“Chegamos ao fundo do mercado?” Essa é a pergunta que não quer calar no mundo das criptomoedas. Desde novembro, quase US$ 2 trilhões (R$ 10 trilhões) evaporaram do mercado de criptoativos.
As criptomoedas luna, que valia US$ 40 bilhões (R$ 208 bilhões), e terraUSD, uma stablecoin de US$ 16 bilhões (R$ 83 bilhões) criada para manter a paridade com o dólar, entraram em colapso. No início deste mês, o bitcoin foi negociado abaixo de US$ 20 mil, o patamar mais baixo desde dezembro de 2020.
As quedas parecem longe do fim. No início deste mês, a Three Arrows Capital (3AC), uma empresa de negociação de criptomoedas altamente alavancada com US$ 200 milhões (R$ 1 bilhão) em exposição à luna, revelou que estava quase insolvente.
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A Three Arrows havia tomado grandes empréstimos de várias empresas de criptomoedas, incluindo a Voyager Digital, de Nova Jersey, e a BlockFi, com sede em Nova York. Para sobreviver à inadimplência da Three Arrows, as duas exchanges de ativos digitais recorreram ao bilionário Sam Bankman-Fried, fundador da FTX e a pessoa mais rica do setor de criptomoedas, com fortuna avaliada em cerca de US$ 20,5 bilhões (R$ 106,95 bilhões).
A FTX e sua firma de trade quantitativo de criptoativos, a Alameda, forneceram às empresas US$ 750 milhões (R$ 3,9 bilhões) em linhas de crédito. Não há garantia de que o Bankman Fried recuperará o investimento: “Estamos dispostos a fazer um acordo um pouco ruim agora se isso for necessário para trazer estabilidade e proteger os clientes.”
Sam Bankman-Fried
Os empréstimos de Bankman-Fried estão longe da filantropia. Ele fez sua fortuna como um capitalista agressivo no turbulento mercado de criptomoedas, consciente de que seu patrimônio depende da recuperação dos criptoativos e do crescimento saudável do setor.
Fried também investiu na corretora de criptomoedas da Robinhood, na qual a FTX já detém uma participação de 7,6%, e há rumores de que ele está avaliando adquirir a empresa.
Ele nega a existência de qualquer negociação para a compra da Robinhood, mas diz à Forbes que mais falências de exchanges de criptomoedas ocorrerão. “Existem algumas exchanges menores que já estão secretamente insolventes”, diz ele.
A FTX, junto com Coinbase, Kraken e Binance, são gigantes entre as exchanges de ativos digitais. Elas têm milhões de clientes e operam de maneira semelhante às corretoras de ações online.
Ao todo, existem mais de 600 exchanges de criptomoedas em todo o mundo operando em um mercado sem regulamentação. Nunca ouviu falar de AAX, Billance e Hotbit? Você não está sozinho, mas, como a Coinbase, eles negociam bitcoin, ether e dogecoin, e oferecem empréstimos generosos – até 20 vezes do capital inicial – para seus clientes.
Sem qualquer supervisão regulatória efetiva, muitas exchanges de criptomoedas ficaram vulneráveis a golpistas e hackers.
A exchange japonesa Coincheck, por exemplo, foi hackeada e perdeu US$ 530 milhões (R$ 2,7 bilhões) em criptomoedas em 2018. A KuCoin, de Singapura, perdeu US$ 275 milhões (R$ 1,4 bilhão) em 2020 e, em dezembro de 2021, a Bitmart, sediada nas Ilhas Cayman, sofreu uma invasão que gerou prejuízo de US$ 200 milhões (R$ 1 bilhão). Em 2016, a Bitifinex foi hackeada – foram roubados 120 mil bitcoins, que valeriam hoje US$ 2,5 bilhões (R$ 13 bilhões).
Apesar dos generosos empréstimos, nem mesmo Bankman-Fried é capaz, ou está disposto, a continuar distribuindo dinheiro. “Existem empresas que estão indo longe demais e não é prático protegê-las, como os casos das que apresentam um buraco no balanço patrimonial, questões regulatórias ou aquelas em que não há muito a ser salvo”, diz ele, que se recusou a identificar as exchanges.
Como a Forbes relatou em sua análise das 60 melhores exchanges de criptomoedas do mundo, o segmento de negociação de ativos digitais geralmente não possui padrões para certificar uma nova entidade, seja antes ou depois de ela começar a movimentar fundos de clientes.
A SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) não regula essas exchanges, e a Commodities Futures and Trading Commission (CFTC) supervisiona apenas alguns mercados de derivativos de criptomoedas. Nos Estados Unidos, não há uma organização dos players do setor, como a FINRA (Autoridade Regulatória da Indústria Financeira, em português), para regular as exchanges.
Bankman-Fried está preocupado com as falhas contínuas já que, durante a euforia do aumento dos preços das criptomoedas, as exchanges continuaram aumentando a aposta para atrair clientes com rendimentos generosos para depósitos.
A BlockFi e a Voyager prometiam aos clientes rendimentos acima de 12% ao ano, que tinham que ser pagos cobrando juros muito altos dos mutuários ou, mais provavelmente, colocando esse dinheiro para trabalhar em aplicativos DeFi (de finanças descentralizadas). A estratégia funcionou enquanto o mercado de criptomoedas estava subindo. Agora, parece desastroso.
Como o JPMorgan durante o pânico do mercado de ações e o crash de 1907, Bankman-Fried está aproveitando o caos das criptomoedas para expandir seu império. Recentemente, ele fechou a aquisição da Liquid, uma conturbada exchange japonesa. BlockFi e Voyager Digital estão sob seu controle e, apesar de suas negativas, a Robinhood pode ser a próxima.
De acordo com fontes familiarizadas com os empréstimos feitos pelo bilionário à Voyager, a Alameda provavelmente perderá, pelo menos, US$ 70 milhões (R$ 365 milhões) do crédito que já concedeu.
Em 2021, a Voyager’s Digital, de capital aberto, tinha um valor de mercado de mais de US$ 3 bilhões (R$ 15,6 bilhões). Hoje, suas ações são negociadas por centavos e seu valor de mercado de US$ 62 milhões (R$ 323 milhões) aponta para um iminente pedido de falência.
Apesar da sangria do mercado, Bankman-Fried disse à Forbes que a FTX continua lucrativa. A maior rival da empresa, a Coinbase, perdeu US$ 432 milhões (R$ 2,2 bilhões) no primeiro trimestre de 2022 e suas ações caíram quase 90% em relação à máxima histórica.
O bilionário também está de olho nas mineradoras de criptomoedas que alavancaram seus balanços para crescer rapidamente e aproveitar “a corrida do ouro digital do século 21”. As ações de mineradoras, incluindo Marathon Digital Holdings e Riot Blockchain, caíram mais de 60% no acumulado do ano.
Um criptoativo com o qual o Bankman-Fried não está preocupado é o tether, a maior stablecoin atrelada ao dólar do mundo, com um valor de mercado superior a US$ 70 bilhões (R$ 365 bilhões). A tranquilidade vem apesar de observadores do setor o consideraram uma bomba-relógio com lastros questionáveis.
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Testado durante o colapso da luna, o tether perdeu brevemente sua paridade com o dólar e caiu para US$ 0,95. No entanto, processou com sucesso mais de US$ 10 bilhões (R$ 52 bilhões) em saques e, desde então, se recuperou.
“Acho que as visões pessimistas sobre o tether estão erradas… não acredito que haja evidências para apoiá-las”, diz Bankman-Fried.
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O post Algumas exchanges menores já estão insolventes, diz fundador da FTX apareceu primeiro em Forbes Brasil.