O conflito entre Rússia e Ucrânia representa um grande abalo ao sistema político internacional e, obviamente, uma ameaça terrível a milhares de vidas.
Trata-se da ofensiva de uma das maiores potências nucleares do mundo contra um país de 40 milhões de habitantes. Os possíveis desdobramentos colocam em xeque acordos internacionais e regras de convivência democráticas e de respeito à soberania dos países, e o pior: o ataque à dignidade humana de milhares de inocentes.
Isso é muito sério e as consequências de ordem política e econômica ainda são difíceis de prever com precisão. De antemão, sabemos que não serão tempos fáceis e, independente das questões financeiras de cada um de nós, é preciso sensibilidade a toda crise humanitária que decorre de conflitos como este.
Mas, eu compreendo que você, pequeno investidor, esteja cheio de dúvidas quanto ao que deve fazer com seus recursos. Entendo sua preocupação e a primeira coisa que tenho a dizer é que não é momento para pânico!
Ao contrário, em termos de mercado financeiro, o momento é de serenidade, observação e visão crítica. Siga comigo neste artigo e vou tentar te mostrar quais aspectos me fazem crer que, em se tratando dos nossos investimentos, o pânico é desnecessário e até mesmo precipitado.
O que pode acontecer com os mercados
Como eu disse acima, o cenário geopolítico é complexo, repleto de variáveis macroeconômicas que envolvem vários países. Ainda assim, algumas coisas podemos inferir:
Rússia e Ucrânia são dois grandes produtores mundiais de commodities, especialmente petróleo e grãos. Atualmente, a oferta de petróleo russo é equivalente a quase 12% da produção global, enquanto a Ucrânia é o segundo maior exportador mundial de grãos, além de importante fornecedor de aço e ferro para a Europa.
Dessa forma, o conflito irá impactar diretamente o preço de commodities agrícolas, fertilizantes, petróleo e gás natural.
Na quinta (24), os bombardeios russos às áreas urbanas da Ucrânia, fizeram prevalecer a aversão ao risco e os mercados reagiram forte com quedas nas bolsas do mundo todo e subida do dólar, ouro e prata.
Em momentos de tensão e incerteza, é bastante natural a fuga de capitais para ativos mais seguros e de maior qualidade, como títulos do Tesouro dos EUA, ativos de empresas sólidas e metais preciosos, sobretudo em países desenvolvidos.
Esses movimentos são usuais: os grandes players se retiram dos ativos de risco, reduzem exposição nos países emergentes, avaliam os cenários e tendências e nos dias subsequentes vão voltando de acordo com o desenrolar dos acontecimentos.
Como tudo isso reflete no Brasil
O Brasil já vinha recebendo expressivos aportes dos grandes investidores internacionais. A subida da Selic com maior força a partir do segundo trimestre de 2021 foi um movimento de antecipação de tendência que acabou colocando nosso país como a “bola da vez” para o capital estrangeiro.
Com a crise internacional desencadeada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, esse movimento de entrada de capital estrangeiro deve continuar. Apesar de prevalecer o receio nos movimentos de curtíssimo prazo, a tendência para nosso mercado continua sendo de alta.
É claro que devemos nos preparar para muita volatilidade. Entretanto, com os investidores internacionais diminuindo suas posições em empresas de tecnologia e migrando para empresas tradicionais, deve ampliar ainda mais o volume de aportes em países emergentes.
Nesse contexto, o Brasil acaba sendo, dentro do Brics, o país que representa o porto seguro para investidores internacionais por vários motivos, entre eles: o fato de sermos grandes produtores e exportadores de commodities, somado à sinalização clara do Comitê de Política Monetária quanto à disposição de continuar subindo a taxa de juros para trazer a inflação de volta ao regime de metas.
Além disso, a divulgação recente dos dados de arrecadação pela Receita Federal, que teve crescimento recorde em 2021, é um importante indicador que reduz o risco Brasil. Ou seja, o país está fazendo dívida ao emitir títulos com altas taxas de juros, mas tem solvência para lastrear sua dívida.
Sendo assim, embora tenhamos questões políticas que causam alguma instabilidade, podemos considerar que, ante o complexo cenário macroeconômico mundial, essas questões tornam-se de menor relevância. Com isso, o investidor estrangeiro deve continuar aproveitando as oportunidades por aqui, tanto na nossa Bolsa de Valores, quanto na renda fixa.
O que o pequeno investidor deve fazer neste momento
Além de manter a calma, cabe ao pequeno investidor entender que não é o momento para movimentos bruscos nos investimentos. Não faz nenhum sentido, por exemplo, você sair em busca de proteção à carteira agora.
Proteção de carteira é algo que se faz antecipadamente, com planejamento, estudando e aplicando estratégias corretas. Existem as puts, que são opções de ações, que podem e devem ser usadas para isso.
Reforço também que, ao contrário do que muita gente afirma no mercado, criptomoedas não são uma forma de proteção. Portanto, comprar esse tipo de ativo pensando em proteção de carteira é um erro bem grande.
Criptomoedas são um modo de você se expor a um ativo descorrelacionado do restante de sua carteira, porém, em um percentual pequeno, dado o alto risco envolvido, e tendo claro que não se trata de uma estratégia de proteção.
A Selic tende a continuar subindo – muitos analistas já arriscam dizer que ela chegará a 13% – sobretudo neste momento em que a pressão inflacionária no primeiro semestre deve se intensificar por causa da escassez de commodities no mercado internacional.
Dessa forma, oportunidades interessantes estarão disponíveis na renda fixa e também na Bolsa, que terá ativos ainda bastante descontados.
O fato é que já vivenciamos cenários similares e, historicamente, o que vemos é alta volatilidade no curto prazo trazendo riscos, mas também oportunidades àqueles que estudam e buscam seguir um planejamento bem definido.
No longo prazo, a dissipação do cenário da crise – e o reordenamento de forças que sempre ocorre entre grandes potências – favorece a recuperação dos mercados. Então, a resposta à sua dúvida quanto ao que fazer, é faça “o arroz com feijão”: estudo, planejamento, análise estratégica e uma carteira diversificada com percentuais de alocação adequados às suas metas.
Todo o resto não está sob seu controle, portanto, resista à tentação de seguir a manada e aporte na sua carteira todos os meses – essa será uma das mais importantes atitudes.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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