Os consumidores, cada vez mais, estão tomando consciência da sustentabilidade por trás dos alimentos que compram. Em resposta a isso, muitas empresas de alimentos assumiram compromissos públicos com metas de sustentabilidade baseadas na ciência. Muitos desses objetivos incluem metas de emissões líquidas zero. De fato, de acordo com a Energy and Climate Intelligence Unit (Unidade de Inteligência de Energia e Clima), com sede no Reino Unido, um quinto das maiores empresas do mundo se comprometeram com uma meta de zero líquido.
Esses compromissos, geralmente, listam metas que abordam as emissões provenientes da agricultura. As empresas de alimentos estão bem cientes de que a maioria das emissões embutidas em seus produtos vem da produção agrícola. As emissões na fazenda incluem aquelas relacionadas ao uso de máquinas movidas a diesel nas propriedades, bem como as emissões associadas às práticas de manejo da fazenda, como aplicações de fertilizantes sintéticos, cultivo do solo e falta de diversidade na rotação de culturas.
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Há uma ciência conclusiva que mostra que o cultivo excessivo, deixando o solo descoberto (em vez de usar cultivos de cobertura), e o uso excessivo de nitrogênio e outros fertilizantes, estão gerando muitas emissões. Aqui, chegamos a uma pergunta natural – em princípio, essas emissões podem ser evitadas?
Parece apropriado que as empresas de alimentos estejam agora concentrando seus esforços no tratamento dessas emissões, com ênfase na agricultura. Essas empresas reconhecem que a própria agricultura pode ser a solução para o problema. Usando tecnologia e ciência modernas, podemos evitar muitas emissões associadas às práticas de manejo do solo e das culturas.
Simplificando, se a agricultura pode mudar as práticas que originalmente nos permitiam escalar a produção de alimentos, então ela pode se tornar uma das soluções mais eficazes para as mudanças climáticas. Objetivos como os da PepsiCo reconhecem diretamente o potencial da agricultura – eles chamam a atenção para a necessidade específica da adoção da agricultura regenerativa em fazendas que fornecem os cultivos que se tornam ingredientes dos produtos da PepsiCo.
Se todos concordam sobre o que precisa ser feito para produzir mais alimentos e como fazê-lo de forma sustentável para o planeta, então qual é o problema? Por que não temos essas práticas em vigor em todo o mundo? O que os líderes do setor devem fazer para incentivar a adoção dessas práticas?
Infelizmente, é um pouco mais complicado do que parece. Vejamos brevemente as práticas de agricultura regenerativa e as implicações práticas de exigir que os agricultores adotem essas práticas.
As práticas de agricultura regenerativa incluem o uso de culturas de cobertura (culturas que são cultivadas na entressafra e são usadas para reabastecer a saúde do solo), a redução da perturbação do solo (que é plantar as lavouras), a construção de um ecossistema comunitário com cultivos e gado, e a redução ou omissão de fertilizantes sintéticos e outros insumos.
A maioria dessas práticas de agricultura regenerativa visa melhorar a saúde do solo, mantendo o solo coberto durante todo o ano. Isso irá protegê-lo da erosão devido a fortes chuvas ou ventos, mantendo a raiz viva no solo para continuar construindo as comunidades microbianas e outras formas de vida que melhoram a função do solo. Reduzir a erosão e construir comunidades microbianas no solo permite que o solo suporte melhor os cultivos, exigindo menos insumos, como fertilizantes. Também permite que o solo retenha mais carbono e outros nutrientes – compostos que, de outra forma, entrariam no ar como emissões de gases de efeito estufa.
Embora haja muitos benefícios em melhorar a saúde do solo, como maior estabilidade de rendimento por hectare e menor necessidade de fertilizantes sintéticos, vejamos algumas limitações que podem dificultar a adoção dessas práticas pelos agricultores.
Em primeiro lugar, nem todas as áreas do mundo têm condições propícias ao cultivo de múltiplas colheitas em um ano. Em áreas como o Canadá, o frio impede o cultivo de qualquer coisa entre a colheita do outono e o plantio da primavera, enquanto em áreas agrícolas como o Brasil, os agricultores agora cultivam três safras por ano. Para reduzir a perturbação do solo na fazenda e mudar para práticas mais regenerativas, um agricultor precisa comprar ou ter acesso a equipamentos caros que podem “injetar” as sementes no solo, causando uma perturbação mínima (se houver).
Dispensável dizer que um potencial prêmio em preço aos agricultores dificilmente cobrirá o custo de aquisição do novo equipamento, mesmo considerando alguns anos. Mas, felizmente, há cada vez mais opções de financiamento disponíveis para os agricultores que desejam investir em soluções sustentáveis.
Em suma, cada uma das práticas específicas de agricultura regenerativa vem com seu próprio conjunto de desafios para o agricultor, e nós, como sociedade, devemos reconhecer isso.
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Não há dúvidas sobre a necessidade de fazer a transição do nosso atual sistema de produção de alimentos para um mais sustentável. Esta é uma grande tarefa para uma das maiores indústrias do mundo. Não é uma tarefa fácil porque, além dos desafios listados acima e dos riscos que acompanham a adoção de novas tecnologias e práticas na fazenda, não existe uma receita única para a adoção da agricultura regenerativa em todas as fazendas do mundo.
Felizmente, a ciência e a tecnologia modernas tornam essa tarefa viável e, assim como estamos vendo o surgimento de serviços personalizados ao consumidor, estamos entrando na era dos sistemas personalizados de apoio à decisão do agricultor – plataformas de software que adaptam recomendações com base nos dados de cada campo específico de uma fazenda.
Essas plataformas de software, chamadas de “tecnologia agrícola” ou “agricultura de precisão”, são uma porta de entrada para o futuro da agricultura sustentável. Elas oferecem aos agricultores a oportunidade de adotar práticas agrícolas mais sustentáveis e regenerativas em suas fazendas, mantendo a receita necessária para continuar produzindo alimentos para nossa crescente população.
A indústria agrícola está comprometida com essa transformação e nós, como consumidores, devemos reconhecer o valor de apoiar sua transição com nossas preferências de marca e escolhas de produtos. Apoiar a agricultura regenerativa e sustentável permite que os agricultores adotem a ciência e a tecnologia de que precisam para utilizar práticas sustentáveis, e quanto mais eficientemente pudermos promover essa transição, melhor será o resultado para a Terra.
* Anastasia Volkova é membro do Forbes Councils Member para tecnologia, CEO e co-fundadora da Regrow.ag, consultoria sobre agricultura sustentável. O Forbes Technology Council é uma comunidade apenas de convidados para CIOs (Chief Information Officer), CTOs (Chief Technology Officer) e executivos de tecnologia de classe mundial.
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