Mantendo sua tradição anual, Bill Gates divulgou ontem (6) suas recomendações de leitura para o verão do hemisfério norte de 2022, em um post em seu blog GatesNotes. A lista inclui livros que abordam os impactos das mudanças climáticas, as relações entre poder e gênero e as causas da polarização nos EUA. Para não deixar o lazer de fora, o bilionário também recomenda um romance de aventura ambientado nos EUA da década de 1950.
O filantropo e cofundador da Microsoft não se concentrou em um único tema, como fez no ano passado, quando afirmou que suas escolhas foram influenciadas pela pandemia. Gates elogia muitos dos livros deste ano por serem relevantes para o atual debate sobre identidade, poder e o futuro.
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Gates reconhece que os assuntos tratados pelas obras podem parecer densos demais para uma leitura de férias, mas diz que cada um dos autores transformou assuntos complexos em histórias e discussões cativantes.
“Realmente não parece algo que você leria na praia”, escreve Gates. “Eu amei todos esses cinco livros e espero que você encontre algo neles que também lhe agrade.”
No passado, inclusive no final de 2020, Gates costumava indicar obras de não ficção. Na lista do fim do primeiro semestre de 2021, havia apenas um romance. Porém, desta vez, livros de ficção são a maioria entre as obras indicadas.
Aqui estão os cinco livros recomendados:
“How the World Really Works”, de Vaclav Smil
No ano passado, Gates disse que Vaclav Smil é seu autor favorito. Neste livro, o célebre economista ambiental canadense explica sete fenômenos que determinam a sobrevivência e a eficiência humana em uma economia global baseada em informações.
A obra tem como objetivo resumir os estudos de Smil sobre as redes mundiais de agricultura, energia e produção, bem como suas conexões com o funcionamento da sociedade e com os impactos ambientais. Gates diz que este livro é um excelente ponto de partida para aqueles que desejam aprender sobre as forças que moldam a vida humana.
Ele também elogia o fato de a obra utilizar dados para basear suas conclusões sobre economia e mudanças climáticas, acrescentando que “embora Vaclav tenha opiniões fortes sobre muitos assuntos […] ele evita extremos”.
“The Lincoln Highway: A Novel”, de Amor Towles
Gates elogiou o autor de ficção Amor Towles e disse que ele “não é um mágico de um truque só. Como todos os melhores contadores de histórias, ele tem versatilidade.”
Autor de “A Gentleman in Moscow” (“Um Cavalheiro Em Moscou”, Editora Intrínseca, 464 páginas), que Gates já recomendou no passado, Towles embarca em uma épica jornada ambientada em 1954 ao longo de uma estrada chamada Lincoln. O personagem Emmett volta para sua casa, em Nebraska, depois de 15 meses de trabalho rural forçado por homicídio involuntário. Lá vive o seu irmão, Billy, de oito anos de idade. O pai deles morreu, e sua mãe abandonou a família anos atrás.
Os irmãos planejam se mudar para a Califórnia para começar uma nova vida. Mas dois dos amigos de Emmett da fazenda, Duchess e Woolly, se juntam a eles e forçam Emmett e Billy a irem para Nova York.
Gates enfatiza que o livro tem personagens bem desenvolvidos, fortes e empáticos, especialmente Billy e Sally, a vizinha dos irmãos. O livro, contado de vários pontos de vista, mostra que “as jornadas pessoais nunca são tão lineares ou previsíveis quanto uma rodovia interestadual”, diz Gates.
“Why We’re Polarized”, de Ezra Klein
Gates compara as opiniões políticas de uma pessoa ao gosto dela para jogos de cartas: “Pelo que sei, poderíamos ser como óleo e água ao nos conhecermos. Mas se nós dois amamos bridge, isso me deixa mais propenso a criar uma conexão.”
Ele diz que o último livro de Ezra Klein, o colunista e apresentador de podcast do The New York Times, descreve os aspectos psicológicos da mentalidade de grupo que definem a política americana hoje. Na vanguarda da polarização está a identidade política, que nos últimos 50 anos se fundiu com identidades raciais, regionais e ideológicas que impactam as instituições políticas.
O livro utiliza dados para evidenciar tendências que extrapolam fronteiras, partidos e gerações. “Why We’re Polarized” descreve as mudanças nos sistemas políticos e de informação que levaram muitos indivíduos racionais a se tornarem jogadores de cabo de guerra. Gates diz que este livro é importante para entender o que está acontecendo com a política nos EUA hoje.
“The Ministry for the Future”, de Kim Stanley Robinson
O título deste romance é uma referência a um órgão fictício encarregado de implementar o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. É uma história de ciência, responsabilidade política e ideias para salvar o futuro.
O romance começa com uma onda de calor e umidade em Uttar Pradesh, na Índia, que leva à morte de 20 milhões de pessoas, algo que Gates descreve como “uma cena tão angustiante quanto qualquer outra que já li em um livro de ficção científica” que retratasse um evento que poderia acontecer no mundo real.
Os dois personagens principais, o funcionário humanitário Frank May e a diplomata Mary Murphy, que dirige o órgão, trabalham para cumprir o objetivo de combater as mudanças climáticas a fim de salvar a humanidade e as gerações futuras.
Embora Gates diga que algumas das diretrizes abordadas ao longo da trama são falhas, ele considera suas teorias intrigantes. Ele conclui que o romance de Robinson mostra “a urgência desta crise de forma original” e “deixa os leitores com a esperança” de orientar as políticas de amanhã.
“The Power”, de Naomi Alderman
(“O Poder”, Editora Planeta Minotauro, 368 páginas)
Gates diz que começou a ler este romance de 2016 por sugestão de sua filha Jenn. “The Power”, de Naomi Alderman, imagina o que aconteceria se as mulheres de repente tivessem a capacidade de dar choques elétricos
Acompanhando quatro personagens — três deles mulheres — com diferentes experiências de gênero em diversos círculos sociais, instituições e lugares, Alderman discute a mudança de controle que poderia levar a um mundo mais igualitário, ou então à corrupção do poder, o que provocaria revoluções brutais e violência física e sexual.
O protagonista masculino, Tunde, é um estudante de jornalismo em Lagos que tenta documentar as mudanças sociais e políticas, mas se depara com situações difíceis e precisa aprender a se adaptar às diferentes dinâmicas de gênero.
Os outros três personagens principais lidam com as dificuldades de gerenciar suas habilidades recém-descobertas. Roxy herda o trono de uma organização criminosa de Londres à frente de seus três irmãos mais velhos. Margot tem um carreira política nos Estados Unidos e uma filha adolescente. Já Allie é uma garota do Sul dos EUA que escapa de um lar adotivo abusivo e funda uma nova religião.
Gates diz que depois de ler este livro, ele “ganhou uma percepção mais forte e visceral do abuso e da injustiça que muitas mulheres experimentam hoje” e que as hipóteses levantadas pela obra são relevantes para as conversas atuais sobre gênero.
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