A Solinftec está se preparando para desembarcar na América do Norte. A agtech brasileira fundada por um grupo de engenheiros cubanos levará seu robô de monitoramento para os Estados e o Canadá neste ano – mas o plano do CEO Britaldo Hernandez é chegar ao mercado africano.
A criação da máquina é fruto da visão “faraônica” dos fundadores da empresa e de investimentos realizados desde o final de 2016, conta Hernandez, que também é sócio do negócio.
Há cerca de duas semanas, a empresa recebeu um aporte de US$ 10 milhões (R$ 54,8 milhões na cotação de hoje) para concretizar os planos de expansão. O montante faz parte de uma rodada de investimentos na qual a empresa levantou US$ 60 milhões (R$ 328,79 milhões) para desenvolver e expandir a Solix AG Robotics, como é chamada a tecnologia desenvolvida pela agtech.
Movido a energia solar, o robô de 2,5 metros tem a capacidade de monitorar 14 milhões de plantas por semana e é recomendado para o uso em 200 hectares. Seu funcionamento acontece em conjunto com a plataforma de inteligência artificial Alice AI, lançada pela Solinftec em 2018. Hoje, ela já é utilizada em cerca de 11 milhões de hectares espalhados em países como Estados Unidos, Colômbia, Canadá e China.
A integração entre máquina e sistema dá ao robô acesso a cerca de 3,7 trilhões de dados fornecidos a partir de análises nos hectares dos 250 mil clientes que utilizam a inteligência artificial da Solinftec.
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Hernandez, de 56 anos, teve seu primeiro contato com o Brasil em 1998, quando trabalhava com o desenvolvimento da automação de indústrias de cana-de-açúcar. Durante um intercâmbio, conheceu a Cosan e a Clealco, duas grandes companhias envolvidas com a produção da commodity, e viu que o mercado brasileiro ainda tinha “espaço para se criar algo novo na agricultura”, diz.
A ideia foi a base para a criação da Solinftec e do robô que começará a funcionar no Brasil em setembro, na produção de grãos e algodão.
Para conhecer um pouco mais sobre a estratégia para a inserção do robô nos mercados do Canadá e dos EUA e sobre planos para o futuro, a Forbes entrevistou Hernandez com exclusividade. Confira:
Forbes: Qual é a principal diferença entre os mercados do Brasil e dos EUA?
Britaldo Hernandez: Por incrível que pareça, o produtor brasileiro é muito mais sofisticado do que o produtor norte-americano. Em primeiro lugar, pelo tamanho que o setor tem. Em segundo, por seu funcionamento mais institucional — nos EUA, mais de 90% dos produtores são familiares. Mas algo de lá que é melhor do que no Brasil é que as cooperativas norte-americanas trabalham com cerca de 60% de todos os produtores.
F: Qual é a estratégia que está sendo adotada para a inserção do robô nesse novo mercado?
BH: A Solinftec está se aproximando dos produtores por meio das cooperativas. E o projeto vai bem. No mundo, as cooperativas e a agricultura clássica têm uma evolução tecnológica devagar, mas aí apareceu o robô que pode ser integrado à plataforma de inteligência artificial. Agora todos estão acelerando muito rápido nos EUA.
Hoje tenho mais pedidos do que capacidade para produzir mais robôs. Temos até uma fila de interessados em pagar adiantado para receber o robô nos Estados Unidos e no Canadá. Por isso, estamos conversando com uma empresa para incrementar a produção. Ele está sendo o nosso carro chefe para atrair o produtor menor nestes mercados.
F: Por que o robô está atraindo tanto o interesse dos produtores?
BH: Ele é um robô que resolve um problema norte-americano. O produtor depende da pulverização em larga escala e, se mal-feita, resulta em perda de dinheiro. Os EUA também têm uma grande dificuldade com ervas-daninhas e nossa tecnologia ajuda a lidar com ambas as questões.
F: Como você avalia o atual momento da agricultura?
BH: Sempre acreditei que a agricultura precisa de uma mudança estrutural. Não só na maneira como manejamos os dados e informações. Precisamos de uma mudança que englobe as máquinas, químicos e o manejo da fazenda. Acho que a nossa plataforma robótica está endereçando essa questão. Quero que nos tornemos a primeira empresa a colocar no mercado um robô comercial produzido em larga escala para as culturas de grão, que são a base da alimentação mundial.
F: Vocês já pensam em expandir a tecnologia para outros países além do Brasil, Canadá e EUA?
BH: Nós precisamos emplacar o robô nos EUA e Canadá antes de pensar em outros países. Mas nós somos um pouco faraônicos e fanáticos em buscar soluções para os problemas da agricultura global.
O meu sonho, nós criamos essa tecnologia pensando nisso, é levar o robô para a África. Devemos começar a planejar esse objetivo entre o final deste ano e o início do próximo, mas é certo que desejo construir um robô específico para o continente.
Na minha cabeça, a solução global para alimentos e meio ambiente é fazer com que os países que não estão produzindo hoje passem a ter a possibilidade de produzir.
Creio que países como o Brasil e os Estados Unidos estão chegando a um limite em sua produção, mesmo com os avanços tecnológicos. Esse limite é muito diferente na África, onde qualquer tecnologia pode multiplicar a produção por cinco — e isso pode ser replicado em qualquer país da Ásia ou até da América Latina que ainda não tenha o acesso a esse tipo de tecnologia. Tenho um propósito irrenunciável: quero impactar a agricultura para melhor e ajudar a produzir mais alimentos.
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