Guerra entre Rússia e Ucrânia pode afetar a produção agrícola brasileira

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Wenderson Araujo/Trilux/CNA

Embora ocorra em outro continente, a guerra entre Rússia e Ucrânia pode gerar impactos ao agronegócio brasileiro

O mundo está em suspense acompanhando a guerra entre Rússia e Ucrânia. Por isso, discutiremos hoje como o conflito tem afetado o preço das commodities e como isto impacta a vida do produtor rural brasileiro

Não temos uma perspectiva clara, de imediato, pois a invasão da Rússia à Ucrânia aconteceu na madrugada de quarta-feira (23). Contudo, os reflexos já podem ser sentidos no câmbio, trigo, soja, milho, fertilizantes, petróleo, gás natural entre outros, impactando diretamente o nosso agro. O Brasil pode parecer muito distante, geograficamente falando, mas toda a cadeia produtiva do agronegócio mundial sente os reflexos; é como um castelo de cartas, quando você mexe em uma carta, todas as outras são afetadas em cadeia. Mas como o que acontece lá no leste Europeu impacta nosso agro aqui? 

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A Rússia é um grande exportador de commodities como petróleo, gás natural, trigo, milho e fertilizantes. E o seu ataque à Ucrânia causou uma disparada no preço do petróleo e gás natural nas bolsas mundiais, refletindo no frete internacional, uma das variáveis na composição do custo dos produtos agrícolas. O mercado também segue apreensivo, pois regiões como a União Europeia e os EUA já anunciaram sanções contra a Rússia que podem afetar a disponibilidade de petróleo e gás natural.

Além do petróleo,  a guerra entre Rússia e Ucrânia desencadeou uma disparada generalizada no preço dos grãos na bolsa de Chicago nesta semana. A soja e o trigo atingiram o maior valor dos últimos 9 anos, levando a paralisação das negociações ontem (24), depois da cotação atingir o limite de variação diária. 

Rússia e Ucrânia são grandes exportadores mundiais de cereais, sendo o primeiro o maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia o quarto maior — de acordo com o USDA, Departamento de Agricultura, os dois países respondem por 30% das exportações globais de trigo.

Ambos também são responsáveis por 20% das exportações mundiais de milho, cereal que atingiu ontem (24), um dos maiores patamares da história: quase US$ 7 dólares por bushel. Devido ao conflito, a oferta de milho tende a ficar restrita, o que pode resultar em maior interesse pelo milho brasileiro no mercado externo. O mercado nacional de milho, que já vinha aquecido devido ao aumento da demanda do produto pelas usinas de etanol de milho, deve subir ainda mais, com a diminuição global do produto.

O mercado de proteína animal brasileiro também poderá ser impactado pelo conflito, pois a queda na oferta global de milho pode refletir nos custos de alimentação para porcos, galinhas e também gado leiteiro e de corte, gerando um efeito em cascata, que pode resultar em preços mais altos para os consumidores.

Os reflexos do conflito no leste europeu podem ser sentidos também no mercado de soja. A Ucrânia é a maior produtora e exportadora mundial de óleo de girassol e a desestruturação no mercado pode resultar na valorização de óleos concorrentes, como o óleo de soja. O mercado de soja que já vem em alta, devido a quebra de safra, ontem ultrapassou U$17 por bushel.

O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, mas por outro lado, importa mais de 80% dos fertilizantes que consome, como cloreto de potássio, ureia e fosfato. A Rússia por sua vez, é um grande exportador de fertilizantes para o mundo, o país exportou para o Brasil mais de 9 milhões de toneladas de fertilizantes NPK (nitrogenados, potássicos e fosfatados) em 2021, sendo o nosso maior fornecedor.  

A notícia da efetiva invasão da Rússia à Ucrânia também refletiu no mercado, ocasionando ontem (24) a paralisação do mercado de fertilizantes, que já vinha bastante estagnado. Com as possíveis sanções contra a Rússia, o produtor rural, que já vem encarando uma alta vertiginosa de mais de 150% no preço dos fertilizantes, agora terá que lidar com a possibilidade de mais aumento de preços e até escassez de produtos como ureia e potássio.

Com o aumento dos combustíveis e alimentos, a inflação, que já vem alta, pode subir ou se manter, o que afeta o poder de compra da população, afetando o consumo das famílias e prejudicando as cadeias de produção agropecuárias. Ou seja, a guerra entre Rússia e Ucrânia resulta em uma enorme desestruturação da cadeia de fornecimento global. A invasão não é só um atentado à soberania de um país, com a guerra, perdemos todos.

Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.

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