Antecipação de tendências, baixo custo e inteligência artificial são as principais características que tornam a Shein a “queridinha da geração Z”, de acordo com analistas do varejo de moda. Avaliada em mais de US$ 100 bilhões e apoiada por grandes investidores, como Sequoia Capital China e General Atlantic, a gigante chinesa de fast-fashion intensificou sua operação no Brasil e levantou dúvidas sobre seu impacto nas varejistas tradicionais.
O crescimento no Brasil da plataforma chinesa, que já superou nomes como a H&M e a Zara em vendas nos Estados Unidos, ocorre em meio a um cenário conturbado. O mercado de moda no Brasil foi um dos setores que mais sofreu os efeitos econômicos da pandemia de Covid-19.
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De acordo com Helena Villares, analista de varejo do Itaú BBA, isso aconteceu por que o setor não é “muito digitalizado”, e precisou colocar todos os esforços no ecommerce durante o fechamento das lojas físicas.
“Essa foi uma das categorias [do varejo] que mais sentiu o lockdown, mas também foi uma das que mais se beneficiou da reabertura, tanto em performance quanto em termos de receitas. No entanto, o cenário começa a mudar neste segundo semestre. A demanda, que antes estava reprimida, já foi alcançada. Agora o crescimento passa a ficar normalizado, juntamente com os dados de inflação e juros que ainda não estão controlados”, explica a especialista à Forbes.
Por conta dessa turbulência no cenário econômico, cresceu a procura pelas plataformas estrangeiras. De acordo com a pesquisa Webshoppers, da NielsenIQ|Ebit e Bexs, em 2021, 56% dos consumidores brasileiros já tinham realizado compras na Shopee, 21% na Shein e 44% no AliExpress.
“Estamos vendo os preços cada vez mais altos nas lojas, já que elas têm que repassar os cutos por conta da alta do algodão, como é o caso das varejistas de moda. Então, quando o público começa a ver que existe uma plataforma voltada às tendências com uma proposta mais acessível, acontece a expansão da Shein no mercado”, complementa Villares.
Para Breno Francis de Paula, especialista em varejo e consumo do Banco Inter, esse crescimento ocorre em um momento em que a renda do público-alvo das lojas de departamento está pressionada. “A Shein tem ganhado mais representatividade entre os consumidores, juntamente com o fato de ela conseguir acompanhar as tendências.”
Os impactos nas varejistas
No final de fevereiro, a XP Investimentos divulgou um relatório sobre os efeitos da presença da Shein no varejo brasileiro. Segundo os analistas, o movimento de expansão é prejudicial para as companhias focadas em média e baixa renda, uma vez que deve aumentar o ambiente já competitivo do setor.
“Elencamos C&A, Lojas Renner e Hering como as mais impactadas. No entanto, como a Hering tem um posicionamento de moda mais básica, o risco pode ser mitigado”, escreveram os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday.
No entanto, para o especialista de varejo do Banco Inter, o crescimento da gigante chinesa pode sim acender um alerta por ser um novo entrante, que demonstra cada vez mais crescimento nos números, mas não é necessariamente um risco no momento. Para ele, há espaço no mercado para os demais players.
“Em 2020, o market share da Shein era bem menor do que é agora. O crescimento dela, a nível mundial, é impressionante. Pelo fato de o Brasil ser pulverizado, a plataforma chama atenção e exige das principais empresas, como a Renner, uma atenção maior. Mas elas não serão altamente impactadas, já que os grandes nomes estão consolidados no mercado. Quem realmente sofre são as lojas menores”, Breno Francis de Paula.
Helena Villares, do Itaú BBA, complementa que o impacto não pode ser visto como negativo. Para a especialista, a sensação no momento é que “a Shein está aumentando a competitividade no setor, forçando as lojas de departamento a apostarem em tecnologia.”
“A plataforma está pressionando a digitalização de um canal que não era muito digitalizado aqui no Brasil. Em termos de dados, ainda não dá para afirmar que a chinesa está ‘roubando’ share das grandes empresas brasileiras, mas a grande questão é que a Shein tem uma vantagem competitiva em tecnologia, que ajuda a antecipar tendências. Nenhuma varejista de moda aqui do Brasil se destaca nessa área”, explica Villares.
“A Shein tem feito as varejistas brasileiras correrem atrás para se atualizarem. No último resultado da Renner, inclusive, a empresa comentou muito sobre inteligência artificial. Isso é novo e não é à toa, ela não quer ficar atrasada em relação à plataforma chinesa”.
Villares afirma ainda que a área de inteligência artificial deve ser o próximo foco do varejo brasileiro, “pelo menos para os players que querem uma fatia significativa do mercado digital, que esperamos que impulsione a maior parte do crescimento futuro da indústria da moda”, escreveu ela em relatório divulgado em março.
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