O caça-bombardeiro Sukhoi Su-34 deveria ter transformado a Força Aérea russa. A aeronave supersônica com bimotor e espaço para piloto e copiloto – uma versão altamente evoluída do caça Su-27 – prometia inaugurar uma nova era de bombardeios de alta tecnologia e precisão.
Em vez disso, os Su-34 foram para a Ucrânia carregando as mesmas velhas bombas. A falta de munições guiadas com precisão – para não mencionar a doutrina russa que utiliza as aeronaves como, basicamente, artilharia voadora – força os aviões de guerra de US$ 50 milhões (quase R$ 235 milhões) a voar baixo e perto das defesas aéreas ucranianas. Só assim as aeronaves conseguem soltar as bombas com algum grau de precisão.
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Como resultado, os Su-34 estão sendo abatidos em números que devem ser surpreendentes para os comandantes das Forças Armadas de Moscou. Os aviões mais novos da Força Aérea estão tendo o mesmo destino que os mais antigos.
A Força Aérea russa encomendou o primeiro lote de 32 aeronaves Su-34 em 2008. Um segundo lote de 92 modelos chegou em 2012. Em 2021, os russos possuíam cerca de 122 aeronaves Su-34 em vários regimentos. Mesmo levando em conta as perdas, em 2030 a Força Aérea poderá operar cerca de 200 desses aviões.
O plano, desde o início, era que o Su-34 substituísse o Su-24, da década de 1970. Cerca de 70 desses aviões mais antigos permanecem na ativa.
Em nenhum lugar isso foi mais evidente do que na Síria. O Kremlin enviou Su-34s para o país a partir de novembro de 2015, logo após um F-16 turco derrubar um Su-24 russo que supostamente desviou da rota e entrou no espaço aéreo da Turquia.
O Su-34 é impressionante de se observar. O modelo utiliza a estrutura do Su-27 mas adiciona um cockpit para duas pessoas com assentos lado a lado. O Su-34 pode atingir alvos a até quase mil quilômetros de distância enquanto carrega 12 toneladas de bombas e mísseis, incluindo mísseis ar-ar (aqueles disparados de uma aeronave com o propósito de destruir outra aeronave).
O caça de 22 toneladas é armado com um canhão de 30 milímetros. O modelo possui ainda um radar multimodo e um conjunto de defesa eletrônico Khibiny. Em teoria, o Su-34 é compatível com uma série de mísseis e bombas guiadas de alta precisão, o que faz o modelo análogo ao Boeing F-15E, o caça-bombardeiro da Força Aérea dos EUA.
Há, no entanto, uma diferença crítica. Os norte-americanos, todos os anos, compram milhares de mísseis e bombas guiados por satélite, laser e raios infravermelhos. Também frequentemente treinam com eles e os usam em combate – os EUA praticamente aposentaram as armas não guiadas.
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Os russos, por sua vez, pararam de comprar munições guiadas anos atrás devido ao alto custo. Após 2014, o efeito das sanções estrangeiras sobre os fabricantes russos de bombas e mísseis também restringiu a oferta.
Embora o Su-34 possa transportar munições guiadas, ele – e todos os outros aviões de guerra táticos da força russa – quase nunca são usados com esse fim.
“A maior parte das 300 aeronaves de combate de asa fixa [da Força Aérea russa] concentradas ao redor da Ucrânia tem apenas bombas e foguetes não guiados para usar em missões de ataque ao solo”, afirmou Justin Bronk em uma análise recente para o Royal United Services Institute em Londres.
Isso é aparente não apenas nos vídeos que o Kremlin divulgou mostrando os caças-bombardeiros em combate na Ucrânia, mas também na taxa de perda do modelo. Analistas independentes confirmaram a destruição de quatro Su-34 na Ucrânia. Os ucranianos teriam capturado ao menos um piloto desse modelo de aeronave, Alexander Krasnoyartsev.
Se quatro perdas do Su-34 já foram evidentes em vídeos das linhas de frente, é possível afirmar com segurança que outras não-documentadas aconteceram. Apenas um modelo de asa fixa da Rússia sofreu mais que o Su-34 na guerra atual: o Su-25, um jato subsônico de apoio aéreo aproximado, que voa ainda mais baixo e mais devagar que o Su-34.
Autoridades ucranianas afirmaram no dia 18 de março que tropas dispararam um míssil Stinger e destruíram um Su-34. Uma semana depois, Kiev atribuiu outro suposto abate do Su-34 a “unidades de defesa aérea móveis” – que podem ser mísseis portáteis ou veículos de defesa aérea.
De qualquer forma, parece que os Su-34 estão sendo alvo de mísseis de curto alcance que provavelmente são guiados por TV ou raios infravermelhos. Esses mísseis, incluindo os Strelas projetados pelos soviéticos e os Stingers norte-americanos, geralmente atingem apenas alguns quilômetros de distância e alguns quilômetros de altura.
Um avião de guerra que carrega mísseis ou bombas de precisão, talvez acionados por drones ou observadores no solo, poderia lançar as munições a dezenas de quilômetros de distância e a cinco ou seis quilômetros de altura, o que deixaria a aeronave fora do alcance de defesas aéreas de curto alcance.
Mas os Su-34 que sobrevoam a Ucrânia parecem carregar só munições de baixa precisão, ainda que o último modelo do Su-34M venha com uma interface dedicada para o novo sensor UKR-RT. Em teoria, essa tecnologia deveria ajudar o disparar bombas guiadas quando há nuvens ou tempestades.
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Os Sukhois estão lançando os mesmos tipos de bombas não-guiadas que o Su-24 carregava durante seu ápice. Isso significa que as tripulações precisam enxergar o solo para ter qualquer grau de precisão: têm que ficar abaixo das nuvens, à mercê dos mísseis ucranianos.
Não são apenas as limitações da tecnologia que colocam os Su-34 em perigo. Até o mais sofisticado avião de guerra histórico é um escravo da doutrina – como são chamadas as regras e expectativas que orientam a condução de uma guerra pelas Forças Armadas.
A doutrina russa, diferentemente, por exemplo, da doutrina americana, não deixa a força aérea livre para prosseguir com sua própria campanha. Para Moscou, as aeronaves são extensões da força terrestre. Os aviões são artilharia aérea: veículos inflexíveis que entregam enorme poder de fogo. Os russos não são a favor de munições de precisão porque não prezam pela precisão.
Enquanto isso for verdade, as tripulações das aeronaves Sukhoi continuarão a passar aperto na Ucrânia. O Su-34 é um novo avião de guerra, mas suas tripulações estão à mercê de armas antigas… e doutrinas ainda mais antigas.
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