Creio que a maioria das pessoas que acompanha a minha coluna na Forbes já sabe que eu sou praticante de esportes, tendo participado de várias provas de Iron Man e meio Iron Man, inclusive de quatro campeonatos mundiais nessa última categoria.
A não ser que tenha algum problema físico, qualquer pessoa é capaz de fazer uma prova de Iron Man, mesmo que não nade muito bem, como é o meu caso.
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Treinar para o Iron exige, em primeiro lugar, reservar um tempo do dia para pedalar, correr e nadar e manter-se fazendo isso, ainda que não se tenha muita vontade em um determinado dia. Exige seguir à risca a planilha de treinos, sem adotar o chamado “jeitinho brasileiro” de tomar um atalho para facilitar e acelerar as coisas.
Você pode até, conscientemente, querer tomar o caminho mais curto, por exemplo, correndo ou pedalando metade do que estava programado pelo seu técnico para aquele período, mas é preciso que você saiba que na hora H, no momento que você se colocar à prova para competir, dificilmente vai conseguir completar aquilo a que tinha se proposto.
Cuidar da saúde mental é a mesma coisa que treinar para uma prova de Iron: exigirá de você autodisciplina, isto é, a capacidade de se obrigar a fazer determinadas coisas que vão beneficiá-lo mesmo quando você não quer fazê-las.
Nós, médicos que cuidamos de pessoas com problemas de saúde mental, sabemos que criar uma rotina de hábitos saudáveis, e manter-se perseverante nessa rotina, é a melhor forma de cuidar da saúde mental ou de se recuperar de um transtorno mental, se você convive com algum. Entre as boas coisas que você pode adotar está a própria prática de atividade física, reservar momentos para o seu lazer, desligar-se, ainda que por breves períodos, das redes sociais.
Assim como acontece com os treinos, você vai falhar em suas tentativas de manter-se disciplinado. É normal. Mas saiba que forçar-se a dar um passo em nome da autodisciplina vai criar, com o tempo, uma resposta tão positiva e recompensadora que você não vai querer mais viver sem ela.
O seu humor vai mudar para melhor, os resultados dos seus exames de sangue vão voltar aos índices considerados normais (sinal de que sua saúde física melhorou), sua autoestima, que tinha sido jogada para debaixo do tapete, vai voltar a ficar no seu radar, e você vai se sentir mais capacitado para enfrentar os dissabores e as dificuldades da vida.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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