Como uma crise entre EUA e China afetaria o mercado brasileiro?

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A visita foi vista como uma provocação pelo governo chinês.

As tensões geopolíticas sempre estiveram presentes no cotidiano dos mercados do mundo todo. No entanto, nos últimos meses, o cenário vem se tornando cada vez mais desafiador. 

A visita à Taiwan da Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, foi vista pelo governo chinês como uma provocação e os ânimos entre Pequim e Washington estão mais acirrados. 

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Apesar de Taiwan ser governada de forma autônoma desde a guerra civil de 1949, a China a considera uma dissidência a ser combatida mediante a retomada de um território que o governo chinês entende como sendo parte do país. Por outro lado, os laços econômicos dos Estados Unidos com Taiwan sinalizam um apoio velado às forças separatistas. 

De 1954 a 1979, existiu um tratado de defesa mútua entre Taiwan e Estados Unidos, que previa ajuda militar norte-americana em caso de tentativa chinesa de retomada do território. Apesar de este tratado ter deixado de existir no início de 1980, quando os Estados Unidos retomaram relações diplomáticas com a China, há todo um debate jurídico sobre preservação de algumas partes do acordo na atual Lei de Relações com Taiwan, aprovada ainda nos anos de 1980. 

Além disso, foi divulgado em junho deste ano um acordo entre EUA e Taiwan denominado “Iniciativa EUA-Taiwan no Comércio no Século 21”, o que torna o imbróglio ainda maior e, por trás dele, existe a atual preocupação norte-americana com os abalos ao mercado global de tecnologia. 

Atualmente, Taiwan é responsável por 90% da produção mundial de chips e semicondutores que abastece gigantes como Apple, Nvidia e Sony, entre outros. 

Alguns analistas econômicos estão vendo o momento como um “rinoceronte cinza”. A expressão foi cunhada por Michele Wucker, em obra com mesmo nome, em que define o evento como ameaças altamente prováveis, de alto impacto, mas negligenciadas. 

Ao contrário de um “cisne negro”, que é imprevisível, um “rinonceronte cinza” é aquele tipo de evento que todos sabem que pode acontecer, sabem que se acontecer causará danos enormes, mas ninguém faz nada com a devida antecedência para evitar. 

De forma análoga, é o freio do seu carro, falhando e fazendo um barulho estranho, mas que você vai deixando passar, até o dia em que fica sem freio numa ladeira. Nancy Pelosi em Taiwan pode ser o carro sem freio na ladeira de um mercado global já combalido por eventos macroeconômicos complexos.

O mundo vive as consequências da guerra em curso entre Rússia e Ucrânia, com crise de abastecimento nas cadeias produtivas, crise energética e o rescaldo econômico da pandemia produzindo as maiores taxas de inflação das últimas décadas. Em um cenário assim, o acirramento de tensões EUA-China deixa os mercados em alerta. 

Ainda não é possível prever os desdobramentos dessa crise entre China e Estados Unidos. A reação das bolsas do mundo todo, inicialmente, foi de queda, pois a interferência norte-americana no que a China considera uma questão interna pode gerar demonstrações de força entre as duas potências, cujo preço será alto para o mercado global, dada a importância econômica dos dois países.

E quais seriam as consequências de uma crise EUA-China  para  o mercado brasileiro?

Quaisquer riscos geopolíticos sempre interferem nos movimentos de mercado, pois, em geral, os investidores ficam bem mais avessos ao risco e passam a buscar a segurança de economias fortes, como a norte-americana, elevando assim a cotação do dólar. 

Essa variação do câmbio, desvalorizando nossa moeda, impacta diretamente na inflação. Além disso, temos ainda uma questão comercial muito importante: atualmente, a China é o principal parceiro comercial brasileiro, respondendo por aproximadamente 30% de tudo o que o Brasil exporta. 

Uma desaceleração da economia chinesa decorrente de tensões políticas e comerciais com os Estados Unidos teria efeito direto na nossa balança comercial, além de impactar também o preço das commodities. 

Como o investidor brasileiro pode se proteger? 

A Bolsa de Valores brasileira, a exemplo das demais, tende a ter maior resiliência entre os setores perenes da economia, como por exemplo, energia, bancos e seguradoras.

Se você investe também no exterior, neste momento pode avaliar a possibilidade de trazer para sua carteira as ações de empresas boas pagadoras de dividendos, priorizando setores resilientes e essenciais à economia em momentos de crise. 

Defina sua estratégia, e caso tenha alocado um patrimônio considerável, pense em proteção de carteira através de ativos descorrelacionados, como opções, índices, etc. Além disso, respeite os limites de sua estratégia. 

Uma carteira de longo prazo, em que você tenha estruturado alocações em torno de um planejamento claro, deve se manter fiel ao plano. E os investimentos de curto e médio prazo, além de adequação ao planejamento, precisam também considerar a relação entre custo e benefício a fim de compreender se alguns ajustes para uma postura mais defensiva são ou não necessários. 

Se você tem uma parte na sua carteira no mercado internacional, precisa, antes de qualquer outra coisa, ter confiança quanto ao seu perfil de investidor e saber até onde a volatilidade que o mercado poderá enfrentar será confortável para você. 

Caso necessário, não hesite em interromper uma rota, mesmo que isso signifique, eventualmente, assumir um prejuízo. Avalie o custo de oportunidade de manter seu dinheiro atrelado a ativos mais voláteis em cenários de instabilidade enquanto aguarda uma possível retomada.

Investimentos existem para lhe dar tranquilidade e não para tirar o seu sono. Sempre estivemos sob alguma crise e a tendência é que elas sejam cada vez mais frequentes e aconteçam em intervalos menores, já que a densidade populacional traz ao mundo uma dinâmica pautada pela mudança o tempo todo. 

Dessa forma, a única maneira de se blindar contra as crises é estruturar sua carteira dentro dos limites do seu apetite ao risco. Fazendo isso, os ruídos e instabilidades do mercado não desestabilizarão sua vida. 

Você contará com a tranquilidade de quem entende o porquê de cada ativo existente na carteira e qual o limite aceitável de perdas para que ele permaneça ou saia do portfólio. 

Essa conduta será o seu passaporte para atravessar ciclos econômicos e, independentemente de crises geopolíticas, atingir as metas estabelecidas para sua vida financeira. 

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