Me Too Brasil entra na Web3

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Marina Ganzarolli, presidente do Me Too Brasil, está levando a operação e a expertise da sua rede de acolhimento para a Web3

O metaverso, universo em que avatares 3D podem interagir, trabalhar e se divertir, já é palco de shows, leilões, desfiles, casamentos e reuniões de trabalho. Com o objetivo de ajudar a construir esse novo espaço e garantir que ele seja inclusivo e seguro para as mulheres, o Me Too Brasil anuncia sua entrada na Web3, lançando a Me2 DAO. 

Uma DAO é uma organização autônoma descentralizada – uma comunidade que une pessoas com interesses em comum executada em tecnologia blockchain na Web3. “A gente quer participar da construção desses ambientes digitais desde o início para garantir que as mulheres estejam seguras e em espaços de liderança também nesse ecossistema”, diz Marina Ganzarolli, presidente do Me Too Brasil. 

A ONG foi fundada em 2020 por Marina, advogada formada pela USP (Universidade de São Paulo) e fundadora da Rede Feminista de Juristas, que acolhe mulheres de forma voluntária e oferece acompanhamento jurídico a mulheres que decidem denunciar seus agressores. O objetivo era criar a primeira organização no Brasil cuja missão fosse unicamente o enfrentamento da violência sexual contra mulheres.

A organização fechou contrato com a empresa de blockchain Harmony, que está investindo US$ 300 mil (R$ 1,5 milhão) na construção da Web3. A companhia fez um aporte simbólico de US$ 10 mil (R$ 50 mil) para a ONG fazer a proposta da Me2 DAO, que agora espera receber mais US$ 50 mil (R$ 250 mil) para desenvolver o ecossistema. “Nós seremos a primeira DAO do mundo cuja missão é voltada para a construção de um ambiente seguro e o desenvolvimento de políticas preventivas anti-assédio e anti-violência sexual, assim como ações de enfrentamento dessas condutas no ecossitema”.

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O que é o Me Too Brasil

Em parceria com o Justiceiras, outra organização que oferece acompanhamento multidisciplinar para vítimas de violência, o Me Too Brasil atendeu 51 mulheres em seu primeiro ano. Metade desses atendimentos foram feitos por uma equipe de advogadas, psicólogas e assistentes sociais. A outra foi feita pelo canal de desabafo no site da organização, em que a vítima compartilha sua história, que é publicada de forma anônima. Em parceria com a Uber, a ONG também tem um plantão de acolhimento psicológico que funciona 24 horas por dia todos os dias para vítimas de assédio e violência no aplicativo. 

Agora, o Me Too Brasil quer levar a experiência com esses atendimentos para outro patamar. “A gente está basicamente virando global, levando a operação do Brasil e a expertise da nossa rede de acolhimento para o ecossistema da Web3.” 

Desde a universidade, Marina já fazia atendimento voluntário de vítimas de assédio e violências, o que fez dela uma referência no tema. Foi convidada a depor em CPI, fez workshops para empresas e abriu uma consultoria com treinamentos empresariais de enfrentamento à violência contra a mulher.  “Eu já tinha atendido alguns casos coletivos de denúncias contra grandes figurões do cinema e no início de 2020 atendi um grupo de mulheres vítimas de um produtor de audiovisual muito parecido com os casos de Hollywood”. 

Com o rápido crescimento da Web3, ela considera importante ocupar esse espaço. “A gente precisa pensar na prevenção e na resposta de incidentes de conduta sexual inadequada antes que eles aconteçam. E, na verdade, eles já estão acontecendo, já temos denúncias de violações que acontecem a partir da utilização de avatares.” 

O objetivo é encontrar soluções usando os recursos da Web3 para o combate à violência sexual contra a mulher, como a utilização da tecnologia blockchain para a preservação de evidências de violência. 

Web3 inclusiva

A organização está criando um canal de denúncias nesse novo ambiente, além de iniciativas com foco em educação. “Queremos começar com o pé direito nesse espaço, que seja inclusivo e criado pensando nas mulheres.”

A Me2 DAO também vai vender NFTs de artes produzidas por sobreviventes de violência. “A gente está falando de criar recursos de sustentabilidade econômica também para as vítimas, que podem criar conteúdos a partir dos seus processos de cura”. Marina também tem feito parcerias com outras DAOs que trabalham com inclusão nesse ambiente para tornar possível a venda de NFTs via cartão de crédito – e não apenas criptomoedas. Ela quer que, eventualmente, a Me2 DAO sustente o Me Too Brasil financeiramente. 

Para atrair as pessoas para esse ambiente ainda pouco difundido, o Me Too Brasil vai fazer workshops de capacitação em eventos presenciais e conteúdos digitais educativos. “Existe hoje um investimento muito grande para trazer mais diversidade para o ecossistema Web3, mas não adianta nada a gente trazer mulheres, mulheres negras para esse mundo sem garantir a permanência e a ascensão dessas mulheres dentro desses ecossistemas.” 

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