Doutora em Saúde Pública, Edna Araújo cuida de populações vulneráveis

  • Post author:
  • Reading time:5 mins read
Arquivo pessoal

Edna Araújo foi uma das vozes que trouxeram à tona a desigualdade social e racial na pandemia de Covid-19

Enfermeira, professora, doutora e, antes de tudo, mulher negra, Edna Maria de Araújo cresceu em um bairro de periferia em Feira de Santana, na Bahia. Parte de uma família de sete irmãos, sonhava em cursar Medicina, mas, sem condições financeiras, optou por Enfermagem e Obstetrícia. Superou obstáculos para construir uma trajetória de realizações acadêmicas e profissionais e foi uma das vozes que trouxeram à tona a desigualdade social e racial na pandemia de Covid-19. “É a população negra, na sua maioria, que não pode ficar em casa fazendo home office e vive em condições desfavoráveis”, diz a pesquisadora que se debruçou sobre o tema nos últimos dois anos.

Especial Dia Internacional da Mulher: 7 histórias inspiradoras

Estudos feitos com outros pesquisadores mostraram que o registro sobre a raça e cor da pele dos doentes por Covid-19 e dos vacinados, apesar de ser obrigatório, é feito de forma inadequada na maioria dos estados. Mesmo com essa dificuldade, levantamentos feitos a partir de diferentes sistemas de informações sobre saúde concluíram que pessoas negras e indígenas tiveram maiores taxas de hospitalizações e de mortes por Covid-19 do que pessoas brancas.

Uma das pesquisas que fez com alunos, por exemplo, traçou o perfil de pessoas com doença falciforme em Feira de Santana (BA), que atinge principalmente pessoas negras e indígenas. O grupo conseguiu incentivar a criação de uma associação dentro da universidade para facilitar a luta por melhor qualidade de vida para essas pessoas. “Sofremos muitas retaliações por preconceito. Isso não nos impediu de fazer muitas pesquisas que evidenciaram as dificuldades que essas populações enfrentam e como isso impacta na vida e na saúde delas”.

Na academia, era a exceção. “À medida que eu ia avançando na carreira acadêmica, ficava mais difícil eu ter como par outra mulher negra.”

Pesquisas para ter avanço

No doutorado em Saúde Pública, Araújo estudou a diferença entre a mortalidade por homicídio entre negros e brancos. Foi duas vezes estudar nos Estados Unidos com bolsas de estudo governamentais, uma delas para fazer um pós-doutorado, quando comparou a vida de mulheres negras da Filadélfia e do estado da Bahia. “A gente não faz a pesquisa pela pesquisa, faz para ter avanços, para que essas populações tenham uma melhor assistência, uma melhor qualidade de vida”, explica. O estudo mostrou que o fato de ser uma mulher negra e pobre causa um impacto muito maior à saúde do que ter apenas uma dessas identidades.

Hoje, aposentada das salas de aula da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), a professora segue atuando como orientadora de alunos do mestrado e do doutorado do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da universidade e no mestrado profissional em Saúde da População Negra e Indígena da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia). Integra ainda o conselho do “The Ubuntu Center on Racism, Global Movements & Populations Health Equity”, da Drexel University Dornsife School of Public Health, na Filadélfia (EUA).

Há três anos, ajudou a criou o grupo temático Racismo e Saúde na Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). “A partir dele, podemos fazer pesquisas e publicar notas denunciando as condições que a população negra vive neste país e como essas condições precárias foram ainda mais impactadas pela pandemia.”

Agora, Edna trabalha em um novo estudo sobre a importância de incluir o tema da saúde integral da população negra nos cursos da área da saúde. “Para um futuro mais a médio e longo prazo penso em viajar e escrever um livro sobre a minha trajetória para incentivar outras mulheres negras a serem resilientes na luta por mobilidade e justiça social no mundo.”

Mais do Dia Internacional da Mulher:

A diretora de parcerias e comunidade do YouTube para Canadá e América Latina, Bibiana Leite, trabalha para conseguir resultados concretos no que diz respeito à inclusão dentro das empresas.

Para Carla Assumpção, diretora-geral da Swarowski no Brasil, a gestão de uma empresa não deve se limitar a mirar resultados, mas deve promover um ambiente corporativo mais humano.

A mineira Deia Vilela, que lidera uma divisão regional da gigante IFF, conta quais habilidades foram necessárias para construir uma carreira sólida e conciliá-la com a maternidade.

Flávia Carvalho, diretora de relações com investidores da Viveo, foi contratada grávida e escolhida para tocar o sino da B3 quando a empresa fez seu IPO – e ela estava prestes a dar à luz. Aqui ela conta um pouco sobre como é liderar um processo tão complexo tendo um bebê no colo.

Negra e periférica, Rosane Santos resolveu mudar para a área de ESG depois de fazer um MBA na Inglaterra, quando o assunto era incipiente no Brasil. E hoje é diretora de sustentabilidade da Bahia Mineração.

Vanusia Nogueira é a brasileira que vem fazendo história como a primeira mulher na diretoria da Organização Internacional do Café.

O post Doutora em Saúde Pública, Edna Araújo cuida de populações vulneráveis apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Deixe um comentário