O fenômeno de corporate venture capital não é novidade no Brasil, onde muitas das grandes empresas administram fundos com o objetivo de investir em startups que complementam as suas operações. O que se destaca atualmente, porém, é a crescente atenção desses fundos para os Estados Unidos.
A Gerdau (GGBR4), gigante da produção de aço, por exemplo, já investiu em duas empresas norte-americanas através da Gerdau Next Ventures, seu fundo de venture capital.
Em março do ano passado, a empresa participou da rodada de Série A da 3DEO, startup californiana de impressão 3D. Já em agosto, a empresa co-liderou a rodada que captou US$ 30 milhões para a Plant Prefab, outra startup californiana, que atua na construção de casas sustentáveis pré-fabricadas.
Ainda em 2021, a empresa também investiu no Third Sphere, um fundo climatech de Nova York que busca soluções sustentáveis para a vida urbana, atuando de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas).
Segundo Mateus Jarros, responsável pela Gerdau Next Ventures, o fundo busca startups “com alto potencial de crescimento e conexão estratégica com as verticais de negócios adjacentes ao aço, como construção, mobilidade e sustentabilidade.”
Outras empresas brasileiras que também já fizeram aportes em startups norte-americanas incluem Ambev (ABEV3), Via (VIIA3) e Embraer (EMBR3). Esta última passou a contar até mesmo com uma equipe de inovação no Vale do Silício e em Boston para identificar oportunidades com mais facilidade.
Motivações e impactos
Carlos Lobo, especialista em mercado de capitais e sócio do Hughes Hubbard & Reed LLP, um dos mais tradicionais escritórios de advocacia de Nova York, argumenta que a busca por empresas norte-americanas é mais do que uma questão de inovação. “É também uma forma de a empresa aprender sobre o mercado dos Estados Unidos e utilizar tal conhecimento para seus próprios planos de expansão internacional”, afirma.
Nesse contexto, o mercado dos EUA traz algumas vantagens intrínsecas, como a existência de um maior número de startups, que costumam ter maior potencial de crescimento e utilizar tecnologias que tendem a ser mais originais.
A título de comparação, as startups brasileiras movimentaram cerca de US$ 9,4 bilhões (R$ 47 bilhões) em 2021, enquanto as startups norte-americanas movimentaram mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) no mesmo período, segundo dados das plataformas Distrito e GlobalData.
O foco desses fundos é principalmente as empresas de tecnologia, que apresentam um potencial de escalabilidade maior e, no geral, uma relação de risco e retorno mais vantajosa.
“Como existe um risco inerente aos investimentos desses fundos, as empresas que dão certo precisam crescer muito para compensar os ‘erros’ do restante da carteira”, comenta Thiago Lobão, CEO e fundador da gestora Catarina Capital, que também investe no mercado norte-americano e tem R$ 200 milhões sob gestão.
Porém, o interesse nessas empresas não é incondicional. Uma característica predominante do corporate venture capital é o fato de que os investimentos geralmente não visam a aquisição completa das companhias – ou, pelo menos, não em um primeiro momento.
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Afinal, para as empresas que realizam os aportes, nem sempre fica claro se a tecnologia desenvolvida pela startup terá sucesso no futuro. Além disso, muitas startups precisam de flexibilidade e informalidade para crescer, e trazê-las para dentro de estruturas corporativas formais tende a reprimir esse espírito.
Apesar do foco no exterior, segundo Lobo, esse movimento não chega a prejudicar o mercado brasileiro. “Startups brasileiras também estão recebendo fundos de venture capital, tanto corporativos quanto tradicionais, e estão se expandindo no exterior, por isso há muita sinergia entre os dois mercados”, diz.
O fluxo global de corporate venture capital cresceu 124% de 2020 para 2021, segundo dados da CB Insights, e as empresas brasileiras devem continuar surfando nessa onda, como comenta Jarros.
“Na Gerdau Next Ventures, nós planejamos continuar investindo nos Estados Unidos, e vamos permanecer atentos aos movimentos e às novas oportunidades oferecidas pelo mercado internacional, especialmente no que se refere à inovação nas Américas”, afirma.
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