O processo de Governança Familiar, como o próprio nome diz, é para a família empresária. Conceitualmente, não deve ser um processo restrito a poucos membros, conduzido por uma única geração, ou um único núcleo familiar de uma grande família, nem apenas um ramo familiar ou acionistas controladores. Notem que comecei dizendo “conceitualmente” e vamos então falar sobre isso: o começo.
O processo tem que começar por algum recorte. Alguém tem que ter essa ideia, buscar um entendimento sobre o tema, bancar a conversa, dar o primeiro passo. É muito difícil a governança começar com 100% de membros familiares.
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Muitas vezes o processo se inicia pela parte envolvida que não está satisfeita com o resultado dos processos de gestão existente. Alguns exemplos:
– decisão restrita ao fundador e sem possibilidade de um diálogo mais colaborativo com os demais membros da família;
– o baixo nível de transparência das decisões e de informações financeiras;
– uma geração que não esta tendo espaço para interagir ao negócio por falta de fóruns ou processos de gestão;
– a preocupação do fundador/pai quando não percebe em seus filhos a motivação ou aptidão para dar seguimento aos negócios.
Com isso, dependendo do grupo engajado ao processo no início da jornada, a Governança Familiar pode seguir por caminhos bem diferentes. O que quero trazer aqui é a reflexão, que não importa por onde começar, existe uma regra de ouro que sempre aplico, e tenho certeza de sua eficácia: educação.
Sempre uso uma frase de Albert Einstein como abertura desta conversa:
“Os problemas significativos que enfrentamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento em que estávamos quando os criamos.”
Quando um pequeno time fica com a gestão e conhecimento da Governança restritos a ele, a profundidade de conhecimento e pensamento sobre o tema vão ser desenvolvidos. Esses membros vão conhecer os processos, ouvir outras famílias, pensar em alternativas, descartar algumas opções e, assim, criar um repertório a respeito do tema. Então, digo que o “nível de pensamento” a respeito do tema vai ficando mais sofisticado, com mais complexidade.
E um efeito comum é criar um “distanciamento intelectual” frente aos demais membros da família. Este distanciamento gera efeitos como, por exemplo, o grupo com maior conhecimento interpretar as perguntas e dúvidas como resistência ao processo.
O tal “nível de pensamento” da família precisa acompanhar esse repertório, aprender com o processo o tempo todo, pois esse é um dos pontos mais poderosos de se trabalhar governança considerando o Family Entreprise.
O caminho é a educação a respeito do tema e que não seja nunca restritivo, optando por capacitar a todos, sem restrição: múltiplas gerações, cônjuges, executivos familiares e não familiares. Não temendo pecar por excesso de formação, propiciando uma visão clara dos conceitos, transparência das regras do jogo, fazendo
com que nos momentos mais críticos e de decisão, algumas vezes pouco populares, o resultado seja atingido com melhor compreensão e aceitação por todos.
Flávia Camanho é Conselheira, mentora e coach. Especialista em desenvolvimento humano e governança familiar, fundadora do Flux Institute e professora convidada do IBGC para programas de governança e Next G.
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Coluna publicada na edição 97, de maio de 2022.
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