O momento deve ser de calma e de preservação do capital. Isso que eu tenho dito aos empreendedores que têm me procurado, preocupados com o cenário de volatilidade que estamos vivendo.
O ano de 2021 foi de recorde de investimento de risco para startups. Foram US$ 621 bilhões no ano passado, dados da CB Insights para o mundo; no Brasil, US$ 9,4 bilhões. O dinheiro era farto. Mas o cenário político e macroeconômico agora é outro.
Temos a guerra na Ucrânia que se estende mais do que o esperado, alta de juros e da inflação. De imediato, isso faz com que nós, investidores de risco, passemos a ter mais cautela, e os empreendedores, por consequência, mais dificuldades para conseguir esses recursos.
Além disso, existe um evidente rebote pós pandemia da Covid-19. Nos últimos dois anos, o mundo digital nos invadiu, passamos a depender dos aplicativos para trabalhar, fazer transações bancárias, estudar. Passamos a respirar inovação, e tivemos que fazer um movimento rápido de todos os segmentos do mercado para o figital, que é essa integração do mundo digital e físico. Educação, finanças, saúde, varejo, indústria, todos tiveram que avançar na digitalização.
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Isso colocou as empresas de tecnologia no centro da própria continuidade dos negócios e da nossa vida, valorizando, e muito, essas companhias. Nos últimos meses, porém, as ações de players ícones do mercado, como Google, Netflix e PayPal, caíram. Os investidores estão perdendo dinheiro com essas empresas e, quando um movimento assim acontece com grandes nomes da tecnologia, isso se reflete, claro, nas startups.
Isso significa que os recursos irão cessar? Não. A demanda por tecnologia seguirá acelerando e, via de regra, os fundos de investimentos estão bem nutridos de capital. Porém seremos mais disciplinados no momento de escolher onde direcionar o dinheiro. Vamos olhar mais o ambiente, observar melhor as empresas. Até porque, diante de um cenário de juros altos, a tendência é deixarmos o capital em uma renda mais estável.
Tive a oportunidade de comentar aqui no ano passado que estávamos vivendo tempos de supervalorização do mercado de startups. Agora, o valuation destas empresas caiu. Voltando para a angústia que alguns empreendedores estão sentindo. Sim, temos visto nos últimos meses demissões em startups e reajustes. Um movimento, aliás, que é normal.
As empresas, especialmente as de alto crescimento, precisam constantemente rever processos e custos, e gerir pessoas para seguirem avançando. Em um mercado acelerado e volátil como vivemos, nunca será fácil prever o que vem ali na frente. E se não é possível saber o quão ruim ou não a situação pode ficar nos próximos meses, um dos caminhos para as startups agora é focar na sustentabilidade do negócio.
Se o dinheiro não será mais tão farto como vinha sendo, o que priorizar? Que projetos acelerar e quais deixar para um segundo momento? O board precisa fazer essa reflexão diariamente e estar atento para qualquer ineficiência.
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Estamos diante de forças externas que não podem ser evitadas. Em momentos de recursos abundantes, é comum que alguns cuidados com a operação acabem ficando de lado – não deveria, mas acontece. Quando o cenário fica mais difícil, como agora, é o momento de investidores e empreendedores voltarem a atenção para os fundamentos do negócio. Quanto custa hoje para a sua empresa adquirir um cliente? O quão fiel a sua base é? Onde você está gastando a maior parte do dinheiro captado? Qual o retorno disso tudo? A sustentabilidade do negócio é prioridade.
Essa é a lição de casa a ser feita. Sem perda de tempo.
Camila Farani é Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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