Perdeu tudo na Bolsa, foi sócio da XP e abriu uma gestora: conheça a história de João Braga, da Encore

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Imagem/Divulgação

Para ter retorno no mercado financeiro, Braga afirma que é necessário levar em consideração a qualidade da empresa e não apenas o momento econômico vivido

O caminho entre perder todo o dinheiro investido na Bolsa de Valores e abrir uma gestora não foi curto para João Luiz Braga. Hoje sócio da Encore, Braga se inspirou em nomes como Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles para entender quais eram os caminhos do sucesso e do fracasso no mercado financeiro.

Ele tinha acabado de se mudar de Goiânia para São Paulo quando decidiu começar a investir. Estudante de engenharia elétrica da USP (Universidade de São Paulo), o jovem de 17 anos era apaixonado por computação e desde muito novo sabia que era com isso que queria trabalhar, mas o destino o levou para outro caminho.

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Vindo de uma família com pouco poder aquisitivo, Braga viu um leque de possibilidades se abrir à sua frente. Conceitos como engenharia da computação, mercado financeiro e programas de trainee eram muito novos, conta ele, que hoje tem uma gestora com R$ 400 milhões em ativos sob gestão.

Sabendo do novo interesse do filho por investimentos, seu pai lhe deu R$ 5 mil de suas economias para começar a aprender. Braga passou a estudar e entender mais sobre operações e análise técnica de gráficos, o que gerou confiança para investir o dinheiro.

“Em seis meses eu tinha transformado os R$ 5 mil em R$ 20 mil, eu já estava me achando o Warren Buffett jovem. Pouco tempo depois, eu estava no meu computador com um olho na aula e outro no home broker e percebi que os meus investimentos em uma opção da Telemar tinham dado errado. Eu quebrei, perdi tudo”, conta.

“Com tudo que aprendi com essa situação, hoje até parece ter saído barato”, brinca ele. Assim começou sua carreira no mercado financeiro.

Braga passou por uma consultoria, a Century, e logo depois recebeu uma indicação de uma amigo para um banco alemão, o WestLB, que não atua mais no Brasil. Por lá, ele começou a conhecer o mercado de risco e entendeu como calcular os valores dos produtos e aprendeu mais sobre as necessidades técnicas do setor de finanças.

Sentindo que queria ir no caminho dos investimentos, começou a procurar vagas em empresas do mercado financeiro. Na época, Jorge Paulo Lemann, hoje na 108ª posição do ranking de bilionários da Forbes, vendeu o famoso Banco Garantia para o Credit Suisse e criou, junto aos sócios Carlos Sicupira e Marcel Telles, sua própria gestora, a GP Investimentos.

“Todas aquelas histórias do Garantia que a gente ouvia sobre a agressividade do banco me fizeram querer uma oportunidade”, conta.

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Braga montou um esquema para enviar seu currículo por email para a empresa todos os dias às 16 horas. Meses se passaram e nenhuma resposta. Até que, ao achar um contato comercial da GP, teve a sorte de conversar com uma ex-colega de trabalho da Center. Ele conta que o fator sorte foi muito importante em sua vida, nesse e em outros momentos

“Foi o meu primeiro emprego depois de formado. Eles me chamaram para varrer o chão. Eu chegava às 7h30 da manhã e tinha que bater as cotas dos fundos na mão, para sair só às 23h, mas eu amava. Quatro meses depois, eles já me colocaram na mesa para operar. Era o emprego dos sonhos”, diz.

Por novo acaso do destino, Braga recebeu uma oportunidade para cuidar da gestão das ações listadas na Bolsa de Valores, na gestora Hedging-Griffo, de Luis Stuhlberger. Em sua passagem pela empresa, fez um pouco de tudo, até se tornar sócio. Pouco tempo depois de ocupar a nova posição, a empresa também foi vendida para o Credit Suisse, como o Garantia.

“Após a venda, nós tivemos que assinar um contrato atestando que só trabalharíamos lá pelos próximos oito anos. Eu tinha 26 anos de idade. Foi uma experiência bacana por ter recebido a confiança de ficar mais tempo por lá. Assim, completei 18 anos na empresa em 2014″, conta.

Braga conta ainda que, durante esse período, recebeu uma ligação de uma gestora nova no mercado, que estava querendo “fazer barulho”. Nada famoso na época, Guilherme Benchimol (hoje na 1611º posição do ranking da Forbes) o convidou para fazer parte da XP, no começo de 2015.

Ele cuidava da análise de empresas e tinha sua independência muito bem estabelecida dentro da gestora, na direção da XP Asset, onde ganhou nome e virou sócio. “Foi muito legal ver todo esse crescimento da empresa. Eu fui muito feliz lá”. Porém, sua vontade de criar uma gestora própria foi mais forte.

Assim, em 2020, nasceu a Encore.

“Eu conversei com o Guilherme e disse que queria uma coisa mais independente. Apesar de ter toda a liberdade na XP, ela é uma empresa grande, então essa liberdade vai diminuindo. Mas nós achamos uma forma legal de mudar essa situação: eu deixei de ser sócio da XP e eles viraram meus sócios na Encore”, explica.

Para ele, o apoio da XP foi crucial para que o novo projeto tomasse fôlego e pudesse andar com as próprias pernas. “Para os próximos 30 ou 40 anos, eu não tenho mais nenhum emprego, é a Encore. Ou isso aqui dá certo, ou dá certo”, brinca.

Andando com as próprias pernas

A Encore foi pensada no formato de parcerias, visto por Braga como o mais funcional no setor. Ele conta que das 18 pessoas que trabalham na Encore, dez são sócias.

“A Encore é a tentativa de consertar todos os erros que cometi ao longo da carreira, como os motivos pelos quais quebrei pela primeira vez”, diz. Para ele, o timing do início do negócio foi muito bom, já que foi possível comprar ações baratas, por causa da crise causada pela pandemia do coronavírus.

“Eu e meus sócios temos uma cabeça muito contrária à maré. Se ninguém quer, nós queremos”, complementa.

A ideia é fazer algo diferente com o que já era conhecido. Braga afirmou ter unido seu gosto por tecnologia para montar um time qualificado na área e para usar as novidades do mercado na hora de avaliar os investimentos.

“Nós nos preocupamos muito com processos, com dados precisos e muita tecnologia. Hoje nós subimos para a nuvem 500 gigas de dados por dia e depois fazemos contas, processamos, fazemos estatísticas. Isso já se faz fora do país, mas aqui ainda não funciona dessa forma”, conta Braga.

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Sua visão é de que todos os investidores possam aportar nos fundos da asset, mas ele afirma que é preciso ter pensamento de longo prazo e saber acompanhar as altas e quedas dos papéis de forma leve.

“Os fundos são voltados para os investidores que querem pegar uma pequena parcela do seu patrimônio e colocar ‘no risco’ sem olhar mais, sabendo que no longo prazo aquilo vai dar resultado”, explica.

Ele conta que grande parte do seu dinheiro e dos sócios está aplicada no mesmo fundo que oferece aos investidores. “Se o cliente ganha dinheiro, eu ganho dinheiro”, resume.

Para ter retorno, Braga afirma que é necessário levar em consideração a qualidade da empresa e não apenas o momento econômico vivido – mas o cenário é levado em consideração. A alta das commodities é um exemplo claro. Braga conta que fez alterações nos ativos para aproveitar os retornos, mas que o fundamento das empresas continua o mesmo. E é dessa forma que ele pretende continuar trabalhando.

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