Uns anos atrás, eu participei de uma prova de corrida em Tóquio. Lá, vi algo interessantíssimo: as pessoas que organizam a entrada e a saída das pessoas nas cabines do metrô conversam com elas mesmas. Elas se dizem o que têm de fazer para ordenar aquela multidão que todos os dias usa o metrô. Aquilo parece funcionar muito bem.
Eu também falo comigo mesmo em muitos momentos do meu dia, especialmente quando estou com um problema para resolver. Ao verbalizar os meus pensamentos para mim mesmo, eu consigo dar ordem a eles, esclarecer as minhas ideias, treinar os meus argumentos. Como quando, por exemplo, eu tenho reuniões importantes.
Quando falamos em voz alta conosco mesmos, de alguma maneira desaceleramos os nossos pensamentos. Todo mundo já se pegou sendo bombardeado por ideias, especialmente próximo a um evento importante da vida pessoal ou profissional. Esse diálogo conosco não apenas afina o foco como nos ajuda a processar os nossos sentimentos.
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Outra vantagem é a redução do estresse. Dizermos a nós mesmos algo como “calma e/ou respire” tem um efeito calmante, principalmente quando as coisas tomam um rumo que não prevíamos.
O efeito motivacional dos monólogos conosco mesmos já foram estudados em atletas. Pergunte a um esportista se no meio de uma prova ele não conversa consigo mesmo como uma forma de se auto motivar? Alguns atletas, inclusive, têm uma espécie de mantra, que repetem ao longo da prova ou nos minutos finais dela. Alguns estudos já mostraram que essa prática ajuda a reduzir a chamada ansiedade competitiva, resultando num aumento de desempenho.
Durante as provas de que participo, eu digo para mim mesmo quantos quilômetros eu já cumpri. É uma estratégia que desenvolvi e que, de alguma forma, eu vejo, reforça o lado positivo de eu já ter completado aqueles quilômetros todos, ao invés de eu me queixar a mim mesmo que ainda falta um bom pedaço para finalizar a competição.
Cada pessoa certamente tem a sua maneira de conversar consigo mesma ou vai descobrir, com a prática, o que funciona e o que não funciona para ela. Mas vale a pena tentar. É normal e extremamente benéfico à saúde mental.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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