A produção de carne bovina do Brasil deverá terminar 2022 com 8,115 milhões de toneladas (equivalente carcaça), o menor patamar em mais de 20 anos, enquanto as exportações devem avançar para novo recorde, de acordo com projeções publicadas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) hoje (1).
Uma menor produção de carne bovina está relacionada, em parte, a um movimento de retenção de matrizes pelos pecuaristas, que buscam aumentar a criação para aproveitar os bons preços pagos pelos bois nos últimos anos. Dessa forma, menos vacas vão para o abate, o que sustenta as cotações.
“Quando tem o aumento do preço do boi, em primeiro momento, reduz a oferta, há retenção de matrizes de gado, para aumentar a produção em período subsequente”, disse o diretor de Informações e Política Agrícola da Conab, Sérgio de Zen.
Ele avalia que daqui a dois ou três anos a produção de carne bovina volta a crescer. “Ela já está voltando…”, comentou.
De Zen, também professor da Esalq/USP e especialista no mercado pecuário, comentou também o impacto da conversão de pastagens para a agricultura, a limitação para abertura de novas áreas para criação de animais e os desafios tecnológicos do setor para aumentar a produtividades numa escala que possa atender a demanda.
“O produtor eficiente, moderno, ele não pode de forma alguma contar com abertura de novas áreas, ele fica restrito, e busca a otimização dessa área, ou seja, o aumento da produtividade”, afirmou lembrando que, de outro lado, houve muita conversão de áreas de pastagens para a produção de grãos, como soja e milho, por exemplo.
Ele observou também uma crescente adoção do sistema produtivo de integração lavoura-pecuária, o que vai colaborar para que, no longo prazo, haja maior eficiência do uso da terra e maior produção.
De Zen disse que o setor de pesquisa precisa ainda encontrar pastagens não somente mais produtivas, mas que também pastos que tolerem mais os períodos frios.
Em nota, a Conab também citou a demanda no mercado interno desaquecida como fator de pressão para a produção.
A disponibilidade de carne bovina per capita deve ficar em torno de 25 quilos por habitante/ano, a menor de uma série histórica iniciada em 1996. A oferta per capita já chegou atingir máxima de 42,8 kg/habitante/ano, em 2006.
Exportação
O mercado interno deve abocanhar cerca de 65% da produção de carne bovina do Brasil este ano, enquanto a exportação ficará com o restante, em meio à forte demanda da China, que no primeiro semestre elevou as compras do produto brasileiro em 35%.
O Brasil, maior exportador global de carne bovina, é sede de gigantes do setor, como JBS, Marfrig e Minerva.
Conforme dados da Conab, a exportação de carne bovina pelo Brasil deve passar para 2,8 milhões de toneladas (equivalente carcaça), uma máxima histórica, versus quase 2,5 milhões em 2021, o que ajuda explicar por que os preços estão em patamares elevados, apesar da demanda interna mais fraca.
Se o processamento de carne bovina está caindo, diante de uma arroba bovina em patamares historicamente elevados, acima de R$ 300 — o que também colabora para a elevação de custos aos consumidores –, a produção de carnes de frango e suína, consideradas proteínas substitutas, tem subido nos últimos anos.
Para aves, a produção se mantém próxima a 15 milhões de toneladas, o que garante uma disponibilidade per capita de 48,6 kg por habitante/ano.
O índice, que atingiu o maior nível no ano passado chegando a 50,5 kg, deve registrar uma ligeira queda de 3% em 2022, dada a pequena redução da oferta, aumento das exportações e crescimento da população brasileira, disse a Conab.
No caso de suínos, é esperada a maior produção para a série histórica, sendo estimada em 4,84 milhões de toneladas, um acréscimo de cerca de 3% na oferta do produto quando comparado com 2021.
Esse cenário contribui para a tendência de leve aumento na disponibilidade per capita de carne suína no mercado brasileiro, saindo de 16,9 para 17,5 kg por habitante/ano, o que implica em maior oferta e pressão de baixa para os preços do produto.
Considerando as três carnes, a produção está “estável” em torno de 28 milhões de toneladas, disse a Conab.
“Mesmo com o aumento nas vendas ao mercado externo de aves e bovinos, a disponibilidade per capita de carnes no país se mantém acima de 90 quilos por ano, volume que garante o abastecimento brasileiro”, afirmou a estatal.
As exportações de carne de frango do país, também o maior exportador global desse produto, tendem a crescer 6% e podem atingir um novo recorde neste ano, ultrapassando 4,7 milhões de toneladas, segundo dados da estatal.
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