O presidente da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), André Nassar, informou hoje (25) que a exportação de óleo de soja do Brasil vai dar um salto em 2022, reagindo a uma demanda recorde da Índia.
O país asiático é o maior importador global do produto, mas está enfrentando problemas de fornecimento do óleo de girassol vindo da Ucrânia e Rússia, países atualmente envolvidos em um conflito ativo. Além disso, dados do governo indiano mostram que o produto de palma está em escassez na Indonésia.
Com a demanda externa adicional sustentando o processamento de soja, as exportações do grão in natura brasileiro – que tem a China como principal comprador – deverão ser pressionadas.
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Nassar acredita em um processamento maior que o esperado, com margens relativamente boas para óleo e farelo. Isso reduzirá ainda mais a oferta do grão para exportação, já severamente afetada pela quebra de safra devido à seca (problema que atinge também Argentina e Paraguai).
“Vamos exportar menos soja, mas a exportação de óleo e farelo de soja vai nos surpreender positivamente este ano”, destacou o executivo da Abiove, observando que os embarques totais de óleo brasileiro podem ficar acima das estimadas 1,7 milhão de toneladas, um recorde para o país.
As exportações brasileiras de óleo de soja em janeiro somaram 170,3 mil toneladas, ante apenas 8,5 mil no mesmo período do ano passado. A Índia for responsável por comprar quase 140 mil toneladas, maior volume em pelo menos 20 anos, segundo dados do governo. Só no primeiro mês do ano, os embarques ao país asiático somaram mais de 20% dos volumes de todo o ano passado para o destino.
Segundo Nassar, a Índia quer aumentar a participação do óleo de soja na matriz de consumo, porque está se sentindo “insegura” com a oferta de óleo de palma da Indonésia e agora com o óleo de girassol, da Ucrânia e Rússia.
Além da Índia, o Brasil também exporta grandes volumes de óleo de soja para a China, que comprou 427,3 mil toneladas do produto brasileiro em 2021.
Menor exportação de soja
Outro fator que beneficia o Brasil é a quebra da safra de soja na Argentina, maior exportador global de óleo e farelo de soja. No Paraguai, as “indústrias estão paradas” pela escassez da matéria-prima, comentou Nassar.
Apesar de acreditar em um forte processamento de soja no Brasil, o presidente da Abiove comentou que alguns players ainda têm dúvidas sobre quem ganhará a quebra de braço: o esmagamento ou a exportação do grão.
Pelos números do balanço de oferta e demanda da Abiove, atualizados pela última vez ao final de janeiro, a exportação de soja em grão do Brasil ainda seria recorde, de 86,9 milhões de toneladas – mas isso considerando uma safra de 135,8 milhões de toneladas, acima do estimado pelo mercado.
A seca no Sul do Brasil levou a consultoria Céleres a reduzir sua projeção para a safra nacional 2021/22 de soja, de 145 milhões de toneladas estimados no início da temporada para os atuais 126 milhões.
A previsão de exportações do grão também caiu de 96 milhões de toneladas para 78 milhões, segundo o analista da Céleres Enilson Nogueira. Ele completou que, em temporada de quebra de safra, como a que está sendo colhida agora no Brasil, a tendência é que o grão fique no país. As tradings, na ausência de oferta para fechar lotes nos navios, podem buscar o produto em outras origens, deixando mais grãos no mercado local.
A Abiove, que deverá ter novos números em março com base nas avaliações dos associados, apontou em sua última projeção processamento de 48 milhões de toneladas, o que ainda seria um recorde, e exportações de farelo e óleo avançando para 18,3 milhões e 1,7 milhão de toneladas, respectivamente.
No ano passado, o esmagamento foi de 47 milhões de toneladas, enquanto as exportações de farelo e óleo foram de respectivos 17,2 milhões e 1,65 milhão, conforme dados da entidade.
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Nassar admitiu que as margens já não estão tão boas como estavam, após a disparada do preço do grão. Mas ele avalia que, se houver liquidez para óleo e farelo, elas se equilibrariam.
Na mesma linha, o analista da Céleres disse que a participação do óleo na margem do esmagador se tornou relevante, antes pela destinação como matéria-prima do biodiesel e agora devido à exportação do óleo em si.
“O funcionamento da demanda fez com que os preços do óleo de soja subissem no mercado internacional. Agora, o tema do biodiesel está menor do que em anos anteriores no mercado interno, mas a demanda externa está elevada”, afirmou Nogueira.
Os futuros do óleo de soja cotados na bolsa de Chicago atingiram hoje (25) uma máxima de US$ 74,72 centavos por libra-peso, com preocupações sobre o fornecimento global de óleo vegetal em meio ao conflito na principal região produtora de óleo de girassol.
“No caso de ruptura na cadeia logística do óleo de girassol, outros óleos devem ver sua demanda reforçada (com destaque para os de soja, palma e canola), num momento em que o balanço mundial de óleos vegetais não está folgado, com a demanda forte e problemas pelo lado da oferta”, disse a StoneX em relatório.
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