Startup quer aumentar diversidade com entrevista às cegas

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Divulgação

Cammila Yochabell é CEO da Jobecam, plataforma de recrutamento que criou um processo de entrevista de emprego anônima e atende grandes empresas

Em uma conversa durante um evento de trabalho, um headhunter de uma das maiores consultorias do mundo contou que havia dispensado uma candidata qualificada porque viu um Band-Aid saindo pela lateral do seu sapato. A ele, pareceu desleixo aquela ponta de curativo aparecendo. A história ilustra como atuam nossos preconceitos e vieses na hora de uma entrevista de emprego, o que pode levar um recrutador a dispensar um bom candidato. E é nessa hora que entra o trabalho de Cammila Yochabell, CEO da startup Jobecam.

A companhia nasceu em 2016 com foco em seleção de talentos e, no ano passado, lançou uma plataforma para intermediar entrevistas de emprego às cegas e tentar reduzir os vieses em processos seletivos. “Focamos também no aspecto educacional, porque o recrutador passa a refletir se teria avançado com aquela pessoa se  conhecesse sua aparência desde o começo”, diz Yochabell. 

Como funciona a entrevista anônima

Ao se cadastrar para o processo seletivo, o candidato preenche o currículo e as informações no site, mas tudo isso não aparece para o recrutador. As empresas têm acesso somente às habilidades do profissional em um primeiro momento, sem saber gênero, cor ou origem, por exemplo. A primeira entrevista é feita com um avatar e um nome fictício, gerado automaticamente. E o candidato não tem a opção de fazer o próprio avatar. “Tendemos a escolher características que nos representem, deixando o avatar parecido, por isso não há opções”. 

A voz fica distorcida a ponto de não ser possível reconhecer nem mesmo o gênero do candidato e há opções de diversos filtros de distorção para o entrevistador. Nas etapas seguintes, a empresa pode escolher que o entrevistado seja revelado. Caso a organização opte por conhecê-lo, o profissional grava um vídeo de apresentação. Há também a possibilidade de seguir com o processo seletivo até o fim de forma anônima. 

Uma pesquisa realizada pelo Linkedin em 2021 com 2 mil profissionais brasileiras entre 25 e 55 anos revelou que 82% das entrevistadas sentiam ter menos direitos que os homens no ambiente de trabalho em decorrência do viés inconsciente. Outro estudo, feito pela Universidade de Yale, mostrou que homens e mulheres cientistas, ainda que treinados para evitar os próprios juízos de valor, contratavam mais homens e os remuneravam com cerca de US$ 4 mil a mais por ano do que mulheres.

Diversidade aumentou com uso da ferramenta

Desde a criação da ferramenta, em 2021, a Jobecam reuniu dados que sugerem que a diversidade aumentou nas empresas com a utilização da plataforma. Em cinco empresas avaliadas, cada uma somou 82% mais contratações de mulheres, 58% mais pessoas negras e 49% mais pessoas LGBTQIA+. De acordo com a Jobecam, de modo geral, os usuários aumentaram em 68% a diversidade nas contratações

Geralmente, o procedimento é utilizado para cargos de entrada ou plenos. A BRQ, empresa de tecnologia e serviços digitais end-to-end aderiu à entrevista anônima para esses cargos em janeiro de 2019 e já obteve resultados quanto à maior contratação de mulheres. “Até esse momento, nossos processos seletivos eram totalmente presenciais, nunca tínhamos experimentado algo como a plataforma”, diz. A experiência resultou em 10% mais mulheres contratadas desde que começaram a usar a plataforma. 

A farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, maior produtora de insulina do mundo, tem a ambição de usar a entrevista anônima em todos os processos seletivos no futuro. De acordo com sua head de aquisição de talentos, Alejandra Rois, a companhia está estudando de que forma adaptar a ferramenta às diferentes culturas nos países em que atuam. “Estamos desafiando uns aos outros a quebrar nossos paradigmas: não estamos apenas mudando algo em outra pessoa, mas em nós mesmos”.

 

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