No ano 2000, o agronegócio brasileiro exportou, em números redondos, US$ 20,6 bilhões. Ano passado, o número subiu para US$ 120,6 bilhões, ou seis vezes mais em 21 anos. E as exportações de março de 2021 para fevereiro de 2022 chegaram a US$ 127,9 bilhões.
São números que ratificam dois fatos: por um lado, segue aquecida a demanda por alimentos determinada pela pandemia e agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia; e, por outro lado, está caracterizada a capacidade brasileira de aumentar suas exportações agrícolas e atender essa demanda. A Ásia continua sendo o principal destino, com quase metade das exportações (com enorme liderança da China), seguida pela União Europeia e depois os Estados Unidos. Os principais alimentos exportados são o complexo soja (40,7% do total), carnes (16,3%), o complexo sucroalcooleiro (8%) e café (5,5%).
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O saldo comercial do agronegócio no ano passado foi de US$ 105 bilhões, super positivo, até porque contribui para a garantia das nossas reservas cambiais. Mas o desejável para o futuro próximo é agregar valor às commodities agrícolas com uma indústria moderna e competitiva.
E isso vem acontecendo. A participação da indústria de alimentos foi de 10.6% do PIB brasileiro em 2021. Esse setor vai crescendo com grande competência. No ano passado, faturou R$ 922,6 bilhões, dos quais 244,1 bilhões foram exportados. Em outras palavras, o objetivo da agregação de valor vai sendo cumprido por este dinâmico setor industrial. Cerca de 73,5% do faturamento ficou no mercado interno.
As exportações estão crescendo: em 2020 foram de US$ 38,1 bilhões de dólares, e chegaram a 45,2 bi no ano passado, um aumento de 18,6%. O saldo comercial desse relevante segmento foi de US$ 39 bilhões em 2021. Para se avaliar o progresso setorial, em 2000, tinha sido de US$ 4 bilhões. Os principais destinos: Ásia (42,8%), sendo a
China o principal, com 19,5%; os países árabes (14,6%), União Europeia (13,6%) e América do Norte (7,5%). O Mercosul ainda é um mercado menor, com apenas 2,5% das exportações.
O Brasil é o quinto colocado em valor destes produtos exportados, mas já é o maior exportador mundial em volume de alimentos industrializados, que vão para 190 países, cumprindo as respectivas legislações nacionais de segurança do alimento, sustentabilidade ambiental e social, além dos padrões voluntários de sustentabilidade.
O potencial de ganhos que o país pode ter com essa indústria crescente é muito grande. Para se consolidar, é indispensável aprimorar a segurança jurídica e regulatória (em especial para as novas indústrias plant based ou de carne “cultivada”); implementar acordos comerciais com grandes importadores, como o sonhado Mercosul/União Europeia; promover reforma tributária que reduza a acumulação de créditos tributários na exportação e melhorar a infraestrutura para escoamento.
O Brasil pode passar da condição de “fazenda” do mundo para supermercado do mundo.
Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo, agricultor, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para Cooperativas. Participa de diversos conselhos empresariais, institucionais e acadêmicos.
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Artigo publicado na edição 96, de abril de 2022.
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