Os cidadãos da Ucrânia estão sofrendo as mais trágicas e imediatas consequências da agressão russa, mas para as nações que normalmente se beneficiam da produtividade agrícola desse país, a guerra coloca em risco uma parte significativa de seu suprimento de alimentos. À medida que a invasão brutal da Ucrânia pela Rússia continua, é improvável que seu setor agrícola seja capaz de produzir as quantidades de alimentos, rações e biocombustíveis que normalmente produziria.
Como a Ucrânia é um grande exportador agrícola, é provável que isso agrave as interrupções na cadeia de suprimentos, que já ocorrem, por causa dos embarques bloqueados. A USAI (Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia) estava executando um programa de 5 anos e US$ 35 milhões (R$ 181,7 milhões) para melhorar as condições dos agricultores ucranianos, que desde então foi modificado para tentar melhorar o impacto da guerra. No entanto, as fazendas estão sofrendo uma destruição indiscriminada, que também é vista em outros setores.
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É impossível prever o que será ou não cultivado, colhido ou embarcado na safra de 2022, mas as tabelas e gráficos a seguir destinam-se a traçar o perfil das culturas produzidas e dos importadores em risco na safra de 2022. Eles são baseados em dados de 2020 do FAOStats, um conjunto de dados internacionais de produção e comércio coletados pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
A primeira tabela aponta as 10 principais culturas ucranianas produzidas em termos de toneladas métricas. Essas colheitas representam entre 2% e 6% da oferta mundial de muitas commodities. A exceção fica pelas sementes de girassol; a Ucrânia foi responsável por 26% da produção mundial desta commodity em 2020. A tabela inclui comparações com a produção dos EUA e da Europa Ocidental. A maior parte do trigo, milho, cevada, colza e ervilhas secas que são cultivadas são exportadas, enquanto batatas, aveia e centeio ficam no mercado interno. Quantidades significativas de sementes de girassol e colza são exportadas como óleo processado.
Se as colheitas de 2022 da Ucrânia se tornarem muito comprometidas ou se não puderem ser exportadas, há muitos países ao redor do mundo que sentirão o impacto. As três tabelas a seguir apresentam esse perfil em uma base per capita. No caso do milho, soja e farelo de milho, a escassez afetaria a produção animal, enquanto o óleo de girassol e o trigo seriam usados principalmente para consumo humano direto. O trigo é uma mercadoria complexa porque diferentes tipos do grão são usados para fazer diversos produtos finais (pães com fermento, bolachas, macarrão…) e, portanto, esses importadores não podem encontrar facilmente opções de substituição de outras áreas de produção. A cevada é usada para produção animal, cerveja e comida.
A colza é frequentemente usada para produção de biodiesel, mas alguns tipos mais semelhantes à canola são para consumo humano. Alguns dos países que importam grandes quantidades de milho e cevada ucranianos (por exemplo, a Holanda) os usam para alimentar animais para exportação e, portanto, provavelmente haverá impactos secundários de interrupções no fornecimento de alimentos causadas por conflitos em outros países. O milho também é usado em alguns países para a produção de bioetanol. A categoria “Outros” é composta por 22,2 kg/pessoa de farelo de trigo para o Catar, 4kg de farelo de trigo e 2,1 kg de açúcar para o Chipre, e 2,3 kg/pessoa de flor de trigo e 2,2 kg de farinha de ração com glúten para Israel.
O gráfico abaixo apresenta um segundo nível de importadores de commodities para consumo humano e ração animal. A categoria “Outros” é composta por ervilhas secas (17 kg/pessoa) para Djibuti, farelo de trigo (5,6 kg/pessoa) para a Turquia, e farinha de trigo (5 kg/pessoa) para os Emirados Árabes Unidos.
A China está incluída no gráfico de terceiro nível abaixo porque, com 8 kg/pessoa de importações, representa 11,8 milhões de toneladas de exportações ucranianas em 2020 – 20% do total resumido nos três gráficos acima. A categoria “Outros”, neste nível, representa 10,7 kg/pessoa de farinha de trigo para a Moldávia, 15,7 kg/pessoa de sementes de girassol para a Bulgária e 4,3 kg/pessoa de óleo de soja para a Polônia.
As culturas ucranianas na tabela abaixo estão normalmente disponíveis para consumo doméstico e podem não ser abastecidas adequadamente em 2022. Como existem pelo menos 12 milhões de refugiados que saíram da Ucrânia (cerca de 27% da população pré-guerra), também haverá aumento da procura de alimentos nos países de acolhimento.
Steven Savage é colaborador da Forbes EUA. Trabalha com tecnologias agrícolas há mais de 40 anos. Formado em biologia em Stanford, fez mestrado e doutorado em Plant Pathology (estudo das doenças das plantas) na Universidade da Califórnia.
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