No primeiro semestre deste ano, o Nasdaq Composite, principal índice de tecnologia dos Estados Unidos, registrou uma queda de 29,51%, segundo dados da Economatica. Foi o pior primeiro semestre da história do índice.
Se levar em consideração todos os semestres, o desempenho dos primeiros seis meses deste ano foi o terceiro pior resultado da Nasdaq. O primeiro lugar fica com o recuo de 37,71% no segundo semestre de 2000 (quando houve a bolha das pontocom) e o segundo com a queda de 31,22% nos últimos seis meses de 2008 (ano da crise financeira global).
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O índice de recibos de ações (BDRs) da Bolsa brasileira, o BDRX, também foi afetado. Desde janeiro, a carteira teórica de BDRs registrou um recuo de 29,6%, segundo dados da B3.
Cenário desfavorável
Roberto Shinkai, gerente do portfólio de renda variável do Bradesco Asset Management, destaca três fatores que prejudicaram os negócios das empresas de tecnologia na Bolsa.
O primeiro é o salto gigantesco do preço das ações depois da crise financeira de 2008. “Desde 2009 até antes da pandemia, as ações dessas mega techs registraram altas tão grandes que, mesmo com a queda durante a pandemia e neste ano, os múltiplos continuam caros”, diz Shinkai.
A Amazon, por exemplo, registrou uma valorização de 3.503% entre janeiro de 2009 até dezembro de 2019, segundo levantamento da Economatica feito para a Forbes. No mesmo período, a Apple cresceu 2.668%, Alphabet (controladora do Google) subiu 770% e Microsoft avançou 949%.
Mas as fortes valorizações diminuíram ao longo da pandemia e quedas se intensificaram neste momento “pós-pandemia”. “É um cenário duplamente ruim, com a inflação que eleva os custos e o aumento dos juros que dificulta o crescimento dessas empresas”, diz o especialista do Bradesco.
Por fim, a desaceleração econômica poderá resultar em uma recessão dos EUA. “As empresas de tecnologia são as mais afetadas por um crescimento negativo da economia. Nesse cenário, o mercado migra os seus investimentos para empresas de commodities, por exemplo, consideradas mais seguras”, explica Shinkai.
BDRs e o fator câmbio
Embora os recibos de ações acompanhem os ativos originais dos Estados Unidos, eles também são influenciados pela oscilação do dólar. Com o aumento dos juros nos EUA, a moeda do país é favorecida frente ao real e pode avançar ainda mais com o cenário eleitoral deste segundo semestre.
“Mesmo que o preço de uma ação fique estável nos Estados Unidos, se a nossa moeda continuar se desvalorizando, os BDRs vão subir porque levam em conta a valorização cambial diária” diz Cesar Crivelli, sócio e analista da Nord Research.
Durante a pandemia, por exemplo, os BDRs das big techs registraram altas maiores do que as ações originais. Enquanto as ações da Amazon registraram avanço de 27,94% entre janeiro de 2020 e julho deste ano, os BDRs da empresa subiram 71,15% por causa do efeito do câmbio.
Já a Meta Platforms caiu 14,36% no mesmo período, enquanto seus BDRs avançaram 14,90%.
Crivelli afirma que a margem de segurança para se investir nos BDRs dessas empresas é alta considerando as quedas registradas neste ano. “Na nossa visão, essas ações e seus recibos têm muito menos espaço para cair no curto e médio prazo e muito mais para subir, considerando a correção já feita nos preços”.
Somente neste ano, o BDR da Amazon caiu 29,15%, o recibo da Apple perdeu 15,68% e o da Meta se desvalorizou 47,37%.
>> Leia mais: Compra de BDRs cai em junho e chega ao menor volume do ano
Há riscos, segundo Crivelli e Shinkai, principalmente considerando que o trabalho do banco central dos EUA em aplacar a inflação está longe do fim – o que indica mais aumentos de juros pela frente.
“Não dá para dizer que os BDRs e as ações estão baratas. Eles estão passando por um processo de mudança de ciclo em que outros setores são favorecidos. Mas não quer dizer que não seja possível fazer uma seleção das empresas de tecnologia que ainda possuem resiliência para crescimento em seus negócios”, diz Shinkai.
Veja os ganhos e as perdas das ações de tecnologia e seus BDRs
Alphabet (GOOGL, GOGL35)
Ações entre 2008 e 2019: +770%
Ações durante a pandemia*: + 69,94%
Ações em 2022: -21,38%
BDRs durante a pandemia*: +124,31%
BDRs em 2022: -22,63%
Amazon (AMZN, AMZO34)
Ações entre 2008 e 2019: 3.503%
Ações durante a pandemia*: +27,94%
Ações em 2022: -26,36%
BDRs durante a pandemia*: + 71,15%
BDRs em 2022: -29,15%
Apple (AAPL, AAPL34)
Ações entre 2008 e 2019: 2.668%
Ações durante a pandemia*: +109,31%
Ações em 2022: -13,81%
BDRs durante a pandemia*: + 180,11%
BDRs em 2022: -15,68%
Meta Platforms (META, M1TA34)
Ações entre 20012 e 2019: 440%
Ações durante a pandemia*: -14,35%
Ações em 2022: -45,57%
BDRs durante a pandemia*: + 14,90%
BDRs em 2022: -47,37%
Microsoft (MSFT, MSFT34)
Ações entre 2008 e 2019: 949%
Ações durante a pandemia*: -68,45%
Ações em 2022: -22,02%
BDRs durante a pandemia*: + 124,46%
BDRs em 2022: -23,71%
Tesla (TSLA, TSLA34)
Ações entre 2010 e 2019: 1.651%
Ações durante a pandemia*: + 780,39%
Ações em 2022: -29,74%
BDRs durante a pandemia*: + 1.108,65%
BDRs em 2022: -31,35%
*período entre janeiro de 2020 e julho de 2022
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