Há pouco mais de um ano, em março de 2021, o designer gráfico Beeple, cujo nome real é Mike Winklemann, vendeu o NFT “Everydays: The First 5000 Days”, em um lote único na casa de leilões Christie’s por mais de US$ 69 milhões (R$ 330,9 milhões).
Apenas um mês depois, a pré-venda do Bored Ape Yacht Club – uma coleção de 10 mil macacos de desenhos animados criados por um algoritmo – foi lançada e esgotou em 12 horas. Na época, um único Bored Ape teria custado 0,08 ETH [ethereum – avaliado em aproximadamente US$ 120 (R$575)]. Em abril de 2022, o mais barato disponível para compra tinha um preço de tabela de 129 ETH – aproximadamente US$ 429 mil (R$ 2 milhões) – o que significa que seu valor aumentou 332,45%.
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Não é nem preciso dizer que há muito dinheiro sendo feito em NFTs. O que pouco se fala, no entanto, é quanto desse dinheiro está sendo ganho pelos homens.
De acordo com um relatório publicado pela empresa de pesquisa do mercado de arte ArtTactic em novembro de 2021, as mulheres representam apenas 16% do mercado de arte NFT. Apesar das alegações de que o metaverso pretende aumentar a diversidade e se tornar um ambiente mais inclusivo, as únicas mulheres conhecidas na lista dos 10 melhores artistas de NFT de todos os tempos são Nadia Squarci (que faz parte da dupla de artistas Hackatao – o outro é um homem) e Monica Rizzolli.
Mercado de NFTs exclui mulheres
As mulheres não foram excluídas desse mercado apenas como criadoras. Elas também representam apenas 4% do total de vendas de NFTs globalmente desde fevereiro de 2020. Os homens dominam o mercado como compradores e vendedores, então as mulheres sentem que há menos espaço para elas se envolverem. O que realmente precisamos entender é: por quê?
Basta uma olhada rápida pelos temas da rede social Reddit ou de comunidades do Discord para perceber quanto espaço é ocupado pela cultura jovem e masculina. A linguagem frequentemente usada é masculina e brusca, com piadas e siglas que excluem qualquer um que ainda não seja alfabetizado em NFT.
De fato, uma pesquisa realizada pela agência The Drum, com a rede de podcasts Luminary e a plataforma de consumidores Perksy com 500 mulheres, descobriu que 82% achavam que as campanhas NFT eram desproporcionalmente direcionadas aos homens.
Essa foi a experiência da artista Jodie King quando ela mergulhou pela primeira vez nesse mundo. Artista expressionista abstrata e educadora de arte, Jodie tomou a decisão de se tornar uma criadora de NFT em 2021. “Eu me senti inadequada e sobrecarregada por um bom tempo, até descobrir que a única coisa que um homem de 25 anos tinha que eu não tinha era uma mente aberta para abraçar essa nova tecnologia.”
É a linguagem excludente e a sensação de que é realmente um espaço para homens jovens, que parecem ser as principais barreiras para as mulheres. E quando somos mantidas fora da conversa, fica muito mais difícil ficar confortável o suficiente para investir. É o que mostra a pesquisa do The Drum, que descobriu que 36% das entrevistadas não confiavam no mercado de criptomoedas o suficiente para comprar.
Mulheres investidoras
As mulheres geralmente são mais conscientes do risco quando se trata de investimento do que os homens, e é fácil entender o porquê. Com maior dificuldade de obter dinheiro (a disparidade salarial entre homens e mulheres é uma evidência disso), faz sentido que elas sejam mais cuidadosas sobre como e onde investem.
“As mulheres tendem a ser mais cautelosas do que os homens em termos de investimentos, mas uma vez que têm respostas para suas perguntas, elas se sentem mais à vontade”, diz Glen Hardwick Bruce, diretor de educação da Christie’s em Londres, e administrador de um programa de um ano de cursos sobre arte, incluindo um sobre NFTs.
