A queda do mercado de criptomoedas foi agravada hoje (13) depois que uma das maiores plataformas de empréstimos, a Celsius, suspendeu os saques de seus clientes. A decisão reforçou a tendência de baixa vista desde a divulgação dos dados de inflação dos EUA na última sexta-feira (10).
O bitcoin, a maior criptomoeda em valor de mercado, caiu para US$ 24,7 mil, perdendo 10% em 24 horas. Os preços recuaram 17% desde que os dados divulgados na sexta-feira mostraram que a inflação dos EUA, medida pelo índice de preços ao consumidor, subiu para o maior patamar dos últimos 40 anos e avançou 8,6% em maio. Os dados alimentaram as expectativas de uma retirada agressiva de estímulos pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano.
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O ether, a segunda maior criptomoeda, caiu para US$ 1,26 mil, seu menor patamar desde fevereiro de 2021, e violou o suporte crítico de US$ 1,7 mil na sexta-feira.
A própria moeda da Celsius, chamada CEL, despencou 56%, para US$ 0,18, abaixo do preço recorde de US$ 8 alcançado em junho de 2021. Outros grandes perdedores foram o token NEXO, da empresa de empréstimo de criptomoedas Nexo, que caiu 26%, a moeda WAVES, da blockchain de código aberto Waves, e o MKR, da MakerDAO, cada um com queda de 18%, de acordo com dados da Forbes.
Em um comunicado publicado durante o pregão na Ásia, a Celsius, que paga juros sobre depósitos de criptomoedas e empresta os ativos por uma taxa de juros mais alta, informou a seus 1,7 milhão de clientes que estava suspendendo imediatamente saques, trocas e transferências entre contas por causa das “condições extremas do mercado”.
O anúncio levou a vendas agressivas, já que a Celsius tem um grande papel no negócio de empréstimos de criptomoedas, com bilhões de dólares em ativos de clientes.
No ano passado, a empresa foi avaliada em mais de US$ 3 bilhões durante uma rodada de investimentos de US$ 400 milhões liderada pelo segundo maior fundo de pensão do Canadá, CDPQ (Caisse de Dépôt et Placement du Québec). O credor detinha US$ 12 bilhões em ativos de clientes em maio – abaixo dos US$ 20 bilhões em dezembro de 2021 – e se gabava de ter mais de 150 mil bitcoins, avaliados em US$ 3,65 bilhões atualmente.
É inédito para uma empresa desse tamanho impedir que os clientes acessem seus ativos, e investidores estão preocupados com uma potencial insolvência que pode causar danos mais extensos do que a queda da stablecoin terraUSD, da blockchain Terra. A stablecoin perdeu sua indexação ao dólar em 8 de maio e depois caiu para quase zero, eliminando US$ 40 bilhões de investidores.
O negócio de empréstimos de criptomoedas cresceu nos últimos anos, quando os bancos centrais recorreram à impressão de dinheiro após a crise induzida pela pandemia. À medida que a Celsius crescia, cresciam também as preocupações com seu gerenciamento de risco.
No entanto, com a abundância de liquidez, os investidores ignoraram os alarmes, apenas para se encontrarem em águas turbulentas desde que o Fed voltou seu foco para o controle da inflação no final do ano passado.
O stETH do Lido é negociado com desconto em relação ao ether
Além da questão da Celsius e dos fatores macroeconômicos, a recente volatilidade no preço do derivativo de ether da Lido, ou (stETH), que é usado como garantia nas plataformas DeFi, pode ter contribuído para a piora no sentimento do mercado de criptomoedas.
O Lido é o maior protocolo de staking do mundo. Ele permite que os usuários façam staking de suas moedas – ou seja, deixem elas travadas na blockchain a fim de gerar liquidez para o espaço DeFi, e obtenham um rendimento extra em troca.
Por exemplo, os usuários de ether podem depositar seus ETHs na Lido Finance em troca do derivativo stETH que foi deixado em staking. O token em staking pode ser usado como garantia em outro lugar, mas o ether real pode ser retirado somente depois que a Ethereum concluir sua atualização para o mecanismo de prova de participação. Os detentores de stETH podem vender seus tokens em troca de ETH no mercado aberto.
O stETH não precisa manter a equivalência de 1:1 com o ether e não há risco de os investidores perderem a confiança se a baixa persistir ou aumentar para 50%. No entanto, a baixa persistente pode se tornar um problema devido à ampla integração do token no espaço DeFi.
O token é muito usado como garantia para pegar ether emprestado das principais plataformas DeFi, como a AAVE. Portanto, um declínio contínuo no stETH tornaria as posições que usavam o token como garantia vulneráveis a liquidações ou fechamento forçado por exchanges DeFi. Isso, por sua vez, poderia exacerbar as vendas.
O token stETH tem sido negociado historicamente em sintonia com o preço de mercado à vista do ether. No entanto, o token começou a se desviar do preço do ether na quinta-feira (9) e perdeu 10% nas últimas 24 horas.
“Nos bastidores, parece que grande parte do estresse recente nos mercados de criptomoedas vem do stETH”, diz Ilan Solot, sócio do Tagus Capital Multi-Strategy Fund.
“1 stETH = 1 ETH após a atualização da rede. A Lido é totalmente lastreada e você pode verificar isso na blockchain – isso não está em discussão. Por esse motivo, a situação atual tem pouco ou nada a ver com a Terra e o TerraUSD. A única semelhança é que o stETH é uma posição amplamente difundida em todo o sistema, e há alavancagem envolvida, então pode causar muitos danos quando se torna volátil”, acrescentou Solot.
De acordo com o pesquisador de criptomoedas Mika Honkasolo, um declínio contínuo no preço do stETH em relação ao ether colocaria em risco os investidores alavancados.
“Existem 2 grupos de detentores de stETH que parecem estar em perigo”, disse Honkasolo em um post em seu blog. “1. Conforme descrito por @SmallCapScience, uma entidade como a Celsius precisa vender stETH para ETH para cobrir saques de clientes (a um preço cada vez pior). 2. Investidores de rendimento alavancados, por exemplo, o cofre do Instadapp Lite. As liquidações em cascata começariam mais perto de 0,85.”
Há rumores de que a Celsius teve forte exposição ao stETH e vendeu recentemente o token ou ETH na semana passada para garantir liquidez suficiente para saques de ether pelos seus clientes.
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