Eu sei que o título parece um tanto sombrio, mas a realidade é que sempre foi nos momentos mais conturbados da economia que muitos fizeram (e continuam fazendo) fortunas.
Claro que há inúmeros fatores de ordem política e socioeconômica que explicam o sucesso em meio às grandes crises, mas o meu foco aqui é mostrar pra você que alguns jargões bem conhecidos no mercado financeiro não se perpetuaram por acaso.
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Sabe aquela história de que o dinheiro migra da mão dos impacientes para a dos pacientes? Pois bem, tem tudo a ver com o título deste artigo e também com as oportunidades na Bolsa de Valores neste momento.
Atualmente, estamos vivendo um momento crítico para os mercados. Aspectos macroeconômicos, como o conflito entre Ucrânia e Rússia, a volatilidade das commodities, todo o rescaldo econômico da pandemia, as altas taxas de desemprego, a inflação crescente forçando os Bancos Centrais a subir taxas de juros, entre outros, têm influenciado as bolsas de todo o mundo.
É um contexto desafiador, porém não inédito. Já vivemos cenários iguais a este ou piores inúmeras vezes ao longo da história e, a meu ver, o que assusta boa parte dos investidores não são os percalços em si, mas a dificuldade de antever o que virá depois.
Leia mais: Ações: antecipe-se aos riscos e invista com segurança
A imprevisibilidade gera ansiedade e medo, e afeta fortemente a capacidade de fazer escolhas. Como você certamente já ouviu por aí, o medo é um péssimo conselheiro.
É claro que, em certa medida, alguma dose de medo é positiva, pois evita que você assuma riscos não calculados, e impulsiona você a aprender mais justamente para ter controle sobre esses riscos.
O problema é quando você deixa o medo tomar as rédeas, pois, neste caso, ele pode paralisar ou conduzir a escolhas precipitadas. Infelizmente, é isso que prevalece no comportamento econômico de boa parte dos investidores em Bolsa.
O comportamento de manada é típico de quem não sabe por que está investindo
Se traçarmos um comparativo de longo prazo, observando o comportamento dos investidores, via de regra, temos um padrão que, inclusive, já foi demonstrado através de um gráfico. Ele ilustra a jornada emocional do investidor a partir dos pontos de vista defendidos por Bob Farrell – um importante analista gráfico que trabalhou por mais de 40 anos para o banco Merrill Lynch.
Fonte: CMG Capital Management
No gráfico, você vê claramente o ciclo em que o otimismo dos mercados leva à excitação e à emoção, que é quando você se sente o próprio “Lobo de Wall Street”. Tal sentimento o leva a um estado de euforia demasiada e muitas compras, pois, diante da perspectiva de ganhos exponenciais na Bolsa, você se torna perigosamente autoconfiante.
A partir daí, uma das regras preconizadas por Bob Farrell começa a se consolidar: “Os excessos em uma direção levam ao seu extremo oposto”, e a reversão de tendência se evidencia.
Em outras palavras, isso nada mais é que a boa e velha lei da oferta e da procura. Investidores eufóricos seguem comprando na alta e, com muitas compras, naturalmente o preço segue subindo.
Contudo, em determinado momento, a lógica do mercado se sobrepõe à euforia: nada sobe para sempre e, mais do que isso, há um limite racional para se pagar ágio por um ativo. Os grandes investidores sabem disso e passam a vender na alta, realizando enormes lucros.
Com grandes lotes de ações sendo vendidos para realização de lucros, o preço começa a cair (lei da oferta e da procura – você já entendeu, não é mesmo?). Neste momento, você começa a se sentir ansioso frente ao cenário de reversão.
Na sequência, você entra em negação, passa a sentir medo com as quedas e vai do desespero ao pânico, acreditando que vai perder tudo (lembra que falei que o medo é péssimo conselheiro?).
Exatamente no momento em que você deveria parar e avaliar o cenário, entender se as empresas que têm em carteira continuam sólidas e lucrativas, você simplesmente desconsidera isso e começa a capitular ou, em linguagem popular, “joga a toalha”, questionando até quando vale realmente a pena “arriscar-se” na renda variável.
A partir daí, a tendência é que você desanime e acabe vendendo seus ativos durante os períodos de baixa, por medo de perder ainda mais.
É exatamente no cenário em que os impacientes experimentam desânimo e depressão realizando prejuízos, que os pacientes e mais preparados aproveitam o excesso de oferta para comprar barato. Afinal, eles estão com os bolsos cheios com os lucros que realizaram na alta, então, na liquidação, é hora de ir às compras.
O movimento de compras reaquece o mercado e o ciclo ascendente reinicia até chegar ao otimismo exagerado e reverter novamente.
Esse looping contínuo é que faz com que alguns investidores mais pacientes, informados e atentos aos movimentos multipliquem seus patrimônios, enquanto a manada simplesmente retroalimenta o processo sem nunca auferir ganhos relevantes, por estar o tempo todo reiniciando o ciclo.
Pense a longo prazo e saia da manada
Para ter sucesso no mercado financeiro, muito mais importante do que ser um grande especialista é ser uma pessoa com objetivos claros, disciplina e paciência.
Se você tiver metas claras e de longo prazo, irá comprar ativos cujas características estejam de acordo com essas metas e, tendo disciplina, você manterá sua estratégia, independentemente do movimento que o mercado esteja sinalizando em um momento pontual.
É claro que algo específico pode ocorrer no mercado que o obrigue a rever seus planos e, eventualmente, até mudar de rota. Mas, garanto a você: episódios assim são a exceção, e não a regra.
O normal é que ciclos ascendentes e descendentes se sucedam nos mercados continuamente e, conforme Bob Farrell já pontuou, os mercados tendem a retornar à média no longo prazo.
Isso significa que, se você pertencer ao grupo sagaz que traça um plano consistente e fundamentado em boas empresas e o segue à risca, além de aproveitar os momentos de baixa da Bolsa para acelerar seu processo de acumulação, a tendência é que o tempo recompense sua disciplina e paciência com ganhos muito relevantes.
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Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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