Por que o Brasil atrai empresas globais de criptomoedas?

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Dado Ruvic/Reuters

Ausência de marco regulatório permanece como um dos principais desafios para a expansão do setor no país.

O Brasil está entre os cinco países com o maior número de investidores em criptomoedas, algo que não passa despercebido pelas empresas globais do setor. Gigantes como Binance, Coinbase, FTX e Crypto.com já possuem presença local, e a tendência é que, com a chegada do marco regulatório das criptomoedas, mais delas venham para ficar.

Cerca de 10 milhões de brasileiros já investem em criptomoedas, segundo um estudo da Binance em parceria com a TripleA divulgado no ano passado. O número corresponde a 5% da população e é maior que o total de investidores pessoas físicas cadastrados na B3 – cerca de 4 milhões.

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O Brasil fica atrás apenas de Índia, Estados Unidos, Rússia e Nigéria em número de investidores em criptomoedas.

Sean Rach, ex-CMO da Crypto.com e cofundador da plataforma de serviços financeiros Hi, afirma que a desvalorização do real em relação ao dólar é um dos principais fatores que tornam as criptomoedas tão atrativas aos brasileiros. “Além da capacidade de inovação e de criação de soluções nesse ecossistema, o que abre diversas oportunidades”, acrescenta.

A Hi é uma das empresas globais que demonstraram interesse pelo Brasil: a plataforma anunciou sua chegada ao país no mês passado e planeja, no futuro, abrir um escritório e contratar uma equipe de dez profissionais.

Já a Binance, uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo, aposta na expansão no Brasil através de parcerias esportivas. A empresa estreou no país em 2019 e, nos últimos meses, se tornou patrocinadora do Brasileirão e fechou contratos com CBF, Paulistão e Santos Futebol Clube.

“O futebol está fortemente ligado à identidade e à cultura brasileira”, afirma a empresa. “Parcerias nesse segmento são importantes para ajudar na expansão do uso de criptoativos e gerar impacto positivo para os nossos usuários e para a sociedade brasileira como um todo.”

Em março, o CEO da Binance, o bilionário Changpeng Zhao, anunciou planos de abrir escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro, cidades consideradas estratégicas para o desenvolvimento do setor no país. “Isso reforça a importância do Brasil nos planos da Binance em estabelecer sedes regionais em todo o mundo”, diz a exchange.

Um dos anúncios mais recentes de expansão no Brasil veio do Grupo Ripio, da Argentina, que divulgou ontem (25) o lançamento da Ripio Select, uma plataforma premium de comercialização de criptomoedas que requer um investimento mínimo de US$ 5 mil.

“Nosso objetivo é ampliar o portfólio de produtos e serviços para diferentes perfis de investidores no Brasil, e posicionar o Grupo Ripio como marca líder Latam no segmento dos grandes investimentos”, afirma Henrique Teixeira, country manager da empresa no Brasil.

Nos últimos seis meses, a Ripio Brasil aumentou em 45% o quadro de colaboradores para atender às necessidades do público investidor do país, que, segundo relatório da consultoria iMasters, pode atingir 36 milhões de pessoas até o final de 2022.

Marco regulatório

Apesar do cenário otimista, a ausência de um marco regulatório é um dos principais obstáculos à expansão do mercado de criptomoedas no Brasil, apontam as empresas.

O setor de cripto acompanha com atenção a tramitação do projeto de lei 4.401/2021, que traz diretrizes para a prestação de serviços de ativos virtuais e regulamenta o funcionamento das empresas prestadoras desses serviços. O projeto foi aprovado pelo Senado no final de abril, e retornou à Câmara dos Deputados para ser analisado.

O texto é visto com bons olhos pelos players do mercado.

“Ele irá trazer maior segurança e transparência para a indústria como um todo, impedindo fraudes e esquemas de pirâmide”, diz Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance. “Dessa forma, as pessoas que ingressarem nesse mercado irão saber que não é uma terra sem lei.”

Segundo o senador Irajá, relator do texto do projeto, o mercado de criptomoedas movimentou R$ 215 bilhões no Brasil em 2021, sendo que os golpes chegaram a R$ 2,5 bilhões no mesmo ano.

“Outro grande desafio do mercado brasileiro é a defasagem na educação financeira, algo que favorece a ocorrência desses golpes”, diz Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move. “Mas, na ausência de iniciativas de grandes empresas, muitas pessoas já vêm se informando através de influenciadores.”

O projeto também trouxe como novidade incentivos à “mineração verde”, prática que permite a “criação” de novas criptomoedas. As novas regras preveem isenção de imposto de renda para mineradoras que utilizarem energias renováveis. Com esse incentivo, segundo Irajá, o país poderá se destacar em mais uma frente do setor de criptomoedas e movimentar mais de R$ 140 bilhões entre 2022 e 2023.

“O país possui um grande celeiro de empresas e profissionais que trabalham com esse mercado”, afirma Rach. “Com a aprovação do marco regulatório, diversos tipos de operações poderão ser realizadas de forma ainda mais ampla.”

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