Guerra na Ucrânia, risco de recessão global e redução do fornecimento de gás da Rússia para a Europa. Esses são alguns dos movimentos geopolíticos e econômicos que interferem no preço do petróleo, que apresenta tendência de queda na média anual.
Pedro Rodrigues, diretor e sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), explica à Forbes Brasil que esse cenário gera uma diminuição do consumo da commodity e, consequentemente, traz um excesso de oferta, o que reflete na queda do preço.
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“O risco de recessão faz com que a curva futura do preço do petróleo caia e, de certa forma, também se mantenha em um nível de estabilização, que está em um patamar constante abaixo de US$ 105″, diz o especialista.
A tendência para o preço do petróleo a curto prazo e longo prazo, segundo Rodrigues, segue sendo de baixa. “Eu acredito que, na média anual, o valor do barril consiga ficar abaixo de US$ 100 por conta de todo o cenário que estamos vendo na economia global. No longo prazo, essa tendência segue o mesmo caminho de queda.”
Em relatório publicado pelo Citi no início do mês passado, o estrategista Francesco Martoccia projetou uma considerável correção dos preços da commodity caso o cenário de recessão nos Estados Unidos se concretize.
“As recessões provocam uma queda na demanda de commodities, gerando excedentes. Esses excedentes geram um recuo dos preços até que a oferta seja reduzida, ficando abaixo dos custos de produção para restaurar o equilíbrio”, apontou Martoccia.
“Durante as recessões, os custos de produção tendem a cair, na medida em que os preços de energia são um importante fator de custo para outras commodities, criando um processo de queda pró-cíclico para os preços”, escreveu o analista.
Uma queda considerável na demanda de petróleo geraria estoques maiores e preços mais fracos para o produto. Para o estrategista do Citi, os preços do barril de petróleo podem ir além, chegando a US$ 65 até o fim deste ano e US$ 45 no fim de 2023.
“Essa previsão não considera possíveis intervenções da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados) e depende da queda do investimento petrolífero de ciclo curto”, finalizou Martoccia.
A “idade do petróleo” não acabou
Atualmente, o mundo tem diminuído a sua dependência do petróleo, reflexo de fatores ambientais. “Com esse pensamento, países como Estados Unidos, Alemanha e até mesmo o Brasil estão olhando para saídas tecnológicas para conseguir diminuir essa dependência”, explica Rodrigues.
“No entanto, apesar disso ser uma tendência, não é algo que acontecerá do dia para a noite, ainda irá demandar um tempo até que nos tornemos menos dependentes da commodity — o que, consequentemente, também gerará um preço mais barato.”
De acordo com o especialista, fora da indústria, o raciocínio acaba tendo dois extremos, com pensamentos indo de “o petróleo é a commodity mais importante do mundo” a “o petróleo vai acabar”.
“Tem uma frase do Sheik Yamani, ex-ministro do petróleo da Arábia Saudita, que diz que ‘a idade da pedra não acabou por falta de pedra, e a idade do petróleo não acabará por falta de petróleo’. Apesar de novas tecnologias serem descobertas, ainda vai existir petróleo e ainda vamos conseguir muita coisa dele, mesmo quando nos tornarmos menos dependentes da commodity”, finaliza Rodrigues.
Apesar dos pesares, visão do mercado é positiva
Em relação ao desempenho das petrolíferas no mercado, Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, diz que o resultado da Petrobras (PETR3; PETR4) deu um pontapé para uma visão positiva para a maioria das petrolíferas, pelo menos em um curto e a médio prazo.
Os resultados refletem o cenário do período, quando o preço do barril do petróleo tipo Brent, referência para a estatal, registrou alta de 12,2%.
“Os preços de petróleo desse período estimulam o balanço e o resultado corporativo dessas empresas, como também foi visto na PetroRio (PRIO3), que dobrou o lucro. Com isso, acredito que a 3R Petroleum (RRRP3) também irá ter balanços fortes, impactando positivamente o desempenho das ações.”
Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, complementa que, no mercado acionário, as ações das petrolíferas são diretamente impactadas pelo preço da commodity. “Isso ocorre por conta das companhias dependerem do preço da matéria-prima para determinar o preço da empresa, já que a receita é diretamente afetada por esse valor.”
Varejão ressalta que a maioria dos analistas do mercado são otimistas com a visão a médio prazo para as ações de petrolíferas e para o preço do petróleo, apesar do cenário recessivo pressionar a projeção da matéria-prima. “Nas nossas projeções, uma tendência de queda não será vista a médio prazo.”
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