Fotos e vídeos sem filtros e que expressem, de fato, a realidade. A proposta da BeReal, plataforma criada na França em 2020 por Alexis Barreyat e Kévin Perreau, é ir na contramão das duas maiores redes da atualidade: Instagram e TikTok. Nos últimos meses, o BeReal vem aparecendo nas listas dos apps mais baixados nos Estados Unidos. A plataforma só permite a publicação de uma foto por dia e em um horário incerto motivado por uma notificação.
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Nas buscas do Google, BeReal aparece em alta expressiva nos últimos dias no Brasil. A plataforma também ganhou projeção, principalmente para os públicos não diretamente associados a ela, em função das discussões recentes em torno da concorrência entre o TikTok e o Instagram. Somente em 2022, a rede já apresentou crescimento de quase 400% em números de usuários chegando a quase 3 milhões de pessoas.
“BeReal desafiará sua criatividade permitindo que você mostre a seus amigos quem você realmente é”, diz o anúncio oficial da rede. O próprio texto que apresenta a plataforma reforça que não tem a pretensão de tornar-se grande como Instagram e TikTok. No passado, outras redes surgiram com essa mesma proposta, em 2016, Orkut Buyukkokten, criador do Orkut, lançou a Helloo, rede que nasceu com o objetivo de blindar os usuários de conteúdo nocivo como violência. Em maio deste ano, inclusive, Orkut chegou a dizer que estava construindo algo novo que poderia culminar, inclusive, no ressurgimento da plataforma.
O grande ponto, no entanto, sobretudo quando a relação é sobre audiência e negócios, recai no seguinte questionamento: como uma rede com tantas restrições pode ganhar escalar? De acordo com Gal Barradas, COO e General Director da Spark, como toda plataforma nova, é difícil prever qual será o ritmo do seu crescimento e, até mesmo, como será seu modelo de negócio. “De um modo geral, os conteúdos que se aproximam mais da ‘vida real’, com naturalidade, autenticidade, trazem mais engajamento. No Brasil, pelas características do povo brasileiro – hiperconectado, engajado e experimentador – acredito que a plataforma seguirá num bom ritmo de crescimento.”
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Para Camila Porto, diretora de atendimento da MField, a proposta do BeReal é trazer cada vez mais a realidade como ela é. “Nesse mundo onde quase tudo é montado, é válido ter a intenção de acompanhar o momento exato das pessoas, sem o tempo da produção ou alterações dos filtros. Acredito ser uma proposta de aproximação da verdade, de forma ágil e autêntica. E nesse sentido a rede social se mostra até mais inclusiva e acessível, principalmente por não apresentar funcionalidades que complicam seu uso. Porém, há pontos de atenção que devemos considerar, essa criação de conteúdo pode e deve ser mais pensada, mas para que conte uma história que cative o público de forma genuína. Acredito que no futuro teremos cada vez mais canais com a proposta, e é uma boa tendência para acompanharmos o crescimento.”
“Eu vejo a BeReal como uma alternativa para quem não quer ser impactado por conteúdos de digital influencers. Diante disso, o usuário da BeReal tem acesso a um espaço mais intimista e exclusivo para seguidores que tem esse interesse em postagens mais reais, sem toda uma glamourização que existe em grande parte do que consumimos nas redes sociais. Acredito que o boom possa estar relacionado às mudanças anunciadas pelo Instagram recentemente, já que a proposta da BeReal se assemelha ao que conhecíamos do Insta na época em que a rede foi lançada. Em contraponto a isso, há uns anos, se tornou comum usuários terem contas fechadas no Instagram só com amigos próximos, para compartilhar uma rotina sem filtros, roteiros, e sem nenhuma busca por likes ou qualquer tipo de engajamento, os chamados “dix’s”, comenta Felipe Filippelli, diretor comercial da Banca Digital.
Demanda por marcas e influenciadores
Mari Galindo, fundadora da Nice House e especialista em conteúdo para Geração Z, explica que, até o momento, não há, por parte das marcas e criadores uma demanda alta pela plataforma. “Principalmente porque a principal proposta de valor do BeReal quebra o core da indústria que movimento atualmente as marcas e os criadores. Fazendo um paralelo, é como você ser uma banda de rock querendo entrar no quarto do silêncio, o BeReal é o quarto do silêncio, quem gosta e se beneficia do barulho, nesse momento sente o choque.”
“Acho a proposta da plataforma quase um manifesto, em um mundo onde o tempo de consumo das redes só cresceu nos últimos anos, uma rede social que te incentiva a não consumir muito e não entrar em uma lógica de te tornar um produto de mídia, é contraditória. Eu faço a leitura de BeReal por dois ângulos: existe parte da geração Z que tem como escolha de carreira ser criador de conteúdo digital, ser um tiktoker, YouTuber, esse público enxerga nas plataformas de short video uma possibilidade de se inserir nesse mercado, mesmo que de forma informal. Porém existe o lado pessoal, a essência da rede social de te conectar com pessoas e expressar opiniões e sentimentos, apenas pelo que eles representam, longe de uma ótica midiática, nesse aspecto acredito que o BeReal atende uma demanda, pois ele rompe com o padrão estético criado pelo instagram e quebra a lógica de criar base de fãs, comunidade e , milhões de seguidores.”
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