O presidente Jair Bolsonaro fez pouco segredo nas últimas semanas de sua ira contra a Petrobras em relação ao aumento dos preços dos combustíveis, indicando a possibilidade de trocar o presidente-executivo da estatal.
No entanto, Adriano Pires, o escolhido para o cargo ontem (28), não se encaixa em um perfil que o mercado poderia esperar considerando as falas de Bolsonaro.
Conhecido consultor de energia e acadêmico que já trabalhou na agência reguladora de petróleo ANP, Pires é um defensor ferrenho das políticas pró-mercado na Petrobras criticadas por Bolsonaro, particularmente a maneira como a estatal acompanha os mercados globais de energia com seus preços domésticos de combustíveis.
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Em um debate público no mês passado, Pires disse que o Brasil deveria torcer para os preços do Brent superarem US$ 200 por barril, para que o governo pudesse arrecadar dezenas de bilhões de dólares, incluindo dividendos como o maior acionista da Petrobras.
Em uma coluna para o blog financeiro Brazil Journal neste mês, ele criticou a empresa por manter os preços domésticos muito abaixo dos benchmarks globais.
Essa pode ser uma das razões pelas quais o mercado parece ter aceitado o golpe repentino no atual CEO Joaquim Silva e Luna.
As ações preferenciais da empresa na bolsa do Brasil abriram em alta de 2% hoje (29), mesmo em meio a temores de que o abalo possa pressagiar uma pressão política mais intensa, diante das eleições de outubro no Brasil.
“Pires é um nome com histórico técnico no setor de energia e que simpatiza com a política de preço atualmente praticada pela petrolífera, e, portanto, não vemos impactos negativos, por ora, no médio prazo”, escreveu o analista da Guide Investimentos, Rodrigo Crespi, em nota aos clientes.
Pires, que não respondeu a um pedido de comentário, é doutor pela Sorbonne e cofundador do think tank Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Ele é colunista de longa data, consultor e professor de política energética, e passou cerca de dois anos e meio em cargos de alto escalão na ANP até 2001, de acordo com seu perfil no LinkedIn.
Em comentários e artigos públicos, Pires já defendeu medidas que protegessem os consumidores dos altos preços dos combustíveis sem incorrer em perdas para a Petrobras e o setor privado.
Em particular, ele apoia a criação de um fundo do governo, financiado em parte por royalties atualmente pagos por petroleiras brasileiras, que ajudaria a estabilizar os preços do combustível nas bombas durante períodos de alta volatilidade.
Bolsonaro também demonstrou interesse nessa medida, que aguarda apreciação na Câmara depois que aliados do governo aprovaram um projeto de lei no Senado.
No entanto, a proposta encontrou forte resistência do ministro da Economia, Paulo Guedes, que argumenta que o fundo serviria pouco ao propósito social, principalmente quando comparado ao seu enorme impacto potencial nas finanças públicas.
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