segundo o CEO, a novidade tem como objetivo reforçar a presença multicanal do grupo no mercado: “Esse movimento é essencial para reforçar o nosso nome. Com isso, também queremos gerar mais valor ao consumidor, que busca cada vez mais o melhor custo-benefício.”
Lucro líquido cai no 2º trimestre
Após o fechamento do pregão de segunda-feira (15), a Multi informou seus resultados do segundo trimestre. No período, a empresa registrou um lucro líquido de R$ 55,6 milhões, queda de 72,5% na base de comparação anual, impactado, segundo a empresa, pelo efeito contábil de R$102 milhões de variação cambial líquida.
A receita líquida apurada foi de R$1,2 bilhão, crescimento de 20,3% ante o resultado apresentado no último trimestre, e de 1,2% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro bruto da empresa foi de R$ 317,7 milhões, 14,5% maior do que o apurado no trimestre anterior.
“Os resultados positivos foram alcançados principalmente pelo nosso desempenho nas linhas de redes e computadores pessoais, sendo o último alavancado pelas vendas ao governo que, assim como esperado, avançou em 17%”, acrescenta Ostrowiecki.
“Mesmo com os desafios no mercado de consumo, avalio que o segundo semestre terá um crescimento sutil e a Multi já está pronta para atender à demanda tanto dos grandes quanto dos pequenos e médios varejistas, que começam a reportar baixa em seus estoques e, claro, atenderemos também à demanda do nosso ecommerce”, complementa Ostrowiecki.
A visão dos analistas sobre o desempenho das ações
Para a XP Investimentos, a receita líquida compensou o ambiente de demanda ainda desafiador devido ao cenário macroeconômico.
“Esse ambiente amarga as ações, como temos visto desde o IPO da empresa. Todo o viés de alta da inflação e do ciclo de juros aumenta uma maior aversão a risco por parte dos investidores”, explica Danniela Eiger, head de varejo da XP.
Apesar disso, a corretora mantém uma perspectiva positiva para o papel. “A gente tem recomendação de compra. Eles já sinalizaram uma visão positiva para o segundo semestre, que vai de acordo com o que também temos observado nas outras varejistas, como Magazine Luiza e Americanas, que inclusive são clientes deles”, complementa a especialista.
Eiger também acrescenta que alguns eventos irão ajudar o setor, como a Copa do Mundo e a Black Friday. “Tudo isso traz uma dinâmica favorável para a performance nos próximos trimestres, mas é preciso ficar atento às volatilidades da Bolsa em época de eleições”.
Henrique Tavares, analista da DVinvest, acrescenta que a empresa tem uma base de produtos interessante, o que faz o negócio ser atrativo para o investidor que está disposto a correr um risco de crescimento.
“No fim das contas, essa queda dos preços das ações deixam os papéis ainda mais atrativos e acaba diminuindo um pouco o risco em relação ao potencial de retorno, mas ainda assim o momento atual não é muito favorável. É importante, antes de mais nada, que o investidor acompanhe a evolução das margens e do crescimento”, ressalta Tavares.
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