Por dentro do evento mais exclusivo do mundo das criptomoedas, nas Bahamas

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O ex-premiê do Reino Unido Tony Blair, Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, e o bilionário Sam Bankman-Fried, fundador da exchange FTX, na conferência “Crypto Bahamas”

Fichas de pôquer, apostas altas e muito dinheiro. Ao longo da última semana de abril, a poucos metros do maior cassino do Caribe, na capital das Bahamas, Nassau, cerca de 2 mil pessoas se reuniram no centro de convenções do resort Baha Mar para discutir criptomoedas e a próxima iteração da World Wide Web, também conhecida como Web3.

Poucas semanas antes, no início de abril, uma multidão muito maior tomou conta de Miami Beach para homenagear a invenção que começou tudo: o bitcoin. Mas se o evento para 25 mil pessoas no sul da Flórida parecia o Coachella para os fiéis do bitcoin, este mais recente, apelidado de “Crypto Bahamas”, estava mais para uma conferência de Davos do Fórum Econômico Mundial – desde que você não reparasse muito no os convidados estavam vestindo.

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Praticamente todo mundo, de CEOs a desenvolvedores, usava chinelos, tênis e camisetas com slogans como “NFTs são uma farsa”.

Co-organizado pela exchange FTX, do bilionário Sam Bankman-Fried, e pela plataforma de networking SALT, fundada pela SkyBridge Capital, de Anthony Scaramucci, a Crypto Bahamas contou com convidados que vão do ex-presidente dos EUA Bill Clinton e ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair à estrela do NFL Tom Brady e sua esposa, a supermodelo Gisele Bundchen.

Havia uma grande diferença em relação em comparação com os primórdios do mundo cripto, quando eventos como esse reuniam programadores desconhecidos que anunciavam o fim dos bancos.

De acordo com Scramucci, ex-diretor de comunicações da Casa Branca e fundador da SkyBridge Capital, o evento foi pensado para “preencher a lacuna de gerações entre as pessoas que estão transformando o mundo e as pessoas tradicionais das finanças que precisam ver e aceitar isso”.

Assim aconteceu. Na ausência de qualquer anúncio que movimentasse o mercado, executivos de Wall Street e de empresas de finanças tradicionais (ou TradFi, como dizem os descolados) discutiram como os ativos digitais se encaixam nos portfólios de investimentos e sobre o amadurecimento dessa classe de ativos.

Os painéis tinham títulos irônicos como “Os ‘boomers’ estão chegando: como as criptos estão transformando Wall Street” e “De Inspetor Bugiganga ao futuro do setor bancário”.

Os famosos entusiastas do bitcoin Mike Novogratz, CEO da empresa de investimentos Galaxy Digital, e Cathie Wood, executiva-chefe da ARK Investment Management, reiteraram suas ousadas previsões de preço – US$ 500 mil (R$ 2,5 milhões) e US$ 1 milhão (R$ 5 milhões) para um bitcoin, respectivamente – apesar de a criptomoeda ter caído para US$ 37 mil (R$ 185 mil) no dia de abertura do evento. A grande maioria dos convidados reagiu de forma blasé à queda de 8% da criptomoeda naquela manhã.

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“Alguém provavelmente está operando vendido essa coisa toda”, brincou um participante enquanto seus amigos gritavam algumas das siglas favoritas do mundo cripto, como WAGMI (“We are all gonna make it’, ou “Todos vamos conseguir”) e HODL – na verdade, “hold” (manter a posição comprada). O termo virou uma piada interna entre os investidores cripto depois que um deles, muito empolgado com as negociações do dia, escreveu a palavra errado e em letras maiúsculas.

O otimismo dos membros do mundo cripto não é sem fundamento. De acordo com a CB Insights, apenas no primeiro trimestre deste ano, startups de blockchain e criptomoedas levantaram US$ 9,2 bilhões (R$ 46 bilhões) por meio de 461 operações em todo o mundo. No mesmo período, os fundos de risco focados em criptomoedas arrecadaram US$ 11,92 bilhões (R$ 59,6 bilhões), de acordo com o provedor de dados Dove Metrics.

