A comida é um negócio complicado – plantar, cultivar, colher e mais: o que escolher para comer. Tentador dizer que esse é um processo relativamente recente, mas se você pudesse viajar no tempo para conversar com os agricultores que começaram a produzir milho lá atrás, de forma seletiva a partir de teosinto [ou zea, gênero botânico que foi domesticado], eles provavelmente diriam que o ocorrido com essa planta não foi por acaso.
De um talo relativamente fino de grama segmentada, milhares de anos depois podemos engordar um bovino, adoçar um refrigerante e dirigir um carro com a mesma colheita. Agora, os avanços na produtividade não levam mais milênios – em vez disso são necessárias algumas décadas ou apenas anos.
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Neste mês de fevereiro, a empresa norte-americana de biotecnologia Inari Agriculture, anunciou que recebeu duas patentes, nos EUA, para métodos proprietários de edição genômica de milho e de sementes de soja previamente modificados geneticamente (GM – um OGM é um organismo GM) por outras empresas para aumentar a proteção contra insetos para o milho e manejo de plantas daninhas para a soja.
As patentes são baseadas na tecnologia CRISPR (sigla em inglês para Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Interespaçadas) da Inari para edição de genes, que transforma cada semente em um novo “evento” ou patente, separado de seu progenitor OGM.
No final de 2016, a Inari começou como uma startup pioneira em Cambridge, Massachusetts (agora com filiais na Bélgica e no Parque de Pesquisa da Universidade de Purdue, em Indiana) para aplicar tecnologia de ponta para ajudar as culturas comerciais a se adaptarem às mudanças climáticas usando menos insumos, como água e fertilizantes.
O objetivo da Inari tem sido projetar melhorias para culturas amplamente cultivadas, como milho e soja, visando um aumento de 20% no rendimento da soja e 10% no milho. Além disso, a meta é reduzir a quantidade de água e nitrogênio para o milho em 40%.
Esses aumentos no rendimento das lavouras seriam tremendos, dado que o milho ganhou em média apenas 1,9 bushel (51,7 kg) por ano desde a década de 1950, mantendo-se estável mesmo com a introdução de características transgênicas no último quarto de século.
Para contextualizar, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estimou a média de bushels de milho dos EUA por acre em 2021 em 177 [um bushel equivale a 27,216 quilos e um acre é igual a 0,4 hectare], e a soja 51,4 bushel por acre – de modo que 1,9 é agora cerca de 1% ao ano.
Traços GM transgênicos são aqueles retirados de espécies externas e inseridos no genoma da semente para conferir à planta resultante algum tipo de aprimoramento ou proteção. Um exemplo é o milho Bt (Bacillus thuringiensis), geneticamente modificado com uma proteína inserida da bactéria do solo Bt, que mata a broca do milho europeu – a planta do milho pode resistir à larva que tenta se alimentar dela. Outro exemplo é a soja Roundup Ready, projetada para ser resistente ao herbicida Roundup, projetado para matar qualquer outra planta que compita pela água, nutrientes e luz solar da soja.
Historicamente, a introdução de uma nova característica GM em uma cultura requer a adição de um marcador selecionável dizendo ao gene para onde ir, explicou Emily Negrin, diretora sênior de assuntos corporativos da Inari. As patentes para esses traços têm sido sobre o reconhecimento do “evento” criado pela alteração para benefício financeiro e proprietário desse inventor.
Em geral, o que a empresa Inari fez nessas patentes de milho e soja provou ser um novo método para entrar em cada característica da planta e direcionar o transgene anteriormente inserido para conferir uma característica favorável específica, a fim de editar o marcador selecionável – que a Inari diz não ter função benéfica para a planta. Ou seja, não há inserção alguma nos genes, mas edição.
Isso cria duas novas patentes separadas das patentes anteriores, no caso OGMs, da DuPont Pioneer (resistência à broca do milho) e da Monsanto (soja Roundup Ready).
Negrin disse que a empresa se concentra no uso de edição de genes multiplex para criar plantas que dão melhor rendimento usando menos água e fertilizantes, já que não há nenhuma característica ou edição GM conhecida até agora que possa fazer isso. Caso contrário, “alguém teria feito isso”, acrescentou.
“Não importa o que façamos aqui na Inari, nossa missão é sempre voltar para como criamos um grande resultado positivo. Como contribuímos para um sistema alimentar vencedor?” disse. De acordo com a executiva, o trabalho tem três pilares: melhorar o rendimento e a produtividade; usar menos recursos do planeta e aumentar a lucratividade dos agricultores que, por sua vez, impulsiona as economias rurais. Além disso, a missão é fazer os três em conjunto para “desbloquear todo o potencial das sementes para os produtores e o meio ambiente – achamos que elas podem coexistir”.
Trabalhar com essa sementes GM é importante porque, segundo ela, mais de 450 milhões de acres [182,1 milhões de hectares] em todo o mundo são plantados com essas sementes, incluindo 90% dos acres de milho e soja dos EUA. Em 2021, os agricultores dos EUA plantaram 85,4 milhões de acres de milho [34,5 milhões de hectares] e 86,3 milhões de acres de soja [34,9 milhões de hectares], áreas que ano a ano variam muito pouco.
“Você pode casar o melhor da edição genética para sustentabilidade com a modificação genética necessária” visando produzir a melhor semente, disse Trivisvavet. “É muito crítico para alimentarmos o mundo… Espero que o debate seja em torno do benefício para os agricultores e não da tecnologia em si.”
Um benefício pretendido para os produtores é o cenário de maior rendimento com custo dos insumos mais baixo. Outro benefício potencial poderia estar na forma como os agricultores compram sementes. As sementes transgênicas não são baratas, tanto por causa da pesquisa e desenvolvimento quanto pelas taxas que as pequenas empresas multiplicadoras de sementes têm de pagar a gigantes, como a Bayer-Global (que comprou a Monsanto) e a Corteva Agriscience (proprietária da DuPont Pioneer) para acessar a tecnologia transgênica.
As patentes de edição da Inari são consideradas únicas e podem ser licenciadas diretamente para qualquer empresa de sementes, inclusive de menor porte. Trivisvavet disse que a Inari começará sua comercialização nos Estados Unidos, depois deve oferecer o produto na América do Sul e globalmente. Ela antecipa que as primeiras sementes podem estar disponíveis para os agricultores dentro de 3 a 4 safras.
A Inari tem várias outras patentes pendentes, algumas das quais espera que sejam concedidas nos próximos meses. A empresa também apresentou cinco pedidos de “patente de conceito” que cobrem uma gama mais ampla de características GM em grandes culturas, incluindo algodão e canola. Se as patentes individuais abordam uma edição específica, uma patente de conceito destina-se a codificar um método que pode ser usado em várias edições de genes.
*Ann Hinch é colaboradora da Forbes EUA e escreve sobre práticas agrícolas, políticas, cultura e negócios por 20 anos. Foi editora do jornal Farm World.
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