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Foi criando um espaço mais seguro para as mulheres participarem da conversa que Glen notou uma mudança. Quando a Christie’s fez a venda do Beeple em 2021, ele observou uma grande aceitação no curso de NFT, com mais de 400 pessoas presentes. Inicialmente, eram principalmente homens. À medida que os NFTs se tornaram mais populares, apareceram mais mulheres – em seu curso mais recente, realizado em fevereiro de 2022, houve aproximadamente uma “divisão 50/50”.
O que isso demonstra, segundo ele, é a diferença fundamental nas necessidades de investidores e investidoras. “As mulheres gostam de conversar com outras mulheres ou de ter uma conselheira.”
É isso, talvez, que fará com que a abertura da The NFT Gallery – a primeira e única galeria física fundada por mulheres em Londres – em junho de 2022 seja bem-sucedida.
Liderada pelas empreendedoras Lynn Rosenberger e Lilien Hornurg-Mary, o foco principal é a acessibilidade. “Tendo fundado duas outras startups no ano passado, ficamos surpresas com a sub-representação de investidoras mulheres”, disseram elas. “Esperamos que, compartilhando nossas histórias e criando um espaço físico para colecionadoras já existentes e emergentes para comprar e aprender sobre NFTs, garantimos que essa nova forma de arte seja acessível a todos no ecossistema de arte.”
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É um ciclo – quanto mais as mulheres forem educadas e encorajadas a investir, mais espaço será aberto para criadoras na indústria. “Esperamos que mais mulheres se sintam encorajadas a tentar iniciar seu próprio [projeto] ou investir em outros.”
Com isso dito, como essas criadoras podem construir um espaço que incentive mais mulheres a investir?
Jodie, que lançou seu primeiro projeto NFT no início deste ano, criou um curso digital para ajudar outras artistas mulheres a fazer o mesmo. “Artistas são empreendedores. Eu nunca acreditei no clichê do artista faminto, e a renda que essa indústria pode gerar para artistas, principalmente mulheres, realmente me inspirou.”
Aqui, ela compartilha seus conselhos sobre como as artistas podem comercializar seus projetos de forma que mais mulheres queiram comprá-los.
Educação é tudo
Isso vale para artistas e colecionadores. Jodie acredita no trabalho que Glen e os fundadores da The NFT Gallery estão fazendo para informar o maior número possível de pessoas. “Isso é novo para todos, por isso é importante educar sua comunidade sobre NFTs para que eles sintam que estão equipados o suficiente para acompanhá-lo na jornada.”
Para as mulheres, em particular, as evidências mostraram que elas são mais propensas a investir em coisas que são direcionadas a elas, portanto, certifique-se de que sua comunicação atenda especificamente às suas necessidades e desejos.
Seu comprador quer ser visto
Em vez de esperar que, porque seu projeto NFT é algo de que você gosta, outros vão querer comprá-lo, Jodie aconselha direcionar suas mensagens para um público específico. “Você precisa diferenciar seu produto para torná-lo mais atraente e explicar o que o torna tão exclusivo”.
Assim como as descobertas do The Drop mostraram que 56% das mulheres estariam mais propensas a considerar a compra de um NFT se ele tivesse sido lançado por uma marca em que confiassem, as artistas precisam se apoiar no relacionamento e na confiança que já desenvolveram com seus colecionadores.
Faça algo único
Por fim, um dos truques mais antigos do livro, Jodie aconselha as artistas a gerar um burburinho de exclusividade em torno de seus NFTs. “As mulheres são exigentes. Elas querem comprar projetos que pareçam únicos e especiais.”
“A diversidade é extremamente importante para o crescimento de qualquer setor, mas, além disso, as mulheres trazem uma abordagem única para tudo em que nos envolvemos.”
“Acrescentamos alma a tudo em que tocamos; tornamos as coisas mais pessoais e valorizamos a criação de conexões. Ao envolver mais mulheres no mundo NFT, podemos transformar esse espaço aparentemente frio e desconectado em algo relacionável – algo que inclui todas as demografias e gêneros.”
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