Registradora de recebíveis Cerc negocia aporte de US$100 mi, prepara-se para IPO

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A Cerc está prestes a receber um aporte de cerca de US$ 100 milhões de fundos de capital de risco

A Cerc está prestes a receber um aporte de cerca de US$ 100 milhões de fundos de capital de risco, em meio à expectativa de que a recente explosão nos registros de recebíveis de cartões se reproduza nos mercados de duplicatas e do agronegócio, enquanto a companhia se prepara para uma listagem em bolsa.

“Estamos negociando uma captação com até cinco investidores de fundos para investir em novos negócios”, disse à Reuters o fundador e presidente do conselho da Cerc, Marcelo Maziero. “Devemos fechar 2022 prontos para um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês); estamos prontos para isso.”

As declarações de Maziero, um ex-executivo da B3, vêm no momento em que a Cerc vem multiplicando rapidamente seu volume de operações, apoiada em parte em inovações regulatórias que tornam obrigatório o registro de recebíveis em plataformas.

Hoje a Cerc afirma que já processa diariamente cerca de 130 vezes o volume de operações da B3, e 30 vezes o do Pix.

Fundada por Maziero em 2015, a Cerc tinha como principal foco original ser um ambiente eletrônico para registros de duplicatas, numa alternativa aos cartórios. Isso permitiria que os donos dos recebíveis os usassem como garantia para obter crédito mais barato no mercado.

Em um sistema de acesso voluntário, esse ambiente teve crescimento constante nos últimos anos, mas sem atingir montante significativo em relação a um mercado que movimenta por ano cerca de 15 trilhões de reais, segundo estimativas de mercado citados por Maziero.

A partir de 2018, ano em que a Cerc se tornou a primeira registradora autorizada, sucessivos movimentos do Banco Central para induzir uma maior formalização dos recebíveis tem provocado um crescimento exponencial desse mercado.

O grande salto veio em junho passado, quando o BC tornou obrigatório o registro de recebíveis de cartões de crédito. Só a Cerc já transacionou R$ 328 bilhões desses títulos desde outubro, fazendo as receitas da companhia crescerem 10 vezes.

Embora em menor velocidade, o setor deve crescer em 2022, disse Maziero, enquanto as registradoras – a Cerc divide esse mercado com a Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), dos grandes bancos; e a TAG, da Stone – melhoram a troca de dados sobre agenda de recebíveis, a chamada interoperabilidade.

Em outra frente, o executivo acredita que evolução similar deve ocorrer com títulos do agronegócio e as duplicatas, após o governo ter anunciado o novo marco da securitização – o que deve facilitar o empacotamento de títulos formados por recebíveis – e novas regras que devem simplificar o registro de Cédula de Produto Rural (CPR), que deverão ser todas registradas em plataformas, como da Cerc ou da B3, até o fim de 2023.

Antes de ganhar tração, esse nicho deve passar por uma “harmonização”, movimento similar ao que ocorreu com os recebíveis de cartões, e que precisa de aprovação do BC, esperada para os próximos meses.

“Com isso, o volume de registros de CPR na Cerc, hoje de 20 bilhões de reais, deve se multiplicar por 10 ainda neste ano”, previu Maziero.

Em duplicatas, o volume registrado pela Cerc em 2021 dobrou.

Simultaneamente, a Cerc vem avançando em outras linhas de negócios, como sua câmara de liquidação e central depositária de ativos, que deve ficar pronta até o fim do ano. A companhia já pediu registro no BC e também solicitará as autorizações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em abril para ter os mesmos poderes para atuar com valores mobiliários.

Entre outras possibilidades, isso permitirá que a Cerc futuramente tenha uma bolsa para listagem de pequenas empresas.

“Não é para competir com a B3, que já faz muito bem a operação de bolsa para grandes empresas”, disse Maziero. “É mais para criar um mercado de acesso para small caps.”

Com os novos recursos que deve receber de fundos, a Cerc também vai criar ainda neste primeiro semestre um ambiente para registro de “tokenização” de recebíveis, o que abre espaço para registro e venda mais pulverizada de cotas de produtos, como FDICs, por exemplo, alcançando o mercado de varejo com uma alternativa para investimentos como debêntures e CDBs, explicou.

Com tantas frentes em vias de ganhar tração, Maziero disse que a Cerc deve investir na ampliação da equipe, hoje de cerca de 150 pessoas, e eventualmente na aquisição de startups.

“Podem existir algumas situações em que valha mais a pena buscar algo já formado do que desenvolver aqui dentro da Cerc”, concluiu o executivo, sem dar mais detalhes.

 

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