A reunião sobre mudanças climáticas realizada em novembro em Glasgow, na Escócia, remeteu para 2023 a regulamentação do mercado de carbono. O Brasil está atento às negociações que culminarão com a implementação desse mercado, pois ele pode representar uma importante fonte de renda para o país.
O setor privado esteve presente no evento e apresentou muitas ações relevantes realizadas aqui em relação à descarbonização, com destaque para a agroenergia. Esse é realmente um tema da maior importância: afinal, 48% da nossa matriz energética é renovável, enquanto a do mundo todo não chega a 15%.
Tal diferencial incorpora números surpreendentes: a cana-de-açúcar responde por 19,1% da nossa matriz energética! O etanol da cana emite 10% do CO2 emitido pela gasolina. O etanol hidratado usado nos carros flex, somado ao anidro misturado à gasolina na proporção de 27%, reduziu a emissão de CO2 equivalente a 575 milhões de toneladas, desde março de 2003 (quando foram lançados os carros flex) até agosto deste ano. Essa redução corresponde à soma das emissões totais da França e da Espanha. Ou ainda: para atingir a mesma economia de CO2, seria necessário plantar mais de 4 bilhões de árvores ao longo de 20 anos.
O etanol produzido pelo setor sucroenergético é responsável por quase 50% da energia consumida pelos veículos leves no Brasil, considerada a demanda do ciclo Otto em 2020. O uso do etanol nos veículos flex, nos híbridos e, no futuro, nos veículos movidos a célula de combustível (hidrogênio) oferece uma solução complementar para a mobilidade de baixo carbono.
Além do etanol, a indústria canavieira produz bioeletricidade, energia limpa e renovável que é complementar à geração de hidroeletricidade: a safra canavieira vai de maio a novembro, período da seca no centro-sul do país, quando os reservatórios das hidroelétricas estão mais vazios. Em 2020, a geração de bioeletricidade lançada na rede de energia foi de 22,6 TWh, e se estima que até 2030 esse número possa chegar a 36,8 TWh, correspondendo a 50% da geração de Itaipu. E o biogás e o biometano gerados a partir da vinhaça (resíduo da destilação do etanol) estão crescendo na atividade produtiva, bem como o etanol de segunda geração, feito com o bagaço e as folhas da cana-de-açúcar.
E ainda tem o etanol de milho, que vem crescendo com competitividade, sobretudo no Centro–Oeste, distante das refinarias de petróleo. Na safra 2020/21, do total de 32,5 bilhões de litros de etanol produzidos, 2,57 bilhões foram derivados de milho.
Temos outro importante avanço com a produção de biodiesel: em 2020 foram 6,4 bilhões de litros, sobretudo a partir de soja, gerando uma economia de mais de US$ 2 bilhões de importação. O biodiesel emite apenas 20% do CO2 emitido pelo diesel de origem fóssil e pode ser obtido também a partir de sebo bovino, óleo de palma e mamona e uma grande quantidade de outras oleaginosas.
A agroenergia brasileira já dá e dará notável contribuição à descarbonização em nosso país, ajudando inclusive a atingir as metas de redução de emissões assumidas nos acordos assinados pelo governo.
Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo, agricultor, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para Cooperativas. Participa de diversos conselhos empresariais, institucionais e acadêmicos.
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Coluna publicada na edição 93 da revista Forbes, de dezembro de 2021
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