Fundos de startups crescem entre empresas do Ibovespa mesmo com aperto no setor

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Getty Images/Chuanchai Pundej

Entre as empresas  do Ibovespa que anunciaram fundos para investimento em startups nos últimos meses estão gigantes como Vale, Suzano, Telefônica Brasil e Renner

A indústria de corporate venture capital (CVC), ou fundos de empresas para investimento em startups, cresceu entre as companhias brasileiras na bolsa no primeiro semestre de 2022, ainda que o cenário para os negócios em estágio inicial no país, e no mundo, seja cinzento, com onda de demissões e redução de captações de recursos.

Um estudo preliminar da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap) mostra que 13 empresas que pertencem atualmente ao Ibovespa, principal índice de ações da bolsa brasileira, fundaram CVCs neste ano, contra oito em todo o ano de 2021.

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Para se ter uma ideia, o número de janeiro a junho é um pouco menor do que o visto no acumulado dos dois anos até o final de dezembro passado, de 15.

“No Brasil, o mercado de CVC acordou para valer tem uns dois anos. Uns quatro anos atrás tinha uma ou outra empresa e há sete anos tinham três ou quatro”, disse Sandro Valeri, coordenador do comitê de CVC da Abvcap.

Entre as empresas listadas no Ibovespa que anunciaram fundos de CVC nos últimos meses estão gigantes de diversos setores como a mineradora Vale, a produtora de celulose Suzano, a operadora de telecomunicações Telefônica Brasil e a varejista Lojas Renner.

Para Newton Campos, coordenador do centro de estudos em private equity e venture capital da FGV EAESP, essas empresas podem ser vistas como “latecomers (retardatárias)”, à medida que o cenário de juros baixos, que abriu espaço para o desenvolvimento de diversas startups, já passou. Ele disse, entretanto, que “há espaço” no mercado, especialmente porque trata-se de uma estratégia de longo prazo.

“Estamos em uma situação estranha, para não dizer engraçada: um monte de empresa conseguiu desenvolver sua política (de inovação) agora, mas os juros aumentaram”, disse ele. “No curto prazo, a situação está feia…mas no longo prazo todo mundo sabe que vai ter que se modernizar”, acrescentou.

O diretor de estratégia e novos negócios da Lojas Renner, Guilherme Reichmann, admite que o negócio tem “um pêndulo de mercado”, mas afirmou que o cenário à frente é positivo.

Leia mais: Mesmo com retração, aporte em startups chega a R$ 12 bi em 2022

A varejista anunciou em março o RX Ventures, fundo de CVC com R$ 155 milhões para aportes em ao menos dez empresas em segmentos como varejo de moda, logística, soluções financeiras e marketing.

“Sim, tem outros grupos que saíram com viés de inovação antes, mas muitos porque era o negócio principal para eles”, disse Reichmann. “A gente não acha que é um mau momento para se lançar CVC, o nosso ciclo é de quatro anos de investimento e quatro anos de desinvestimentos nas empresas. Vemos retorno do nosso investimento.”

Startups em todo o mundo viram a vazão das captações diminuir nesse ano diante da alta global das taxas de juros, após bilhões injetados no setor em 2021.

NÃO É SÓ LUCRO

A diferença básica do CVC para o venture capital (capital de risco), além da característica da empresa por trás, são os objetivos por trás do negócio, que ultrapassam o financeiro. Para as companhias, é importante também, por exemplo, estar atualizado sobre o que está se fazendo no setor para poder evoluir em termos de inovação.

A regra costuma ser a manutenção de participações em startups, mas em alguns casos, elas podem acabar sendo integralmente incorporadas pelas empresas, segundo os especialistas.

A motivação de lucrar com os investimentos em startups é bem menor no caso de empresas, de acordo com Ricardo Sangion, sócio do fundo de venture capital TheVentureCity, por isso a crise no financiamento de startups maiores não afeta a decisão de criar CVCs.

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“O nosso objetivo principal é ter uma relação mutuamente benéfica com esses empregadores, trazer um valor para eles e da mesma maneira poder pegar esses aprendizados e desdobrar dentro da Vale”, disse Viktor Moszkowicz, que comanda a área de joint venture e CVC na Vale.

A mineradora lançou em junho a Vale Ventures, fundo de 100 milhões de dólares para investimento em startups que desenvolvam soluções e tecnologias ambientalmente sustentáveis no âmbito da mineração. A ideia é realizar aportes em entre 10 e 20 empresas em um espaço de aproximadamente cinco anos, segundo ele, que disse não ter esses números “escritos na pedra”.

“A mineração nos próximos 20 anos vai ser liderada por uma transição energética. Temos consciência de que tem talentos que estão fora da Vale, além das nossas fronteiras.”

Piero Minardi, presidente da Abvcap, disse que por um lado pode até ser uma oportunidade para as empresas lançar esses novos projetos neste momento, além de uma fonte de recurso interessante para as startups diante da alta dos juros.

“A contrapartida disso é que um CVC pode ser um limitador de liquidez para a startup”, como quando as companhias impõem cláusulas de preferência em novos investimentos, disse ele, que também é sócio-responsável pela Warburg Pincus na América Latina.

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