Todos nós , de uma forma consciente ou não, em algum momento decidiremos se nossa vida será pautada pela busca por segurança ou pela busca por liberdade. São dois conceitos que muitas vezes antagonizam em vários aspectos. Quanto mais liberdade queremos, mais riscos tomaremos. Logo, por analogia, a escolha por decisões mais livres vai nos acarretar mais riscos e menos segurança. A recíproca também é verdadeira: quanto maior for nossa aparente segurança, mais teremos que abrir mão de alguns aspectos de nossa liberdade.
Esses conceitos nos acompanharão nas muitas decisões que teremos que tomar ao longo da vida. Se decidimos fazer um concurso público, por exemplo, porque acreditamos que aquele trabalho oferece mais segurança, automaticamente estamos decidindo por não empreender, por não mudar de cidade com mais frequência, por menos viagens internacionais – e até por não enriquecer, já que o servidor público honesto tem um teto salarial que não permite muita elasticidade financeira. Uma escolha legítima.
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Por outro lado, se alguém resolve empreender, assume mais riscos e abre mão de uma tranquilidade maior na hora de colocar a cabeça no travesseiro. Vale lembrar que 80% das empresas fecham suas portas antes de completarem o quinto ano de existência, segundo o IBGE. Mas é justamente esse pacote mais arriscado que faz com que o prêmio para o empreendedor bem-sucedido não tenha limites e seja desejado por um número cada vez maior de pessoas no Brasil e no mundo. Essa dicotomia sempre nos perseguirá. Ora cambaremos para um lado, ora para o outro, a depender da fase da vida em que estivermos.
Há um aspecto dos que optam pela segurança em suas decisões mais macro que merece atenção. Muitos têm como seu maior objetivo a conquista da estabilidade de longo prazo, um dos objetos de desejo, por exemplo, daqueles que buscam um cargo público. Obviamente, precisamos de servidores capacitados e que, idealmente, não devem ser pressionados politicamente ao executarem suas tarefas – e que por isso precisam de uma proteção legal que garanta essa estabilidade. Alguns eventos mais recentes, no entanto, nos levam a questionar se tal estabilidade é de fato absoluta. Há alguns anos, testemunhamos a derrocada financeira da Grécia. Dentre outras consequências de sua forte crise econômica, milhares de servidores públicos foram demitidos nas reformas que o país precisou implementar.
Durante a crise da Covid-19, também vimos economias inteiras se endividarem e terem dificuldade de arcar com sua folha de pagamento. Agora, com a guerra na Ucrânia e o caos que se instalou no país, podemos imaginar a quantidade de empresas que quebraram e de servidores públicos que certamente deixaram de contar com seus salários. Na Rússia, até os bilionários viram suas fortunas derreterem em decorrência dos efeitos colaterais do conflito, como a desvalorização cambial ou o confisco de seus bens como resultado de sanções internacionais.
Concluímos que, seja pela segurança, seja pela liberdade, o que na prática acontece nos dois lados da moeda é uma maior ou menor exposição ao risco – e isso nem sempre depende de nossa vontade, de nosso planejamento. Jamais teremos segurança total e muito menos estabilidade total. O que podemos dar como certo é que todos morreremos, e que diante dessa constatação cabe-nos aproveitar a vida ao lado das pessoas que amamos, sem medo de ousar e de realizar aquilo que sonhamos. Já que o risco é inevitável, busquemos fazer aquilo que nos deixe felizes e que nos traga significado. O maior risco é estar vivo e não viver.
Flávio Augusto da Silva é empreendedor e escritor. Dentre suas iniciativas, é CEO e fundador da WiseUp, líder no ensino de inglês para adultos, proprietário do Orlando City Soccer Club, time de futebol profissional dos EUA, e fundador e Presidente do conselho de administração da Wiser Educação.
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Artigo publicado na edição 94 da revista Forbes, de março de 2022.
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