A tecnologia neurocientífica começa a ser usada no mercado de trabalho para aumentar o engajamento e alimentar o propósito entre as equipes. Essa é uma das frentes de atuação da health tech de neurociência CogniSigns, sediada nos Emirados Árabes e liderada pelo brasileiro Leandro Mattos, cofundador da startup. “Nós usamos a tecnologia para gerar impacto social. Quando você entende o porquê do que você faz, você respeita e compra essa ideia”, diz Mattos, que é um dos professores do curso Leading the Future, uma parceria entre a Forbes e SingularityU, que começa no próximo dia 7 de março (inscrições aqui).
Além do impacto no mundo corporativo, Mattos aborda a importância do tema na educação e na sociedade, que podem ganhar com as descobertas neurocientífcas. Nessa entrevista, ele conta um pouco mais sobre a interação entre laboratórios de pesquisa, novas tecnologias e lideranças nas empresas.
Forbes: Quais as principais tecnologias que a neurociência dispõe que se aplicam ao mercado de trabalho?
Leandro Mattos: A neuromodulação é uma ferramenta para aumentar a performance cerebral. São artefatos que inserem eletricidade no cérebro e que geram neuroplasticidade, ou seja, neurônios que não estavam ligados passam a ficar ligados de forma sintética. Dependendo da área cerebral em que isso é aplicado e o que ela opera no corpo humano e nas funções cognitivas, você pode resolver ou ajudar a resolver questões por melhorar o caminho das sinapses neurais. Existe uma indústria do cérebro, uma revolução que está chegando. Essas ferramentas vieram da tecnologia assistiva, feita para ajudar pessoas com deficiências motoras, mas estão ultrapassando essas barreiras. Estou desenvolvendo um produto de neuromodulação para ser apresentado no programa Global Grad Show de Dubai. O Optimus Brain, como chamamos, não faz parte da CogniSigns, mas de uma outra startup que fundei com meu sócio e professor em interações cérebro-máquina, Fabrício Brasil. Disponibilizaremos o produto para o mercado no primeiro semestre de 2023. Esse produto apoiará a causa autista, mas também pessoas neurotípicas em busca de melhores performances cognitivas. Na CogniSigns, criamos ferramentas de inteligência artificial e ciência de dados para triagem digital, por exemplo. Essa triagem digital é aplicada em situações de coleta de dados de usuários tanto para o marketing quanto para a promoção da saúde mental dos colaboradores.
F: Vocês lidam com pessoas consideradas neuroatípicas. Como é possível criar um ambiente seguro nas empresas para pessoas que estão fora da curva no que diz respeito ao funcionamento do cérebro?
LM: Nosso melhor desenvolvedor de software é autista. Se não soubéssemos o que é autismo, nós o teríamos demitido no primeiro mês. Por quê? Porque ele é super sincero, tem menos filtros sociais, mas para nós isso é ótimo, porque o entendemos. No caso de um superdotado, ele tem tomada de decisão rápida e predisposições diferentes. Um líder superdotado pode ter dificuldade em lidar com as pessoas por exigir alta performance e não perceber que é ele o ponto fora da curva. São várias ferramentas de gestão que devem entrar em cena para garantir um ambiente seguro, como código de ética, comunicação clara de metas e resultados e avaliações transparentes do colaborador.
F: O projeto que motivou o início da CogniSigns tem a ver com o autismo. Como foi esse começo?
LM: Existia uma ferramenta que os norte-americanos usavam nas universidades para identificar o autismo que nós queríamos levar para o Brasil e ajudar a causa. Neste ponto, é importante saber que a escassez de dados sobre o autismo é semelhante ao que acontece com a psicologia e com o marketing. Muitas vezes você simplesmente não tem informação. E essa ferramenta coloca dados na mão do profissional. Porém, ela tem um custo de R$ 70 mil, além de um software que exige R$ 30 mil por ano. Eu e a Andressa [Roveda, cofundadora da CogniSigns] já tínhamos uma metodologia que juntamos com esse protocolo americano para ajudar a causa autista.
F: Como funcionam os produtos que criaram para quem está fora da curva de aprendizagem?
LM: Criamos um software que ajuda a identificar a questão. Vencemos o StartOut Brasil, programa do governo federal para startups que desejam internacionalizar suas soluções e fomos para a China. Agora, estamos aqui nos Emirados Árabes desenvolvendo um trabalho com crianças superdotadas com o Eugênio, um chatbot que identifica possíveis traços de superdotação. No caso do autismo e da saúde mental, trata-se de um outro chatbot, a V.E.R.A, que faz a triagem para o diagnóstico preventivo. O que fazemos é encontrar as predisposições e, em seguida, trabalhar a inclusão dessas pessoas. Por meio de uma conversa, o chatbot V.E.R.A identifica sinais característicos de pacientes que estão dentro do espectro e alerta o usuário para que busque o diagnóstico. Nós vendemos e licenciamos os softwares V.E.R.A e Eugênio a profissionais de saúde e educação que são capacitados por nós na metodologia.
F: Você citou que uma pessoa de sua equipe identificou a ginasta Daiane dos Santos como superdotada. Como é o trabalho desenvolvido com essas pessoas?
LM: Fizemos uma derivação daquela metodologia que deu origem ao V.E.R.A para superdotação e criamos o Eugênio. A meta é encontrar crianças e adultos com altas habilidades. É isso o que estamos desenvolvendo nos Emirados Árabes: estamos descobrindo os futuros gênios. É importante ressaltar que existem diversos tipos de inteligência e de altas habilidades. Um exemplo é a Daiane dos Santos, que foi identificada como superdotada por um membro da nossa equipe antes mesmo da tecnologia existir. Ela foi identificada desde criança e tratada como superdotada pelo Comitê Olímpico e chegou onde chegou. O superdotado precisa de um tratamento diferente porque, por exemplo, quando está na escola e um professor vai explicar sobre células, ele já sabe o que é um citoplasma e obviamente acha a aula chata. Com o Eugênio, ferramenta que utilizamos com superdotados, identificamos as predisposições e aqueles que são identificados têm desafios diferentes em uma sala com um professor de educação especial. Quando você dá desafios a alunos com altas habilidades e eles se sentem motivados a participar ativamente da aula, eles sobem o nível do coletivo, porque se predispõem a ajudar o professor e os colegas.
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