Transformação digital, cultural ou apenas transformação? As transições cada vez mais dinâmicas e urgentes vividas pelas grandes empresas demandam flexibilidade e, sobretudo, a adoção de novas perspectivas por parte da alta liderança. Tecnologia, neste contexto, é uma grande aliada, mas sozinha, sem os fatores humano, social e sustentável, ela não gera mudanças.
Diante deste desafio, que está na agenda do C-Level, a IBM Consulting reuniu, no início de abril, no Hotel Rosewood, em São Paulo, um grupo seleto de C-Levels para colocar em perspectiva o papel do ESG (do inglês Environmental, Social e Governance) na transformação de grandes empresas. O Leadership Connect by Forbes reuniu lideranças do Bradesco, Nestlé e TIM para entender, por meio de boas práticas, como essas empresas estão liderando seus processos de inovação a partir da ótica sustentável. O evento também recebeu os insights do economista Ricardo Amorim que trouxe perspectivas econômicas para os próximos anos no Brasil.
De acordo com Marco Kalil, gerente-geral da IBM Consulting no Brasil, o evento se propôs a reunir convidados que lideram agendas em suas empresas com foco em boas práticas e aprendizados diante de um cenário de transformação complexa. “Decisões são tomadas diariamente por todos nós líderes. E não há escolha correta ou errada. Não decidir, inclusive, é muito pior que equivocar-se. Nós, como IBM, uma empresa que completa 105 anos no Brasil, tomamos várias decisões e mudamos nossas estratégias nas últimas décadas, entendendo que transformação é algo contínuo”, destacou Kalil em sua abertura.
Transformação em perspectiva
O painel “Muito além da transformação digital: O papel da tecnologia na transformação de negócios e a adoção de práticas ESG”, mediado por José Vicente, editor-chefe da Forbes Brasil, que reuniu líderes do Bradesco, Nestlé e TIM, além de Kalil, colocou em perspectiva a velocidade das mudanças no contexto corporativo. “Nós, na IBM, já vivemos a transformação há muitos anos. E as mudanças recentes, sobretudo das novas dinâmicas de trabalho, nos mostrou a importância da velocidade. Nossa estrutura já vinha se adaptando para um novo cenário, principalmente para quem trabalha de forma remota usando a tecnologia a serviço da segurança e conveniência”, destacou Kalil.
“O setor financeiro é, historicamente, um dos principais investidores em tecnologia. Diante da maneira como ele é constituído, acaba sendo um processador relevante de dados. O Bradesco, desde sua origem, teve essa cultura de portas abertas para a inovação. Fomos, por exemplo, a primeira empresa da América Latina a adquirir um computador. O nosso principal desafio, hoje, é direcionar a tecnologia para facilitar a vida das pessoas. Temos 74 milhões de clientes e 34 milhões de correntistas, imagine a quantidade de transações feitas a cada segundo e o impacto que isso gera? Além disso, deste montante, 24 milhões têm perfil predominantemente digital e se beneficiam diretamente dessa agenda intensa de gestão de dados”, destacou Marcelo Pasquini, head de sustentabilidade do Bradesco. O executivo ressaltou que 98% das transações do banco já acontecem de forma digital.
Para Carolina Sevciuc, diretora de transformação digital, inovação, TI e da marca Nature’s Heart da Nestlé Brasil, a companhia viveu, inclusive, um processo de compreensão do que, de fato, era a área de transformação digital, que teve sua criação estimulada diretamente pelo presidente em 2018. “Logo no início da área, pouco antes da pandemia, nos perguntavam o que, de fato, ela fazia. Sabíamos que ela havia surgido da certeza de que, mesmo a Nestlé estando em 98% dos lares brasileiros e sendo uma empresa centenária, era crucial entender que o que nos havia levado até ali não era o que nos impulsionaria adiante. A partir daí, entendemos a necessidade de se abrir, olhar para outras indústrias e agir conforme as novas necessidades dos nossos consumidores”, destaca.
No caso da TIM, Evaristo Mascarenhas, diretor de digital caring da empresa, destaca que o processo de entender sua própria transformação foi complexo. “Mas temos uma certeza. É sobre pessoas e não sobre tecnologia. Satisfazer as pessoas por meio do equilíbrio entre cultura, tecnologia e, principalmente pessoas, é fundamental. A TIM definiu, por exemplo, que até 2023 se tornaria a melhor operadora para o consumidor final. E isso só é possível quando existe uma compreensão profunda das novas dinâmicas de consumo, principalmente em um contexto digital”, ressaltou Evaristo. Para ele, a tecnologia e a transformação precisam estar a serviço de uma dinâmica de consumo mais simples e efetiva para os clientes.
O papel do ESG na digitalização
Comunidades, produtores rurais e toda uma cadeia que depende da relação com a empresa. Para a Nestlé, pensar ESG é um desafio complexo, mas inerente ao negócio. Carolina Sevciuc explica, por exemplo, que o impacto de uma empresa desse perfil no Brasil vai além da responsabilidade de estar na mesa das pessoas, mas passa, sobretudo, pela estratégia para lidar com esse contexto de forma estratégica. “Estabelecemos três pilares de atuação: Regeneração, Circularidade e Bioeconomia, além do Social que é transversal a todos eles. E por trás disso está a necessidade de compreender, genuinamente, como a empresa pode melhorar sua relação com as cadeias do leite, cacau e café” reforça Carolina, destacando que, 80% dos produtos da companhia vêm dessas frentes.
Marcelo, do Bradesco, coloca em perspectiva que o banco já atua nas frentes de sustentabilidade há muitos anos e reforça a importância do papel da governança neste contexto. “É muito importante ter, de fato, a alta administração envolvida. Hoje, temos um Comitê de Sustentabilidade que conta com a participação de um conselho muito atuante com nosso CEO e vice-presidentes. Além disso, a inovação e a tecnologia são fundamentais para ampliar o acesso aos nossos serviços por diferentes públicos e nos apoiar na melhoria da gestão e do monitoramento ESG”, reforça Marcelo.
Por fim, Evaristo, da TIM, ressaltou, dentre vários aspectos importantes de sustentabilidade, uma iniciativa que partiu de um dos funcionários da área de tecnologia para humanizar a linguagem de atendimento automatizado para melhor a relação das empresas com as pessoas. “Para nós, o orgulho desse projeto nasce do fato de que ele partiu de uma iniciativa espontânea e não de uma ordem ou determinação. Logo, é muito importante essa reflexão sobre a autenticidade de algo quando ela surge naturalmente e não necessariamente de um pedido que vem apenas do estratégico. Claro que é importante que a sustentabilidade seja comprada pelo topo, mas mais importante do que isso é que toda empresa esteja envolvida.”
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