Esse entusiasmo não está mostrando sinais de desaceleração, já que os investidores estão se preparando para a próxima grande novidade.

Grande parte das expectativas dos convidados do evento estão ligadas a projetos construídos na Solana, concorrente do Ethereum. A blockchain cresceu rapidamente e agora faz parte da chamada Layer 1s, que reúne blockchains que atuam como uma infraestrutura subjacente para outras aplicações.

De acordo com o agregador de dados do setor DeFi Llama, a Solana atualmente oferece suporte a mais de 60 protocolos descentralizados, e tem mais de US$ 4 bilhões (R$ 20 bilhões) em valor total depositado.

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A Fundação Solana (sem fins lucrativos), co-organizou durante o evento uma de suas Hacker Houses – uma reunião de seis dias para desenvolvedores que criam aplicações, como exchanges descentralizadas e NFTs, na blockchain Solana.

Logo após a conclusão do evento, a Solana sofreu uma interrupção de sete horas supostamente causada por um enorme número de bots que tentavam criar NFTs na rede. Engenheiros da Jump Crypto, o braço de criptomoedas do Jump Trading Group, disseram que o tráfego atingiu um recorde de 4 milhões de transações por segundo na tarde de sábado (30/4).

A onda de apagões e interrupções da blockchain está alimentando críticas sobre a estabilidade da rede. O token nativo da Solana caiu para US$ 83,13 (R$ 415,6) cerca de três horas após o apagão, antes de voltar para US$ 89,00 (R$ 445), de acordo com a CoinGecko.

Deixando de lado essa confusão, festas luxuosas aconteceram por toda parte. A equipe da Solana organizou uma em um pavilhão ao ar livre na cobertura do hotel SLS, atraindo convidados como o ex-candidato à Presidência dos EUA Andrew Yang, o ator Orlando Bloom e a estrela pop Katy Perry (em fevereiro, Perry deu ibope à FTX brincando no Instagram que ela estava saindo da música para estagiar na exchange).

Na noite seguinte, o DJ Steve Aoki e o cantor Liam Paybe, ex-membro do One Direction, tocaram em uma boate chique do outro lado do cassino. Conversas ocasionais discerníveis através das batidas variavam de “99% dos jogos play-to-earn são esquemas de pirâmide” a “Finalmente posso ver quem são as pessoas por trás desses jpegs de macaco”.

Mais importante, o evento de alto nível consolidou a imagem da exchange FTX, que alguns dias antes havia inaugurado sua nova sede de US$ 150 milhões (R$ 750 milhões) na ilha, como um dos maiores players do mundo cripto.

Em uma palestra de encerramento, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton alertou sobre a “tentação de abusar” da nova tecnologia, mas descreveu as criptomoedas como algo “obviamente sério”. Talvez a parte mais memorável da conversa, no entanto, tenha sido o aparente contraste entre os ex-estadistas e o anfitrião. Tony Blair notou que estava se sentindo “um pouco bem vestido demais” sentado ao lado de Bankman-Fried, que mediou o painel em seu traje padrão: camiseta com a marca da FTX, shorts cinza e tênis New Balance.

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A conferência também ajudou a consolidar o status das Bahamas como a futura capital das criptomoedas. Em 2020, o arquipélago tornou-se uma dos primeiros territórios do mundo a implementar uma moeda digital oficial, o sand dollar (dólar de areia), e aprovou leis focadas em criptomoedas que desempenharam um papel fundamental em convencer empresas como a FTX a se estabelecer nas ilhas.

O primeiro-ministro Philip Davis disse à Forbes que as autoridades locais estão trabalhando ativamente para permitir que os bahamenses paguem impostos usando o sand dollar, e estão conversando com pelo menos outras quatro exchanges de criptomoedas que desejam abrir escritórios no país.

“As Bahamas não estão apenas abertas e prontas para os negócios, mas estão se movendo para a vanguarda desta era mais empolgante de inovação em ativos digitais”, disse Davis.

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