Que tal copiar o esforço em vez de só mirar o resultado?

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Maskot/Getty Images

É mais fácil olhar os louros do que as batalhas. A questão é: nada vem do nada.

Mesmo antes de eu sonhar escrever um livro sobre a história da Ambev, conheci muita empresa que tentava copiar a cultura da cervejaria. Como repórter de uma revista de negócios (o que fui por quatro anos), ouvia relatos semelhantes e ficava intrigada porque o final, em geral, não era feliz. É realmente inspirador uma companhia brasileira que partiu de sistemas e modus operandi ultrapassados e se tornou líder global em seu setor e internacionalmente reconhecida por sua gestão e cultura forte. “As pessoas querem o omelete, mas não estão dispostas a quebrar os ovos”, analisou uma entrevistada, já durante a apuração do livro. Vira e mexe me lembro dessa frase.

Por exemplo, um dia desses, enquanto conversava com estudantes universitários sobre a trajetória da AB InBev. Quem não quer os resultados positivos, muito além de previsões conservadoras? Quem não quer se tornar referência? Quem não quer crescer mesmo em cenários adversos e contraintuitivos?

A questão é: nada vem do nada.

É mais fácil olhar os resultados e querer copiar. Isso vale não só para Ambev, nem só para empresas. Vale para tudo. É mais fácil olhar os louros do que as batalhas. A tal da grama mais verdinha do vizinho. Ou como está na moda agora: quem vê close não vê corre.

Outro dia, uma frase me chamou a atenção em um seriado água com açúcar, tirei até foto da tela. “A grama é sempre mais verde onde você rega”. Quem falou foi o personagem de um fazendeiro, sobre o que aprendeu com a labuta diária.

O desejo de colher os frutos que outro colheu deveria vir acompanhado da curiosidade de saber do que ele teve que abrir mão para isso e da disposição para fazer algo comparável. Qual a disciplina por trás de resultados tão animadores. Em que pontos do caminho quase se sucumbiu. Quais riscos se correu. Toda essa parte trabalhosa, muitas vezes dura e nem sempre agradável que faz parte dos bastidores de qualquer história de sucesso.

Fiquei pensando, depois do papo com os estudantes e de uma reflexão que se estendeu à minha vida pessoal, que a gente devia gastar mais tempo imitando esforços do que tentando replicar resultados. Até porque os esforços são a única parte do jogo que depende de nós – o resultado depende sempre de muitas outras variáveis, incluindo as extrínsecas e as imponderáveis.

No caso da Ambev (e em todos os outros) não há como garantir os mesmos resultados. No máximo, você pode fazer os mesmos esforços e ver no que dá.

Da minha parte, alimentei minha curiosidade durante os três anos de apuração para o livro que escrevi – e aprendi muito conhecendo aquela história no detalhe. Aplico no meu dia a dia parte desse aprendizado. Me apaixonei pelo poder da construção, pela disciplina, e entendi que querer realizar algo grande significa fazer grandes esforços, assumir responsabilidades e correr altos riscos.

Significa que muita gente vai criticar, muita gente vai gostar, mas o que importa saber mesmo é que o resultado nunca está garantido. O que pode contribuir com um sono tranquilo, sejam quais forem os frutos a serem colhidos, é a certeza de que fez o melhor que podia. Tudo o que foi capaz de alcançar. Isso não garante nada, mas o que se colhe na jornada vale como recompensa por si só.

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Ariane Abdallah é jornalista, autora do livro “De um gole só – a história da Ambev e a criação da maior cervejaria do mundo”, co-organizadora do “Fora da Curva 3 – unicórnios e start-ups de sucesso” e fundadora do Atelier de Conteúdo, empresa especializada na produção de livros, artigos e estudos de cultura organizacional. Praticante de ashtanga vinyasa yoga, considera o autoconhecimento a base do empreendedorismo.

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