Esta coluna chega ao número 100. Em tempos em que a atenção das pessoas é disputada quase na briga pela quantidade avassaladora de conteúdo nas redes sociais, só tenho a agradecer a sua audiência, meu querido leitor.
Hoje, escolhi falar de felicidade. Justamente porque fomos tomados pelas mídias sociais. E elas nos “vendem” a ideia de que todos são felizes, menos você, caro leitor, que tem de trabalhar, dá duro para pagar as contas, acorda com as notícias de guerra do outro lado do mundo, enfim…
Há uma enorme indústria da felicidade, que ajudou a criar a ideia de que é só buscá-la e, assim como um Nescau, que transforma o leite num passe de mágica, seremos transformados por completo. Pronto: agora sou feliz. Ou que alguns são sortudos e conseguem “encontrar” a felicidade, enquanto outros amargam a vida toda porque não têm tanta sorte.
Afinal, no que consiste ser feliz? Esse é um tema que, até hoje, não encontrou consenso e dificilmente vai encontrar. Eu vejo a felicidade como um sentimento apoiado em quatro pilares: o orgânico, o psicológico, o financeiro e o espiritual.
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Orgânico, porque se o corpo sofre, a pessoa sofre. Psicológico, porque se a mente sofre, a pessoa sofre. Financeiro, porque o dinheiro toca muitas partes de nossas vidas, a emocional inclusive. E espiritual, porque estudo após estudo vem demonstrando que quem tem um lado espiritual bem desenvolvido se sente melhor consigo mesmo, está mais de bem com a vida. Espiritualidade não é necessariamente ter uma religião, mas pode envolver, sim, a ligação a uma religião.
É possível conseguir quatro pilares do mesmo tamanho e força? Muito difícil. A vida é por demais complexa e cheia de altos e baixos para que consigamos ter tudo isso junto. Vista dessa forma, a felicidade se torna uma meta irrealista. Mas, é possível manter-se em pé, e bem, ainda que um ou dois dos pés da mesa estejam menores? Sem dúvida.
Felicidade não é e nunca vai ser um estado permanente. Exige trabalho, exige também alinhar o nosso comportamento e a nossa vida àquilo que valorizamos. É possível que o segredo esteja não em desejar que as coisas sejam diferentes do que elas são, mas em aceitar que, a despeito do sangue, suor e lágrimas que derramamos todos os dias, a vida proporciona um senso de realização incomensurável, que pode ser chamado de felicidade.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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