Há um antigo aforisma que diz: “em tempo de guerra não esperem notícias boas”.
A pandemia ceifou milhares de vidas, trouxe desemprego e miséria, gerou demanda por alimentos, encarecendo-os e criando inflação e fome. O conflito na Ucrânia piorou o cenário. Estamos vivendo uma guerra contra isso tudo, e temos que desmentir o aforisma citado acima. O mundo, preocupado com o tema, está se movimentando com pressa para aumentar a oferta de alimentos. Estratégias inovadores estão sendo montadas e implementadas, o que pode mudar definitivamente
o mapa mundial de produção.
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O Brasil não pode ficar fora dessa ação. Somos um dos poucos países capazes de aumentar a safra agrícola de um ano para o outro, e este ano há um chamamento global para tal tarefa. Logo será montado o Plano de Safra 2022/23, conjunto de instrumentos que o governo oferece ao setor rural para apoiar o plantio da safra de verão, que será semeada no segundo semestre deste ano; e a safra de inverno, que será plantada no primeiro semestre de 2023. Entre os instrumentos principais do Plano de Safra, estão: os recursos para crédito rural (de custeio, investimento e comercialização), as taxas de juros, os projetos voltados para sustentabilidade e o indispensável estímulo aos pequenos e médios produtores rurais.
Sabemos que os custos de produção aumentaram muito, o que exigiria mais dinheiro para atender a demanda maior por crédito de custeio e de investimento. Também é sabido que a economia está desaquecida pela pandemia, e que os juros aumentaram por causa da inflação (problema que não é só nosso). Este cenário aponta para uma provável escassez de crédito, o que levaria a uma redução da colheita no início de 2023. Ou seja, exatamente o oposto do que o mundo precisa.
Não podemos passar por esse divórcio da realidade. Claro que será difícil atender a demanda e custo do crédito nessa situação, mas é exatamente nesses momentos dramáticos que as decisões e estratégias precisam ser heroicas.
Devemos criar um Plano de Safra à altura do desafio a enfrentar. Temos que chamar os bancos privados, as seguradoras, as tradings, as instituições de representação das cadeias produtivas, a indústria de alimentos, as construtoras, fabricantes e importadores de insumos e equipamentos, o governo, o parlamento, a academia e todas as agências com compromissos com os sistemas de produção. Vamos fazer uma campanha rápida para um Plano de Safra público/privado que origine uma colheita recorde para o Brasil alimentar o mundo, mitigar a inflação e garantir estabilidade social e política aos países consumidores. Assim, contribuímos vigorosamente com a paz universal.
Temos que olhar a floresta (a demanda mundial), e não apenas a árvore (as nossas dificuldades). Este momento histórico pode mudar a imagem brasileira lá fora, hoje injustamente negativa. E podemos gerar empregos rapidamente com uma convocação para construção de estruturas de apoio a este programa: armazéns, portos e outras peças para logística.
Mãos à obra, imediatamente!
Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo, agricultor, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para Cooperativas. Participa de diversos conselhos empresariais, institucionais e acadêmicos.
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Artigo publicado na edição 97, de maio de 2022.
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