À medida que os Estado Unidos e a Europa aumentam as sanções contra os mais ricos da Rússia – incluindo a promessa de “caçar” seus iates e mansões – oligarcas que acumularam suas fortunas permanecendo leais ao presidente russo Vladimir Putin estão começando a se manifestar contra a invasão da Ucrânia.
Nenhum citou diretamente Putin, mas suas declarações públicas pedindo paz são um indício sem precedentes de dissidência contra o presidente.
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O ucraniano Mikhail Fridman, fundador do Alfa Bank, o maior banco privado da Rússia, tornou-se o primeiro oligarca a se manifestar – aparentemente sem querer – contra as ordens de invasão de Vladimir Putin, segundo o Financial Times.
“Não faço declarações políticas, sou um empresário que tem responsabilidades com milhares de funcionários na Rússia e na Ucrânia. Estou convencido, porém, de que a guerra nunca pode ser a resposta. Essa crise custará vidas e prejudicará duas nações que são irmãs há centenas de anos”, escreveu ele em um e-mail para funcionários de sua empresa de private equity LetterOne, que mais tarde se tornou público.
Nele, ele citou seu próprio histórico – Fridman viveu na Ucrânia Ocidental até os 17 anos. Os pais são cidadãos ucranianos e moram em Lviv, que ele chama de sua “cidade favorita”, e é uma das cidades ocupadas pelos militares russos.
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A União Europeia impôs sanções a Fridman pessoalmente ontem (28), que incluem o congelamento de seus bens e a proibição de viajar. Seu parceiro de negócios, Alexey Kuzmichev, disse à Forbes Rússia em uma entrevista que concorda com Fridman, mas acrescentou: “Não vou fazer nenhuma declaração política”.
Oleg Deripaska, que construiu sua fortuna com matérias-primas russas e foi casado com Polina Yumasheva, enteada de uma das filhas de Boris Yeltsin, também pediu o fim da guerra em um post no Telegram, propondo paz. “O mundo é muito importante! As negociações precisam começar o mais rápido possível!”, escreveu. Ontem, ele chamou a situação econômica em rápida decadência na Rússia de “crise real” e pediu maiores reformas econômicas. “É preciso mudar a política econômica, acabar com todo esse capitalismo”, escreveu.
Ontem, no mesmo dia em que foi atingido pelas sanções da UE, a pessoa mais rica da Rússia, o barão do aço Alexei Mordashov, chamou a luta de “tragédia de dois povos irmãos” e disse que eles devem fazer tudo que for necessário para sair do conflito e parar o derramamento de sangue. “É terrível que ucranianos e russos estejam morrendo, que pessoas estejam passando por dificuldades e a economia esteja entrando em colapso. Devemos fazer todo o necessário para que uma saída desse conflito seja encontrada em um futuro muito próximo e o derramamento de sangue pare para ajudar as pessoas afetadas a restaurar a vida normal”, disse o bilionário.
“Não tenho absolutamente nada a ver com as atuais tensões geopolíticas. Não entendo por que as sanções foram impostas contra nós”, acrescentou.
Outros bilionários russos também pediram o fim da guerra. O bilionário Oleg Tinkov, fundador do Tinkoff Bank, que atualmente está em tratamento contra um câncer, disse que sua doença trouxe alguma perspectiva sobre a fragilidade da vida humana. “Pessoas inocentes estão morrendo na Ucrânia agora, todos os dias, isso é impensável e inaceitável! Os Estados devem gastar dinheiro no tratamento de pessoas, em pesquisas para derrotar o câncer, e não em guerra”, disse ele.
Dmitry e Igor Bukhman, os irmãos por trás da desenvolvedora de videogames Playrix, que faz jogos de aplicativos gratuitos como Homescapes e Fishdom, disseram que dariam a cada um de seus 4 mil funcionários um salário extra e enfatizaram que a violência “nunca pode ser a solução para um problema.”
“É difícil ficar calado na situação atual, o que está acontecendo é uma grande tragédia para todos, inclusive para nossa empresa. Era difícil imaginar”, escreveram os irmãos em um post no Facebook.
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Igor Rybakov, o bilionário coproprietário da produtora de telhados e isolamento Technonicol, disse em seu canal no YouTube na semana passada que entende que “o limite foi ultrapassado e esta será uma grande história que tocará a vida de milhões de pessoas. É triste.” Ao mesmo tempo, ele disse aos espectadores que não entrassem em pânico e comprassem títulos depreciados de empresas russas. “Tudo isso me irrita. Quero que toda essa incerteza acabe”, acrescentou, segundo a Forbes Russia.
O significado dessas declarações é grande. Já se passaram quase duas décadas desde que o crítico de Putin e então homem mais rico da Rússia, Mikhail Khodorkovsky, foi preso por suposta evasão fiscal depois de financiar partidos de oposição contra Putin e teve sua fortuna confiscada. (Ele negou todas as acusações). Desde então, poucos ou nenhum oligarca ousaram se opor a Putin. O próprio Khodorkovsky tem pedido aos russos que saiam às ruas, dizendo no Instagram que “a guerra contra a Ucrânia deve ser interrompida a qualquer custo”.
É impossível saber se esses bilionários são sinceros em seus apelos para acabar com os combates ou se estão dando uma resposta a sanções iminentes ou a uma economia em colapso que está em queda livre.
Ainda há muitos que ainda não falaram. Roman Abramovich, o bilionário proprietário do time de futebol inglês Chelsea, entregou a “administração” (mas não a propriedade) do time a uma fundação de caridade – um gesto em grande parte sem sentido – e não tomou partido publicamente, mas estaria envolvido em negociações de paz na Belarus, após o governo ucraniano pedir sua ajuda. (Sua filha Sofia Abramovich supostamente colocou um post anti-guerra nas redes sociais, de acordo com a jornalista britânica Carole Cadwalladr). O resto das dezenas de bilionários russos, incluindo vários sancionados pela UE ontem, incluindo o antigo investidor do Facebook, Alisher Usmanov, permanecem em silêncio.
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