A nova mulher de 50: profissionais maduras abrem espaço no mercado

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A apresentadora Ana Paula Padrão, do Masterchef, vem levantando o tema do etarismo e da maturidade em suas redes sociais

Em um dos episódios do seriado “Borgen: O reino, o poder e a glória”, a ex-primeira ministra da Dinamarca, Birgitte Nyborg, começa a transpirar excessivamente em uma reunião importante com a nova chefe de estado, dez anos mais jovem. Por causa do calor, Birgitte deixa a sala e vai ao banheiro se refrescar – e com isso perde parte importante da discussão. Nada se diz sobre o assunto, mas fica claro que a ministra está passando por uma típica crise de calor da menopausa. E esse é só um dos aspectos ligados ao etarismo que estão afetando sua carreira política.

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O problema é só um retrato do que acontece nas carreiras da vida real. “Enquanto os homens vão trabalhar depois de uma noite de sono tranquilo, as mulheres tiveram insônia por conta das mudanças hormonais e chegam exaustas, o que aumenta a desigualdade. Tenho alertado que há maneiras de nos cuidarmos e de mantermos o equilíbrio”, diz Ana Paula Padrão, apresentadora do programa Masterchef.

A  jornalista, que criou um evento que reúne lideranças femininas, vem discutindo a forma como enxergamos o envelhecimento em suas redes sociais depois que percebeu o preconceito sobre sua idade nos comentários em seus posts. “As pessoas dizem: ‘nem parece que você tem 56 anos’ ou ‘ você está tão bem para sua idade’ e isso começou a me incomodar.”

O etarismo, ou o preconceito em relação à idade, é um tema que começa a ser debatido na mídia, redes sociais e nas empresas à medida que celebridades, lideranças corporativas e profissionais em cargos de destaque passam a falar abertamente sobre o assunto.

Talentos da maturidade

As companhias mais alinhadas às tendências do mundo do trabalho começam a reavaliar o espaço dado aos profissionais que não querem pensar em aposentadoria como se imaginava no passado na próxima década de vida. “Sabemos que um ambiente de trabalho diverso estimula a criatividade e a produtividade, inclusive quando falamos sobre idades, experiências e histórias de vida”, diz Cintia Hachyia, superintendente do banco Original.

Aos 48 anos, a executiva conta que, à medida que amadurecia, começou a se preocupar com os rumos da carreira. “Durante muito tempo fiquei preocupada com o que o futuro reservava. Sou publicitária e trabalhei muito tempo  em grandes agências, mas sempre convivi com a ideia de que, quando chegasse perto dos 50, seria o começo do fim”, conta. Antes desse momento, Hachyia passou a repensar o futuro e, em 2019, depois de chegar à diretoria de uma das maiores agências do país, mudou de rumo e foi integrar a equipe do banco Original e atuar em um novo ambiente.

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Cintia Hachyia, superintendente do banco Original: “Eu tinha a ideia de que, quando chegasse perto dos 50, seria o começo do fim.”

Incluir profissionais maduros nas equipes pode não ser apenas um movimento de marketing e imagem, mas de necessidade durante a crise de talentos que acontece em alguns mercados. “Notamos que parte das organizações têm tido um olhar mais acolhedor, entendendo os recursos que um profissional experiente pode agregar”, diz Thaisa Batista, fundadora da abler, startup mineira com foco em recrutamento.

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A mudança é recente. Em 2019, um levantamento da consultoria Robert Half mostrou que 69% das empresas não contratavam gente com mais de 50 anos. Entre os problemas citados para a exclusão da faixa etária estavam os altos salários, a pouca flexibilidade de horários, a desatualização e o risco de ampliar conflitos entre gerações. Mas os resultados práticos de inclusão vão na contramão dessas perspectivas. Accenture, Livelo e Credicard estão entre as empresas que têm aberto programas de contratação voltados especificamente para o público com mais de 45 anos.

O próprio envelhecimento da população é um dos fatores que irá levar empresas a rever seus limites para idade em processos seletivos ou mesmo para manter os profissionais em seus quadros. Levantamento da consultoria Ernst & Young feito com a plataforma Maturi, de empregos e desenvolvimento para profissionais com mais de 50 anos, mostrou que esse grupo já representa 26% da população. A previsão é que, até 2040, 57% da força de trabalho no país tenha mais de 45 anos.

Menopausa pode afetar a carreira

Assim como a carreira das mulheres é afetada pela maternidade, com pesquisas mostrando que 50% das mães estão fora do mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do bebê, o envelhecimento atinge as mulheres de forma mais drástica no que diz respeito à carreira. As mudanças hormonais podem trazer oscilação de humor, insônia e mudar o ritmo a que muitas profissionais estão acostumadas. “As mulheres contam às outras como vai ser a gravidez, mas não se preparam para a chegada da menopausa. Se nos prepararmos, o impacto é muito menor”, diz Padrão. “Muita gente fica deprimida, se separa, sai do emprego, sendo que era só cuidar da saúde e buscar acompanhamento médico adequado.”

A apresentadora conta que o tratamento que escolheu a ajudou a passar com mais suavidade pelas transformações dessa fase. “Existe a parte chata de envelhecer, que é a parte física, a pele já não tem aquele viço, mas de resto sou uma pessoa menos ansiosa do que quando era jovem, valorizo meu tempo de vida, aprendi a extrair mais felicidade dos meus dias.”

O relato corrobora a tese do livro “The Happiness Curve: Why Life Gets Better After 50” (A Curva da Felicidade: Por que a vida fica melhor depois dos 50) , de Jonathan Rauch, que reúne entrevistas e estudos mostrando que a boa vida começa nessa idade – e não aos 40, como diz o ditado. Segundo o autor, nesse momento nos tornamos mais tranquilos diante dos problemas e obstáculos e nosso nível de felicidade tende a subir. “Com a maturidade, as pessoas aprender a lidar com crises emocionais. Os problemas podem até ser graves, mas as crises são menos duradouras e mais controladas”. 

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