Como a taxa de juros e a inflação impactam a Bolsa de Valores?

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Manusapon Kasosod/Getty Images

Na última reunião do Copom, nos dias 14 e 15 de junho, tivemos o 11º aumento consecutivo da taxa básica de juros

Desde o início de 2021, o aumento da taxa Selic tem sido o remédio amargo do qual o Banco Central precisou lançar mão para combater a inflação.

Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), nos dias 14 e 15 de junho, tivemos o 11º aumento consecutivo da taxa básica de juros, que foi elevada a 13,25%, o maior valor nos últimos cinco anos.

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Isso influencia os rumos da economia como um todo e, obviamente, impacta o preço das ações na Bolsa de Valores.

É claro que há também influência do cenário internacional, que atualmente tem sido desafiador para todos os mercados. No entanto, o meu foco é mostrar como a inflação brasileira interfere nos ativos, pois esse entendimento é premissa básica em suas escolhas de alocação. 

Taxa Selic x Inflação

Quando o Copom sobe a taxa Selic visando controlar a inflação, ocorre uma restrição de oferta monetária. Dessa forma, tomar empréstimos fica mais caro, tanto para pessoas físicas quanto para empresas, gerando desaceleração da economia.

Pelo lado das pessoas físicas, o empréstimo mais caro significa juros mais altos no financiamento de bens, no cartão de crédito, nos empréstimos consignados e cheque especial. Com isso, ocorre a redução do consumo de produtos e serviços.

Se as pessoas físicas passam a consumir menos, obviamente, as empresas sofrem com a redução nas vendas, ao mesmo tempo em que também estão arcando com custos mais altos para financiar seu capital de giro ou impulsionar seu crescimento. O resultado é perda de lucratividade, menor crescimento e, inevitavelmente, queda no preço das ações.

Acho que até aqui você já percebeu como a economia é um organismo vivo em que os movimentos estão todos interligados, não é mesmo?

Taxa de juros x preço das ações

Ao comprar ações de empresas, sua expectativa é participar do resultado positivo delas. Como investidor, você sabe que está assumindo um certo risco quanto a esses resultados no longo prazo e, portanto, espera retornos mais elevados em troca desse risco.

Esse retorno mais alto em relação às taxas de juros oferecidas pelos títulos públicos federais e alguns ativos de renda fixa é o prêmio de risco da renda variável.

Ocorre, no entanto, que o aumento da taxa Selic eleva os juros dos títulos públicos e das demais aplicações atreladas a eles, como é o caso da maioria dos títulos de renda fixa. Quando isso acontece, o investidor acaba não se dispondo a aceitar o prêmio de risco oferecido pelas ações, já que pode obter rentabilidade equivalente na renda fixa.

Apesar de estar historicamente comprovado que, no longo prazo, as ações de empresas têm retornos mais expressivos do que qualquer outra aplicação financeira, a tendência do investidor em momentos de incerteza econômica é buscar a segurança de ativos considerados livres de risco. 

Bolsa de Valores é mau negócio em tempos de inflação?

Investir na Bolsa nunca é um mau negócio. Se você avaliar, por exemplo, o histórico dos indicadores entre 2000 e 2021, verá que o Ibovespa subiu acima de 590%, enquanto a inflação acumulada deste mesmo período foi de 285%. 

Obviamente o exemplo acima é uma simplificação didática, pois o cálculo de ganho real não é feito com a mera comparação desses dois índices. A ideia aqui é mostrar que, diferentemente do fator aleatoriedade presente no curto prazo, o investimento de longo prazo em Bolsa se beneficia dos fundamentos.

O que muda na escolha de ações durante períodos de maior instabilidade econômica e inflação alta é que você precisa estar mais atento ao cenário macroeconômico e, em especial, às projeções do IPCA, para entender quais setores da economia são mais afetados pelo avanço dos preços.

Há segmentos que conseguem repassar mais facilmente seus custos para o preço final dos produtos, enquanto outros têm maior dificuldade e, portanto, acabam tendo que absorver por mais tempo a elevação de custos sem aumentar os preços para o consumidor.

Empresas que possuem maior endividamento ou aquelas que dependem diretamente do consumo da população, como construtoras e varejistas, têm seus resultados afetados de forma mais intensa. Com lucros menores, as ações tendem a cair. 

Inversamente, o setor bancário, por exemplo, se beneficia da alta de juros, pois o spread, que é a diferença entre o custo de captação de dinheiro e os juros cobrados nos empréstimos concedidos, fica maior, resultando em lucratividade e valorização dos ativos.

Citei esses exemplos para ilustrar o raciocínio que você deve levar em conta em qualquer investimento: todos os setores da economia irão refletir, de acordo com suas características específicas, os ciclos de mercado, sendo impactados positiva ou negativamente por eles, conforme a combinação de variáveis presentes em cada cenário. 

Lembre-se que a Bolsa de Valores é onde as empresas são negociadas diariamente. Juros altos podem ser prejudiciais a algumas e benéficos para outras, e mesmo essa correlação não é linear. 

Por exemplo: um cenário como o atual, em que uma inflação monetária decorrente da pandemia desencadeou um processo de inflação global, com perda de poder de compra da população, leva a queda nas vendas do varejo, mas, por outro lado, se estivéssemos vivendo uma inflação de demanda, com a atividade econômica aquecida no varejo, os resultados de vendas e lucro das varejistas valorizariam suas ações.

Percebe que não há correlações simples? Sendo assim, proteger seu poder de compra ao longo dos ciclos econômicos envolve diversificação e balanceamento de carteira, acompanhamento de mercado, além de não se deixar levar pelo raciocínio simplista do tipo “juros sobem, Bolsa cai” ou vice-versa. 

Fugir da manada que enxerga só o aumento ou a redução de uma taxa sem considerar todas as suas nuances – aspectos ruins e também as oportunidades – é o que irá transformar o remédio amargo das taxas em alta em um elixir de crescimento para sua carteira. 

Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

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