Eu já tive vontade de desistir, já duvidei se seria capaz, já chorei sozinho no meu quarto, já me senti pequeno, já achei que porque me vestia mal e não tinha grana eu não seria aceito pelas pessoas, já tive dúvidas sobre meu futuro, já me achei feio, sem graça, já me senti inferior, já tive vergonha de onde morava, já olhei ao meu redor e pensei que jamais sairia do lugar. Ter um Fusca já foi meu maior objeto de desejo, conseguir comprar um presente para a namorada numa loja de departamentos popular era um desafio, andar de ônibus cheio por horas era um suplício e uma rotina diária.
Apesar de todas essas dificuldades, fui criado no meio de gente muito mais pobre do que eu, em regiões extremamente carentes, em trabalhos voluntários de meus pais. Frequentemente, era visto como filho de pai rico, ou melhor, um filho que pelo menos tinha um pai. A maioria de meus colegas da comunidade, se tinha pai, não sabia de seu paradeiro – ou ele estava preso. Aprendi a respeitar essas pessoas, a compreender seus conflitos, a presenciar suas contradições, seus sonhos e complexos mais íntimos.
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Um dia, aprendi a vender. Ganhei meu primeiro dinheiro. Alguém me disse que eu tinha potencial e eu acreditei. Decidi acreditar. Eu me perguntava: “Por que as pessoas não se libertam da vida limitada que têm atreladas a um salário mínimo? Por que elas não vendem um produto?”. Na época eu nem sabia o que era empreendedorismo, mas sentia que existia algo de errado no mundo, ou pelo menos no mundo que me cercava.
Todas as minhas dúvidas foram canalizadas numa decisão de trabalhar forte para realizar meus objetivos. Foi duro. Dormia muito pouco e me alimentava mal. Faria tudo de novo, do mesmo jeitinho. Que objetivos eu tinha na época? Nada nem perto do que vivo hoje. Fui conhecendo, passo a passo, ao longo dos anos. Um dia de cada vez, uma superação a cada dia, uma meta a cada momento, enquanto colecionava vitórias e derrotas. Não tinha muitos referenciais. Então eu pensava apenas no próximo passo, quando conseguia enxergar o próximo desafio. A cada degrau, um novo ponto de vista. Ninguém me contou como era, não li em livros, não assisti a palestras e tampouco pendurei diplomas na parede. Vivi cada um desses dias: senti na pele a dor de cada renúncia, cochilei no ônibus enquanto passava do ponto porque estava muito cansado, mas também gritei, vibrei e chorei de alegria por cada conquista.
Essa é a verdade por trás dos textos que compartilho com você. Entendo suas dúvidas e seus medos. Já passei por esse caminho. Por isso eu sei que posso ajudar, ainda que seja com um simples apoio moral e com uma palavra de ânimo. Há dias em que isso é só o que precisamos. Eu te entendo. É por isso que estou aqui todos os meses. Força!
Flávio Augusto da Silva é empreendedor e escritor. Dentre suas iniciativas, é CEO e fundador da WiseUp, líder no ensino de inglês para adultos, proprietário do Orlando City Soccer Club, time de futebol profissional dos EUA, e fundador e Presidente do conselho de administração da Wiser Educação.
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Artigo publicado na edição 94 da revista Forbes, de fevereiro de 2022.
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