Os fertilizantes, ou adubos, são uma das partes vitais para o funcionamento da agricultura como conhecemos hoje. Essas substâncias são aplicadas no solo para providenciar os nutrientes necessários ao bom desenvolvimento de plantas, tornando-se então um aliado valioso aos produtores rurais que buscam aumentar a produtividade de suas lavouras.
Embora a primeira fábrica de fertilizantes tenha sido inaugurada apenas em 1843 na Inglaterra, sua história começou em meados de 1600, quando o químico alemão Johann Glauber desenvolveu o primeiro fertilizante à base de minerais. Enquanto estudava como aprimorar o crescimento de plantas, o cientista percebeu que a inclusão de salitre, limão ácido fosfórico, nitrogênio e potássio no solo poderia trazer bons resultados.
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A grande mudança para os fertilizantes ocorreu de fato em meados de 1840, quando o cientista alemão Justus von Liebig concluiu através de estudos que plantas alimentícias teriam um melhor desenvolvimento com a adição de três elementos químicos: nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K). A partir deste conhecimento, iniciou-se a era dos fertilizantes químicos, baseados na fórmula NPK desenvolvida pelo químico. Desde então, a indústria dos fertilizantes produz principalmente produtos que seguem esta fórmula. Hoje, eles representam um mercado que movimenta globalmente cerca de US$ 171 bilhões, segundo levantamento da consultoria Global Market Insights.
Quais são os tipos de fertilizantes existentes hoje?
Com o avanço do mercado e da ciência, as variedades de fertilizantes se tornaram muito amplas. É possível encontrar este produto em em formas sólidas, líquidas, granuladas e em pó — a escolha do formato vai de acordo com a necessidade do agricultor e sua propriedade.
Fora a questão de forma, há diferentes tipos de fertilizantes que podem ser divididos entre os seguintes grupos:
Orgânicos: Talvez um dos primeiros desenvolvidos, o fertilizante orgânico pode ser preparado em casa a partir de resíduos orgânicos como casca de frutas, esterco animal, farinha de ossos dentre outros.
Biofertilizantes: Diferente do fertilizante orgânico (geralmente utilizado em forma sólida), os biofertilizantes são preparados a partir de resíduos orgânicos que passam pela fermentação anaeróbica (sem a presença de ar), resultando em um produto líquido.
Mineral: Também conhecido como inorgânico ou sintético, o fertilizante mineral é produzido a partir de processos industriais e leva em sua formulação macro e micronutrientes químicos como NPK, cálcio, ferro, manganês dentre outros.
Organomineral: Já os organominerais são criados com a mistura de fertilizantes minerais e orgânicos, resultando em um produto capaz de melhor absorção pelo solo.
Chegada dos fertilizantes no Brasil
A chegada dos primeiros adubos no Brasil ocorreu em 1895, na região de Campinas (SP), marcada pela cafeicultura no século 19. Porém, sua inclusão no mercado brasileiro foi demorada, porque os agricultores não viam a necessidade de pagar por mais um produto já que suas terras eram férteis para a produção do café. Até a década de 1960, estima-se que apenas 30% das terras agrícolas no país utilizavam adubos ou fertilizantes, com uma média de apenas 18 quilos por hectare.
A situação só começou a mudar em 1967, quando 14 empresas (Benzenex, CBA, Copas, Copebrás, Fertibrás, Granubrás, IAP, Itaú, Manah, Murakami, uimbrasil, Takenaka, Ultrafértil e Zanaga) decidiram fundar a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos). A ideia era convencer os produtores que o uso de fertilizantes seria a chave para impulsionar o potencial agrícola do país.
Outro fator importante foi a adoção do governo brasileiro das práticas preconizadas por Norman Bourlag, cientista norte-americano que é considerado o principal mentor da Revolução Verde, movimento iniciado a partir da década de 1960 que impulsionou o poder produtivo da agricultura mundial.
Hoje, segundo dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o Brasil consome 43 milhões de toneladas de fertilizantes que são utilizados principalmente nas culturas de soja, milho e cana-de-açúcar — algumas das principais commodities produzidas. Isso faz com o país seja o quarto maior consumidor mundial do insumo. Contudo, os brasileiros ainda não são autossuficientes na produção e importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome. Esse fenômeno ocorre por conta do custo da extração de nitrogênio, fósforo e potássio; para o país, sai mais barato importar o produto do que investir em produção própria.
A expectativa é que o cenário possa mudar até 2030 com a criação do Plano Nacional de Fertilizantes pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A meta do órgão é de reduzir a dependência de produtos nitrogenados em 51% e fosfatados em 5%, investindo na infraestrutura brasileira para a produção de fertilizantes NPK.
De onde vem os fertilizantes?
Embora a produção de fertilizantes esteja espalhada por todo o mundo, alguns países se destacam por terem abundância de matérias-primas necessárias para a produção deste insumo agrícola. Na produção mundial de potássio, por exemplo, 80% está concentrada em quatro países: Canadá, Rússia, Belarus e China. Juntos, esses países produzem cerca de 55,1 milhões de toneladas da matéria-prima; segundo o governo canadense, a produção mundial de potássio foi de quase 69,2 milhões de toneladas em 2020.
De acordo com dados do Ministério da Economia, o Brasil é o maior importador global de potássio, comprando 10,45 milhões de toneladas em 2021. Em relação aos outros fertilizantes, o país comprou 31,15 toneladas, importando principalmente de Rússia, China, Marrocos, Canadá e Estados Unidos.
Justamente pela dependência da Rússia para suprir sua demanda, que é responsável por 23% dos adubos ou fertilizantes vendidos ao país, a agricultura brasileira pode ser impactada pela guerra na Ucrânia, ressaltando a importância que o investimento na infraestrutura pode trazer bons frutos ao país.
O uso deste insumo afeta o meio ambiente?
Uma das grandes questões quanto ao amplo uso de fertilizantes na agricultura é o seu impacto ao meio ambiente — questionamento que se torna cada vez mais válido diante das grandes mudanças sustentáveis que ocorrem no setor atualmente.
Segundo a Scientific American, publicação científica, a maioria dos químicos utilizados na fabricação dos fertilizantes inorgânicos são “desenvolvidos em laboratório e baseados em petróleo”, podendo contaminar água e resultar na emissão de gases do efeito estufa na atmosfera — o uso indiscriminado de fertilizantes nitrogenados, resulta no aumento das emissões de óxido nitroso.
Porém, a adoção de algumas medidas pode mitigar os efeitos negativos sem prejudicar a produtividade. Uma delas é a rotação de cultura; a alternância do cultivo de plantas fixadoras de nitrogênio com outras que não possuem essa habilidade natural pode reduzir o problema. Essas práticas são comuns na agricultura brasileira, que faz dois cultivos seguidos de soja e depois milho, por exemplo. Outra ação que pode mitigar os efeitos no meio-ambiente é o uso de fertilizantes orgânicos que, além de evitar a emissão de gases do efeito estufa, podem evitar o excesso de nutrientes que por vezes é deixado no solo por fertilizantes minerais.
“Quase sempre existem maneiras de minimizar as perdas enquanto os benefícios são mantidos. O uso de fertilizantes não é uma exceção, mas tanto quem estabelece as políticas quanto o agricultor deve ter o conhecimento necessário para tal”, afirmou Luc M. Maene, ex diretor-geral da IFA (Associação Internacional da Indústria dos Fertilizantes), em manual sobre o uso de fertilizantes e o meio ambiente. “A maioria dos efeitos adversos do uso de fertilizantes resulta do uso inadequado dos agricultores.”
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