Como a queda do bitcoin afetou as mineradoras de criptomoedas

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NiseriN/Getty Images

Mineradoras que contam com fontes renováveis de energia foram menos impactadas pelo cenário atual

Desde que atingiu a sua cotação máxima de US$ 69 mil (R$ 327 mil), em novembro de 2021, o bitcoin já cedeu mais de 60%, levando consigo os lucros das maiores mineradoras de criptomoedas do mundo. Para estancar as perdas, algumas delas tiveram que vender parte das suas reservas da moeda, pressionando ainda mais os preços.

Foi o que fez a canadense Bitfarms, que também tem operações na Argentina e no Paraguai. A mineradora vendeu cerca de 3 mil bitcoins – quase metade do seu estoque – por US$ 62 milhões (R$ 334,8 milhões) em junho. O dinheiro foi utilizado para pagar parte de sua dívida com a empresa de serviços financeiros Galaxy Digital.

Leia mais: Como funciona a mineração de bitcoins?

Em um comunicado ao mercado, a empresa afirmou que a decisão não significa que ela deixou de acreditar no potencial de valorização da criptomoeda no longo prazo – pelo contrário, foi apenas uma medida para garantir a saúde financeira do negócio.

O CFO da Bitfarms, Jeffrey Lucas, afirmou à Forbes que a empresa já está de volta aos trilhos. “Mesmo com os preços atuais do bitcoin, nós conseguimos manter um fluxo de caixa positivo através do nosso uso de fontes de energia sustentáveis e baratas, e dos bons níveis de desempenho dos nossos equipamentos.”

Outras empresas, porém, não tiveram tanta sorte. A gigante Compass Mining, por exemplo, perdeu uma de suas fazendas de mineração por não conseguir pagar as contas de luz. Para conter as perdas, a empresa reduziu os salários de seus executivos e demitiu cerca de 15% dos seus funcionários.

Entendendo o contexto

A lucratividade da mineração depende diretamente do desempenho dos ativos que essa atividade produz. Afinal, as mineradoras utilizam as criptomoedas para compor a sua receita e arcar com todos os custos envolvidos na operação, como eletricidade, manutenção de equipamentos, aluguéis e funcionários.

Segundo uma estimativa do JPMorgan, o custo médio para minerar um bitcoin é de US$ 15 mil (R$ 81 mil). Nos tempos de bonança, quando o bitcoin era cotado a US$ 60 mil (R$ 324 mil), isso significava uma margem de lucro de 75%. Hoje, com o preço da moeda a aproximadamente US$ 22 mil (R$ 118,8 mil), a margem cai para 31%.

Considerando que, durante a alta das criptomoedas no ano passado, muitas empresas fizeram planos de expansão e financiaram novos equipamentos, os danos se tornam ainda mais extensos. Vender as reservas de criptomoedas se tornou uma das únicas maneiras de evitar insolvência.

Uma pesquisa da Arcane Research mostrou que, em maio, as mineradoras de bitcoin venderam mais moedas do que elas obtiveram através da mineração. No mês anterior, antes da queda mais acentuada da moeda, as vendas foram de apenas 20% dos estoques.

Entretanto, não é a primeira vez que as mineradoras enfrentam um cenário desafiador. Em 2018, o mercado de criptomoedas entrou em tendência de baixa após surgirem casos de fraude e ataques hackers a exchanges, levando o preço do bitcoin de US$ 19 mil (R$ 102,6 mil), em dezembro de 2017, para US$ 5 mil (R$ 27 mil), em novembro de 2018.

Nesse sentido, para mineradoras mais antigas, como a norte-americana Core Scientific, que foi criada em 2017, a experiência traz vantagens: “Eu já conduzi, com sucesso, empresas através de ciclos de mercado complexos no passado”, disse o CEO da mineradora, Mike Levitt, à Forbes. “Vejo o momento atual de forma semelhante.”

A Core Scientific é considerada a mineradora de bitcoin com maior poder computacional do mundo. Em junho, a empresa vendeu cerca de 7 mil bitcoins por US$ 167 milhões (R$ 901,8 milhões), reduzindo os seus estoques em aproximadamente 75%.

Na semana passada, a empresa assinou um contrato de compra e venda de ações de US$ 100 milhões (R$ 540 milhões) com a firma de investimentos B. Riley Principal, a fim de aumentar a sua liquidez e fortalecer o seu balanço patrimonial. As ações da Core Scientific (CORZ) cederam mais de 60% desde o início de maio.

“Em resposta às condições do mercado, nós estamos aumentando as reservas de caixa sempre que possível”, afirmou Levitt. “Continuamos otimistas em relação ao futuro dos ativos digitais e acreditamos que as empresas que sobreviverem a esse mercado turbulento sairão mais fortes e melhor posicionadas para competir.”

Oportunidades

Nos últimos meses, a queda nos preços das criptomoedas veio acompanhada de outros desafios macroeconômicos, como a guerra na Ucrânia, que impulsionou os custos de energia ao redor do mundo. Nesse contexto, as mineradoras que utilizam fontes sustentáveis de energia ficaram mais bem posicionadas.

Esse é o caso da brasileira Arthur Mining, que tem operações nos Estados Unidos. “Após sete anos procurando incansavelmente por fontes confiáveis, achamos através do ‘flare gas’ uma fonte que não nos dá dor de barriga cada vez que o mercado muda”, comenta Ray Nasser, CEO da Arthur Mining.

A mineradora não precisou vender seus estoques de bitcoin para mitigar perdas, e inclusive aumentou os seus investimentos em novos equipamentos. Segundo Nasser, o preço dos hardwares de mineração de bitcoin caíram até mais do que o preço da criptomoeda, abrindo oportunidades para uma expansão futura.

“Muitas empresas não sabem fazer gestão de risco, e mantêm seus balanços em bitcoin e se alavancam em dívidas em moedas estrangeiras. Isso é muito arriscado e aumenta a convexidade da carteira da empresa”, diz Nasser. “Mas a Arthur Mining sempre teve uma mitigação de risco direcional muito boa.”

A América Latina tem se destacado como uma das regiões mais vantajosas para a mineração de criptomoedas hoje, contando com baixos custos de energia e ainda pouca regulação desse mercado. Argentina e Paraguai estão entre os países mais procurados para essa finalidade; já no Brasil, os custos elevados ainda são um obstáculo.

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